A identidade do Ladrão das Mulheres
02/07/2008
Alice Lopes
Chegávamos à casa de Márcia Leal. O som da sirene da viatura que o Eduardo Mendes estava conduzindo ecoava na ruazinha. Lupa e eu descemos da mesma e nos despedimos de Eduardo Mendes.
— Quando estiverem prontos para voltar, avise-me. Irei ajudar os policiais no monitoramento da cidade. — Disse Eduardo Mendes.
— Certo. Boa sorte, Mendes. — Respondeu Lupa, que comia seu chocolate, depois de ser retirado do bolso.
— Até mais, seu merda. — Eduardo Mendes arranca o carro e nós dois nos viramos para a casa de Márcia Leal.
Ela era bem bonita. Era branca e as janelas pintadas de vermelho. Um jardim não muito grande enfeitava a casa ao redor, que tinha dois andares.
Fomos até a porta e Lupa bate na mesma. O som ecoante da madeira da porta era escutado, sendo acompanhado pelos passos de Márcia Leal, que corria em atender a porta.
— Detetive Lupa! — Ela disse espantada em nos ver.
— Bom dia, Dona Márcia. Como a senhora está? — Indaga o detetive.
— Estou bem. Aconteceu algo?
— Não se preocupe. Está tudo bem com a investigação. Mas para que ela possa chegar ao sucesso, eu preciso fazer algumas perguntas para a senhora.
— Oh… Sim… — Ela respondeu, abaixando a voz e a cabeça.— Por favor, entrem.
E assim nós fizemos. Por dentro, a casa era pintada de amarelo e tinha alguns móveis de madeira, dentre eles uma mesa de café, uma estante de rodinhas, onde fica a televisão e tinha um sofá xadrez com um tapete de forma oval.
— Querem alguma coisa? — Indaga Márcia Leal.
— Não senhora. — Lupa come o último pedaço de chocolate e nós nos sentamos no sofá.
Havia uma poltrona que ficava perto do sofá. Márcia Leal se senta na mesma e indaga:
— Do que gostariam de perguntar?
— Bem, dona Márcia. — Lupa limpa a garganta. — Eu preciso comentar com a senhora a respeito do dia em que foi assaltada pelo Ladrão das Mulheres.
— Mas, senhor detetive! Eu já fiz o interrogatório! — Ela responde, quase desesperada.
— Estou ciente disso, mas eu quero saber a que horas aconteceu esse assalto.
— Eu já não disse que foi pela manhã?! Às oito da manhã?! — Ela acaba reparando no erro que cometeu e estava com os olhos arregalados. Ficou paralisada e nisso, Lupa abre um sorriso.
— Dona Márcia. — Ele se levanta e começa a caminhar em círculos pela casa. — A senhora não me disse exatamente o horário que foi assaltada. Eu lembro que no primeiro dia, a senhora disse que eram às cinco da madrugada. Bem, posso dizer que às cinco o mercado nem pensa em funcionar aqui em Colina Verde, apenas às oito é que todos os mercados abrem. Agora eu lhe faço uma pergunta. — Ele para na frente dela, que estava constrangida. — Qual foi o horário exato em que a senhora foi assaltada? Se a senhora não me disser a verdade, eu posso descobrir aqui mesmo.
— Está blefando. — Ela disse, com a voz trêmula.
— Não senhora. Estou sendo sincero. Vou lhe perguntar mais uma vez e se não responder, eu irei deduzir a hora que a senhora foi assaltada. — Ele volta a caminhar. — Dona Márcia! — Lupa fala como um general. — A que horas a senhora foi assaltada em julho de 2007?
— Senhor Lupa… Por favor… Se… — Ela parecia nervosa. Deu para ver que o Lupa estava fazendo uma pressão psicológica nela. O que ele não faz para arrancar a verdade? Confesso que fiquei com pena dela. — Se eu revelar, o Ladrão das Mulheres vai me matar.
— Não se preocupe, Dona Márcia. Eu lhe garanto a segurança necessária. — Respondeu Lupa, parando de caminhar de novo e olhando para ela. — E eu sei que a hora que a senhora foi assaltada, foram às cinco da tarde.
Ela fica espantada, como se ele tivesse acertado.
— Mas… Como o senhor chegou nessa conclusão?
— E digo que acertei, pela reação que a senhora está tendo. É a mesma ao saber que ganhou na loteria, suponho. Mas vamos por partes. A causa deu achar que seja nesse horário é porque a senhora queria dizer que foram às cinco da manhã, mas como eu lhe disse, os mercados ainda estão dormindo. Então eu deduzi, com um fato que aconteceu antes de ontem que foram às cinco da tarde o momento do assalto. Isto porque a prostituta Gabriela Asa foi atacada nesse horário, junto com a argentina Emilia Marenguez e a Doutora Relógio.
Márcia Leal ficou espantada com a informação.
— Como elas estão? — Indagou.
— Emilia Marenguez está tranquila em sua casa, Doutora Relógio está trabalhando e eu logo irei visitar Gabriela Asa no hospital, mas não desvie do assunto, Dona Márcia. Apenas diga que eu acertei e minha colega e eu lhe deixaremos em paz.
Márcia Leal estava paralisada e impressionada com a dedução de Lupa. Pelo visto ele teria acertado em cheio no horário. Basta usar esse senso de lógica para acertar.
— Sim, senhor detetive. O senhor acertou. Foram às cinco da tarde o ocorrido. — Ela responde.
Lupa sorri satisfeito com a sua dedução e de repente, a televisão liga.
— Mas que rápido. A luz já voltou. — Comentei.
— Sim. — O celular de Lupa toca. — Alô? Sim, Senhor Bruno? — Ele arregalou os olhos. — Como suspeitava. Bem que eu desconfiava que seria essa pessoa. Obrigado, senhor Bruno. Agora eu vou arrancar algumas informações de Gabriela Asa e colocar de vez esse traste no xadrez. — Ele desliga o celular e olha para nós, que ficávamos esperando o que ele iria dizer. — Dona Márcia, minha colega e eu precisamos ir. Obrigado pela gentileza e desculpe o incômodo. — Ele me pega pelo braço, abre a porta e saímos da casa de Márcia Leal, deixando ela confusa.
— Lupa, o que houve? — Indaguei.
— Por favor, chame o Eduardo Mendes. Daí eu explicarei o que aconteceu. — Ele respondeu. Como ele é misterioso. Até com os amigos.
Pedi para o Eduardo Mendes nos buscar, falando com ele pelo celular.
— E então? — Indaguei, cruzando os braços.
Lupa sorri e responde:
— No momento que a luz voltou, o sistema apontou (nome censurado) como o dono daquela fantasia.
— Não acredito. — Respondi. — Isso explica por que o Ladrão das Mulheres não sabe brigar.
— Como sabe? — Ele fica surpreso com a minha dedução.
— Porque eu briguei com o Ladrão das Mulheres ontem à noite quando saí para comprar ração para a minha gata.
Lupa ficou me olhando e ele tirou do bolso mais um chocolate. Abriu e começou a comer.
Nisso chegou Eduardo Mendes e nós adentramos a viatura.
— Como foi o interrogatório? — Indagou Eduardo Mendes.
— Foi mais fácil do que tirar doce de criança. — Lupa ria.
Eduardo Mendes também dava sua risada e nisso, o detetive acrescenta:
— Se não for incômodo, meu amigo Mendes, preciso que me deixe no Hospital de Colina Verde.
— Por quê? Vai fazer exame de próstata? Está muito novo para isso.
— Mendes! — Dei uma cotovelada nele, ficando vermelha. Estava de carona e Lupa no banco de trás.
— Não é nada disso. Preciso fazer umas perguntas para Gabriela Asa.
— Certo, certo. Pergunta para ela quanto cobra a hora. — Eduardo Mendes ri e eu fico constrangida.
Ele é muito bagageiro, sério mesmo.
×××
02/07/2008
Gabriela Asa
Estava quase dormindo quando vejo a luz retornar. Nisso, fiquei acordada. A enfermeira vinha apagar a luz, mas eu pedi que a deixasse acesa.
— Gabriela, você tem visita. — Veio outra enfermeira. Fiquei surpresa, ao saber que alguém viria me visitar. Mas quem?
Nisso apareceu ele. Abri meu sorriso ao vê-lo e as médicas saíram da entrada do quarto.
— Meu detetive! Como está lindo! — Comentei.
Isso o deixou sem graça, mas depois ele põe a mão no bolso e parece decepcionado. Já sabia o que era. Chocolate.
— Tem chocolate que eu ganhei de uma freira. Está na gaveta aqui do lado. — Apontei para a mesma e Lupa abriu. Pegou um bombom e o colocou por inteiro na boca.
— Obrigado, Dona Gabriela. É muito gentil de sua parte.
— Já disse para parar de me chamar assim, homem. Eu sou mais velha que você, mas com pouca diferença de idade. — Respondi quase irritada.
— Bem. — Ele limpa a garganta. — O motivo da minha visita é que eu queria lhe dizer que encontramos a identidade secreta do Ladrão das Mulheres.
— Mesmo? E quem é?
Ele se aproximou do meu ouvido e cochichou o nome.
— Sério?! Aquele cara de espantalho? Bem, eu neguei que ele transasse comigo porque ele não sabia fazer direito. Ele também era muito afobado e queria agarrar meus peitos com força, queria me levar à loucura, mas eu vi que ele era muito violento e parecia estar na seca.
— Mesmo? Faz quanto tempo isso? — Indagou Lupa.
— Há algumas semanas. Eu também soube que ele era casado e eu não era esse tipo de pessoa que pegava casado. Eu também tenho requisitos para satisfazer meus clientes.
— Entendo. — Lupa se senta numa cadeira que tinha por perto. — Agora veio mais uma pergunta, ou melhor, uma dedução minha, mas isto é particular.
— Ah, meu detetive. Fale para a mim. — Digo em voz manhosa.
— Darei-lhe 50 reais para não lhe contar.
— 100.
— Fechado. Farei um depósito na sua conta depois. Mande depois os dados dela.
— Claro. Quando eu receber alta do hospital.
— Ótimo. Agora estou indo, mas prometo ver como está sua recuperação.
— Lupa. — Falei, depois de ter pensado um pouco. — Tem como trazer a Relógio? Eu queria agradecer por ter me ajudado.
Ele ficou me olhando durante alguns segundos e balançou que sim com a cabeça.
— Vou falar com ela hoje. — Ele respondeu e saiu do hospital.
— Tchau, meu detetive lindo! — Mandei um beijo para ele, que tinha saído.
Nossa, como o meu detetive é frio comigo. Mas eu adoro esse jeito dele.
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02/07/2008
Detetive Lupa
Estava na minha escrivaninha. Já era quase meio-dia e tinha muito o que pensar. Precisava coletar as provas necessárias e para isso, tinha que fazer uma reflexão e elaborar um parecer da causa dessa pessoa ser presa. Tudo tinha que correr de maneira certa e como eu abracei o caso, junto com a minha equipe, tinha que dar uma boa impressão.
Primeiro, analisei o ocorrido com a Gabriela Asa e as demais. Foram atacadas por volta das cinco e meia da tarde. O Ladrão das Mulheres teria atingido Gabriela Asa com um tiro. Logo eu deduzi que ele vinha atrás dela, mas não somente dela como também das mulheres. O motivo é que essa pessoa sofria abusos de sua mulher e sim, eu sei muito da vida dele porque ele me via como seu psicólogo, já que tenho conhecimentos em psicologia. Ele então jurou vingança e uma resposta forte. Por ter sofrido com a sua esposa e ter sido rejeitado por Gabriela Asa, queria se vingar de ambas. Matou a mulher e queria matar Gabriela Asa, mas por sorte a Doutora Relógio ajudou ela, que agora está se recuperando.
Segundo fato foi que o Ladrão das Mulheres vinha atuando há muito tempo, mas eu teorizo que a princípio era por causa de sua mulher. Cada vez que ele sofria esses abusos de sua mulher, ele descontava nas de Colina Verde. Mas então por que não a matou? Muito simples. Eles moraram em Colina Verde até um certo período de tempo e eu conseguiria acusá-lo de homicídio. Os bandidos estão mais espertos do que antes. A maioria deles foi eu quem os botou na cadeia. Tenho poucos amigos, mas muitos inimigos, no entanto não me importo. Faço qualquer coisa para proteger Colina Verde.
Terceiro fato, o Ladrão das Mulheres reaparece para se vingar de Gabriela Asa depois de ter matado sua mulher. Gabriela Asa disse que ele era casado, mas ela não sabia que ele tinha matado sua esposa. Por conta das sequelas do rancor que essa pessoa sentia pela sua mulher, ele queria matar Gabriela Asa por ter o rejeitado. Estava no auge de se achar superior a uma certa classe e foi o que aconteceu. Queria matar Gabriela Asa, mas esta foi salva pela Doutora Relógio e se deu mal.
Mas o motivo dele agir assim agora, aterrorizando Colina Verde? É porque ele quer justamente me intimidar. Disse para eu tomar cuidado com o Ladrão das Mulheres, mas não sabia a princípio se essa pessoa era ou não o Ladrão das Mulheres. Agora que as peças estão se encaixando, posso ter uma visão clara disso.
Agora que tudo está esclarecido para o leitor e para mim, posso pensar no meu plano. Liguei para o celular de Alice Lopes, que estava com Eduardo Mendes monitorando a cidade.
— Lupa? O que foi? — Indagou a detetive.
— Deixe o celular no viva-voz. Preciso falar com os dois. — Respondi. Estava na delegacia porque queria um tempo para analisar os fatos com Bruno Jalkh e refletir sobre o caso. — Muito bem. O plano é o seguinte. Às cinco da tarde vamos parar de monitorar a cidade. Iremos até a casa de nosso suspeito para ver ele sair de lá já fantasiado de Morte e assim, nós damos voz de prisão. Mas precisamos agir cautelosamente. Qualquer movimento brusco vai despertar a suspeita dele de que nós estamos o acusando.
— Falou e disse, seu merda.
— Certo. Ainda é meio-dia. Se quiserem almoçar, podem ir. Eu ainda preciso preparar o parecer de acusação e daqui a pouco vou almoçar.
— Está bem. Até mais, Lupa. Bom trabalho. — Respondeu Alice Lopes e eu desliguei o celular.
— Lupa. — Veio Ketlin Mahoney até minha escrivaninha, com uma voz gentil. — Você não quer que eu faça o parecer?
— Não será necessário, Ketlin Mahoney. Eu mesmo posso…
— É que você trabalha duro. Nós estamos sempre dependendo de você. Por que não vai almoçar? Pode deixar o resto comigo.
Olhei para ela e vi que estava sendo gentil comigo. Decidi aceitar sua oferta.
— Está bem, Ketlin Mahoney. Pode fazer o parecer. Aqui estão todas as anotações que fiz durante a investigação. Deixo tudo em suas mãos agora.
— Pode deixar. — Ela sorri para mim e nisso, vejo ela levar para Jane Marple.
Eu já sabia. Ketlin Mahoney não costuma fazer isso para mim, mas Jane Marple é quem maisnse preocupa comigo. Viu eu ter abraçado o caso do assassinato de Marta Passoni e agora ela decide fazer algo para me ajudar no caso do Ladrão das Mulheres.
Bati meu ponto e nisso, saí para almoçar. Sim, precisava desestressar um pouco e a hora era agora.
×××
Já eram cinco horas da tarde. Eduardo Mendes estava dirigindo a viatura e eu estava no banco do carona para orientar onde ficava o suspeito. Sim, eu sabia onde ele morava, por isso, leitor, logo saberá de quem estou falando. Prepare suas teorias, pois a bomba vai explodir.
Olhei no retrovisor e vi Alice Lopes olhando para a janela perdida em seus pensamentos. No mínimo deve estar se lamentando de não estar com o seu carro, afinal ela me disse que gosta de dirigir.
— Agora é só virar à esquerda, não é? — Indaga Eduardo Mendes.
— Não vire. — Respondi.
— O que foi agora, seu doido?
— Se o nosso culpado suspeitar que nós o encontramos como Ladrão das Mulheres, ele vai se antecipar em fugir. Vamos deixar a viatura estacionada na esquina mesmo e eu já tenho uma ideia para prendê-lo.
— E qual seria? — Indaga Alice Lopes, que parecia ter voltado para a realidade.
Comecei a contar meu plano para os meus colegas:
— Vou fingir que estou fazendo uma visita amistosa e começo a conversar com ele sobre um assunto aleatório na porta. Quando eu der o sinal, vocês o prendem.
— Que tipo de sinal seria? — Indaga Eduardo Mendes.
— Uma tosse. Quero que fiquem escondidos nas duas árvores que tem nos lados opostos da casa dele.
— Certo. Esperaremos pelo sinal. — Responde Alice Lopes.
Nisso, saímos do carro e fomos colocar o plano em prática. Da mesma forma que o Ladrão das Mulheres agiu de forma discreta, eu, Detetive Lupa, farei o mesmo.
Meus colegas se esconderam nas árvores e a sorte que o suspeito estava dentro de casa. Não tinha dado nenhum sinal de que estava na janela ou na porta. A casa dele tinha um jardim com duas árvores não muito grandes, cheias de folhas. Havia algumas flores, mas a maioria eram girassóis. A casa era pintada de roxa e o telhado cor rubra, com uma chaminé no alto. As portas e janelas eram escuras. Confesso que acho essa casa muito sombria.
Bati na porta e quem abriu foi o nosso suspeito. Abri um sorriso para ele e disse:
— Boa tarde, meu amigo.
— Oh, Detetive Lupa. — Ele parecia um pouco tenso. — É um prazer receber o senhor aqui em casa.
— Bem, o caso que estou investigando está consumindo minha mente. Decidi limpá-la visitando um velho amigo.
Ele abriu um sorriso, mostrando sinais de tensão. Agora que eu pego ele.
— Fico lisonjeado com a sua presença, senhor Lupa. Pode entrar, o senhor está em casa. — O suspeito deixa eu entrar em sua casa e ela tinha as mesmas cores do lado de fora, mas com uma tonalidade mais escura.
— Bem, no que posso ajudá-lo? — Indaga o suspeito, sentando-se no sofá que era de couro com coloração bege. Eu ainda estava de pé.
— Bem, apenas queria comentar uma coisa com o senhor. — Comecei a pensar. — O que o senhor faria se fosse o Ladrão das Mulheres?
Ele pareceu surpreso com a minha pergunta. Acho que entreguei que suspeitava dele, mas não me importava. Com as mãos juntas e para trás, algemadas ele sairia.
— Bem, senhor Lupa. Por que a pergunta? — Ele indagou, parecendo suspeitar de algo.
— O senhor não sabe? Estou perguntando para as pessoas o que elas fariam para ter uma noção de como se comporta este tipo de pessoa. Tem alguém que suspeito quem seja, até porque ele tem indícios?
— Quem? — Ele cruza os braços.
— Não posso revelar. É confidencial.
Ele começou a querer entender o que eu estava falando para ele. Peguei um chocolate e comecei a comê-lo.
— O senhor não respondeu minha pergunta. — Comentei.
— Bem, primeiro porque não há razão de ser como ele. — Respondeu o suspeito. — Eu não sei brigar, não sei nem manusear uma arma. — Ele afirma esse último argumento, piscando. Ali eu já estava suspeitando.
— Entendo. Mas o senhor iria querer fazer da vida das mulheres de Colina Verde um inferno? — Indaguei, alterando um pouco minha voz.
Ele ficou me olhando pensativo e negou com a cabeça, mas ele tinha desviado o olhar para mim. Começou a brincar com as mãos e já era claro seu nervosismo. Caso encerrado, meu caro leitor. Achamos nosso suspeito.
— Bem, acho que isso é tudo. — Disse.
— E o senhor? — Ele me pergunta. — O que faria se fosse o Ladrão das Mulheres?
Ele sabia do meu passado porque eu já o contei para ele. Muitas mulheres se aproveitaram de mim para benefício próprio, principalmente a Relógio. Por isso nos odiamos e nos consideramos rivais.
— Olha, primeiro que não tenho esses pensamentos de querer matar mulheres. — Respondi. — Tive meus desentendimentos com as mesmas, mas não posso generalizar que todas são iguais. Ao contrário que a maioria delas pensa que os homens são todos iguais e pode ser que os homens pensem que as mulheres não todas iguais, eu discordo totalmente dos dois lados. Se fosse assim, eu sairia matando todo mundo. — Comecei a rir e engoli meu último pedaço de chocolate.
O suspeito ficou pensativo sobre o que eu tinha comentado com ele agora.
— Bem, acho que é isso. Uma breve filosofia de vida, quem sabe, mas eu sou policial, não filósofo. Preciso continuar meu trabalho. — Fui me virar para abrir a porta e nisso, escuto um barulho de arma apontando para a minha cabeça.
— Parece que o senhor é mais esperto do que dizem, Detetive Lupa. — Disse o suspeito.
Abri um sorriso e ele parece não ter gostado.
— Você consegue rir mesmo que esteja com uma arma apontada em sua cabeça?
— Eu sei que você não vai atirar em mim, porque se fosse assim, já teria feito na primeira vez que nos encontramos quando abri a investigação do Ladrão das Mulheres.
— Do que está falando?
— Você não tem coragem de atirar. Se tiver, atire. — Estava disposto a colocar minha vida em risco, mas sabia que ele não iria fazer, já que muito estive presente na vida dele e sempre o ajudei no que precisava.
Ele estava pronto para atirar, mas estava trêmulo. Nervoso. Preocupado. Senti isso nele, porque ele tinha hesitação em atirar em mim. Não o culpo por isso. É uma pena que ele tenha seguido o lado do mal. Vai saber o que o futuro lhe aguardava.
— Eu vou contar até três e vou atirar.
Coloquei a mão na maçaneta e girei devagar, sem fazer ruídos ou gerar movimentos bruscos. Uma pessoa nervosa, ao ver esses tipos de movimento, fica desesperada. Como não queria que ele notasse, coloquei meu corpo devagar em um ponto cego para ele não ver minha mão girando a maçaneta.
— Um…
— Dois, três, não é?
Ele sorri e indaga:
— Quer tanto morrer? Pois irei satisfazer seu desejo.
Quando ele ia atirar, eu abro a porta e ele solta o tiro em um caminhão que passava, mas foi na caçamba. O caminhoneiro não iria perceber. Comecei a tossir desesperado e caí no chão, encenando que estivesse tendo algum problema cardíaco ou algo do tipo.
— Baixou a guarda! — Ele grita, animado e quando ele ia atirar, escuto a voz da minha amiga.
— Ponha as mãos na cabeça, soltando a arma agora! — Ela grita, apontando a arma para ele. Eduardo Mendes fazia o mesmo. Ela pisca para mim e eu me levanto, pegando a arma dele que tinha sido jogada no chão.
Ele estava com as mãos na cabeça e eu me aproximei dele, falando:
— Você não pode competir comigo, Expedito Ferreira. Sim, você fez um crime bem inteligente, mas não pode contra mim. Você está preso por tentativas de roubo, estupro e homicídio. Sua ficha não vai ficar muito bela não. O que sua esposa pensaria? Você a matou, depois de ter sofrido com os abusos dela, em seguida começou a descontar sua raiva nas mulheres em Colina Verde fazendo os três tipos de violência que os bandidos mais cometem: Roubo, homicídio e estupro. Um ano se passou e você pediu para Gabriela Asa que ela fosse dormir com você. Ela pensava que você estava casado ainda e o negou. Com o seu forte trauma, você jurou vingança, o que foi sem sentido e quase a matou. Vendo que tinha fracassado, começou a descontar mais dessa sua decepção nas suas mulheres e na minha colega, porque estou a par de tudo. — Comecei a pensar um pouco. — Você vai passar bastante tempo na cadeia, ainda mais que tem várias testemunhas. Era notável que você fosse o Ladrão das Mulheres, já que você tem o corpo esguio e é dependente de armas para se defender.
— Eu sabia que não poderia contra o senhor, mas me esforcei para que…
— Sim, eu sei. Chegou a me intimidar, dizendo que o Ladrão das Mulheres era perigoso e até me deu presentinho. Bem, pessoal, tirem esse homem da minha frente. Não acredito que perdi alguns minutos da minha vida para ajudá-lo e é assim que ele retribui. Estou decepcionado, Expedito Ferreira. Muito decepcionado. Você perdeu para mim. Agora vamos ver como vai se sair contra a Relógio.
Eduardo Mendes leva Expedito Ferreira para a viatura e algumas pessoas ao redor olhavam mais um feito meu. Finalmente conseguimos descobrir quem era o Ladrão das Mulheres.
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02/07/2008
Alice Lopes
Depois que prendemos Expedito Ferreira, Lupa me convidou para ir até o hospital ver como está Gabriela Asa. Ele pediu aos médicos para darmos uma última visita para ela. Iria receber alta na semana que vem. Eles concederam nosso pedido e depois que terminou o expediente, fomos para as nossas casas relaxar um pouco e depois nos arrumamos para ir até o hospital para ver como está Gabriela Asa.
Desta vez nós fomos de táxi. Lupa estava no carona e eu no banco de trás. Carregava um bolo de chocolate para levar para ela. Iríamos comemorar que na semana que vem ela estará livre do hospital.
Estava usando um casaco de couro de cor amarela, uma calça jeans e tênis esportivos. Gostava de usar tênis, quando não usava meus sapatos de salto alto. Lupa usava um chapéu e um sobretudo, ambos da cor cinza. Tinha sapatos pretos e calças também cinzas. Fomos conversando, até que chegamos no nosso destino.
— Quanto deu? — Indaga Lupa.
Quando ele pagou o taxista, fomos até a recepção e informamos que iríamos ver a paciente que iria receber alta. A recepcionista nos liberou e assim fomos.
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02/07/2008
Gabriela Asa
Estava vendo o Programa do Ratinho, que eu gostava de assistir, em uma televisão que tinha na parede. Ficava vendo e rindo. Achava engraçado o que se passava no programa dele, foi quando eu escutei alguém bater na porta.
O controle estava do meu lado. Peguei ele e baixei o volume da televisão.
— Pode entrar! — Exclamei.
Uma enfermeira abria a porta e me informava que tinha visita para mim. Mas quem poderia ser a essa hora? Será que era o meu detetive? Acho que ele se apaixonou por mim e se faz de inocente.
Nisso, entrou ele e mais Alice Lopes. Confesso que eu admiro ela como mulher. Sempre gentil com os outros e eu não acredito que ela fez um bolo para mim! Fiquei encantada com o presente e não aguentei e comecei a chorar. Minha família me abandonou quando eu era uma criança ainda. Fui criada em um orfanato e depois saí quando fiz 18 anos. Comecei a trabalhar em vários lugares diferentes, foi quando não conseguia mais emprego e aos 27 anos comecei a trabalhar como prostituta. Conheci o Lupa quando ele começou a atuar como policial. E que homem! Já me defendeu e esteve comigo várias vezes.
— Querida! Está chorando! — Disse Alice Lopes, que larga o bolo no criado-mudo que tinha do meu lado e me abraçou. Lupa ficou olhando, sorrindo para mim.
— Espero que esteja bem, Gabriela Asa. — Ele disse.
— Estou sim, meu detetive. — Respondi entre lágrimas.
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02/07/2008
Detetive Lupa
Estávamos conversando com a boca e barriga cheia de bolo. Sabor chocolate, o meu favorito. Bem, deu para o leitor perceber que eu adoro chocolate e sim, eu adoro.
— Quanto ao caso do Ladrão das Mulheres? Já resolveram? — Indagou Gabriela Asa.
— Sim. Está tudo certo. Agora ele não vai incomodar mais ninguém. — Respondeu Alice Lopes.
— Ainda bem. Imagina se ele invade o hospital.
— Ele não iria fazer isso, porque ficaria óbvio para mim. Ele queria evitar que eu o investigasse, mas se enganou. — Coloquei um pedaço de bolo na boca e mastiguei.
— Quem era o Ladrão das Mulheres?
— Expedito Ferreira. — Respondeu Alice Lopes.
— Sério? Aquele bunda-mole era o Ladrão das Mulheres? Minha nossa, ele deve ter temido muito o Lupa.
Abri um sorriso e fui cortar mais um pedaço de bolo.
— Lupa, chega. Você comeu três pedaços já. — Disse Alice Lopes, segurando minha mão.
— Ele pode comer quantos quiser. Eu deixo. — Gabriela Asa ri.
— Está bem, mas só mais um.
— Alice, eu tenho 32 anos. — Cortei um pedaço e coloquei em meu prato.
Gabriela Asa começou a rir, por causa do modo que Alice Lopes me tratou há pouco. Ela não disse nada, não gostava de brigar e de discutir. Meu Deus, essa pessoa era um anjo mesmo.
— Gente. — Disse Gabriela Asa. — Obrigada por terem vindo me visitar.
— Não foi nada, Gabriela Asa. Nós somente…
— Isso foi muito importante para mim. Eu nunca tive uma festa de aniversário, um Natal, um Ano Novo ou uma Páscoa para comemorar. Eu sempre passei esses dias batido para mim. Olhava para as famílias que estavam felizes e eu sozinha.
Olhamos com pena para ela e nisso, Alice Lopes indaga:
— Quando você faz aniversário.
— Dia 7 de janeiro.
— Vamos fazer uma surpresa para você nesse dia. — Respondeu Alice Lopes.
— Bem, se quiser pode passar o Natal comigo. Eu sempre passo sozinho, já que não tenho contato com os meus familiares.
Gabriela Asa cora e afirma que irá fazer isso mesmo. Sorrio para ela e acrescento:
— Posso dizer que você agora ganhou dois amigos. Você não tem família, mas não é a genética que define e sim o caráter. Se somos seus amigos, também somos sua família. Não se esqueça disso.
Gabriela Asa estava emocionada agora. Começou a chorar e nisso, Alice Lopes e eu fomos abraçá-la.
— Obrigada, gente. Eu amo vocês. — Ela disse.
Alice Lopes estava quase chorando também, mas eu estava com o pensamento no além. Não sei por que me veio isso. Comecei a pensar como seria Colina Verde daqui a dez anos. Desnecessário isso, mas fazer o quê?
Depois desse momento de sentimentalismo, começamos a olhar um filme que estava dando na televisão. Mas não ficamos muito tempo. O hospital fecha às onze e nisso, nos despedimos de Gabriela Asa e deixamos o bolo com ela. Uma das médicas se encarregou de guardá-lo na geladeira e nós dois, Alice Lopes e eu, saímos do hospital.
Mas não pense que a estória acabou, leitor. Ainda temos mais contos pela frente.