5. Voltando Dos Kent
No caminho de volta, Mason se viu preocupado com o estado de Ayla, que estava enjoada e pálida ao seu lado. Tocou seu rosto de leve, a pulsação dela estava longe de estar normal e ela estava gelada. Pediu a Samarina que alcançasse sua jaqueta, ao seu lado no banco de trás. Sama, que vinha encarapitada entre os dois, olhou torto para o xerife quando o viu dirigir com os joelhos enquanto cobria sua amiga, o que Mason fez de conta que não viu.
– Pegou a chave? - perguntou a ela, enquanto olhava de canto para Ayla encolhendo-se debaixo do tecido macio da jaqueta.
- Sim, vou entrar e ver onde está o Sr. Greenwood – disse Samarina – vou atualizando por mensagem, abro a porta dos fundos, e você faz essa sua "mágica" - ela percebeu que Ayla havia relaxado e adormecido, observou quando o xerife alcançou uma mecha do cabelo de sua amiga, afastando-o dos olhos – tenho a impressão que o senhor não ouviu o que eu disse... xerife! Olhos na estrada! - deu um tapinha na mão de Mason.
– Se tem algo que faço bem, é ouvir – ele resmungou, distraído – espero que tenha pensado no que dizer ao pai dela, não seria bom que ele visse a filha nesse estado.
– Não se preocupe, eu me entendo com o Sr. Greenwood – só precisamos que você a leve até o quarto e evapore, sei que você é bom em não deixar rastros também, xerife.
Mason parou o carro em um meio termo entre a casa dos Greenwood e a sua, e esperou Samarina descer e ir, acionou o portão eletrônico e em seguida entrou na garagem, onde havia estacionado um carro esportivo e também uma moto. Deu a volta no veículo e em seguida pegou Ayla no colo. Pensou que ela deveria estar exausta, e sua vontade era de levá-la imediatamente para Stacy, se, pelo menos, tivesse certeza de onde a bruxa estava, não a via à semanas. Saiu pelos fundos e saltou suavemente para cima do muro entre as duas propriedades, em seguida aterrizou do outro lado com facilidade, sem nem mesmo perturbar o sono de Ayla.
Conseguiu ouvir os passos de Samarina, enquanto passava pelo caminho feito de madeira rústica que levava a piscina, indo parar em um salão aberto, e segundos depois ouviu a porta destrancar. Passou silencioso enquanto Sama sussurrava que fosse pelo corredor e depois à escada, que ficava a direita, mas ele sabia bem onde ficava, bastava ir pelo cheiro. Subiu a escada rapidamente e em segundos estava no quarto de Ayla. Um meio sorriso brincou em seus lábios quando viu que a maneira que a cortina estava afastada, dava a ela uma clara visão do seu quarto. Deitou-a na cama, e em seguida tirou os tênis com cuidado, cobriu-a e ouviu a conversa no andar de baixo.
– Ah, mil desculpas, Sr. Greenwood! - era Samarina – houve um pequeno acidente, fomos jantar na casa das meninas, e veja só! Eu sem querer deixei cair molho no vestido da Ayla! - Mason riu silencioso da maneira que a garota falava, qualquer um acreditaria sim, que elas estavam em uma noite das garotas.
– Isso acontece – o homem falou despreocupado – bom, Sama, fique à vontade, vou voltar para o que estou escrevendo, qualquer coisa que precisarem, podem me chamar, certo?
– Eu pensei em fazer um chá, para tomarmos antes de dormir – ela falou claramente afastando-o de perto da escada – posso levar um para o senhor também, tem alguma preferência?
Percebeu os passos do dono da casa de distanciando e logo os de Sama subindo a escada, não demorando a entrar no quarto, e fechar a porta atrás de si. Ela respirou fundo.
– Como ela está?
– Na mesma….
– Bem xerife, eu assumo daqui – Mason viu que ela tirou um pequeno frasco da bolsa que estava em cima da escrivaninha.
– O que é isso?
– Eu chamo de “Banimento Líquido”! - ela respondeu, animada – é sempre bom ter à mão, sou uma bruxa afinal, nunca sei o que podem tentar me servir nos lugares que costumo ir.
– Infernum é um lugar perigoso – concordou, pensando que ele mesmo não havia ido a boate desde a última Lua Cheia – espero que isso a ajude.
– Agora vá, xerife – apontou a janela – já fez seu papel de herói hoje.
Foi em direção a janela, abriu-a, deu uma última olhada em Ayla e saltou para o outro lado, demorando-se um momento até que ouvisse a voz dela, enquanto Sama a acordava. Então sentiu uma forte pressão na cabeça como se seu crânio pudesse explodir e depois caiu de joelhos. Suas presas rasgaram involuntariamente seus lábios, suas mãos dolorosamente iniciaram a transformação e seus olhos azuis tornaram-se dourados. Em seus pulsos o feitiço que o impedia sua fera de dominá-lo parecia romper, e assim os selos e grilhões mágicos, pareciam queimar em seus pulsos e tornozelos. Mason ouviu sussurros e imaginava o quão forte era seu inimigo, enquanto percebia que a medida que seus rosnados tornavam-se um poderoso e assustador uivo, sua consciência era alterada, e em segundos deixaria de ser homem, pois a fera estava assumindo controle.
Mais lobo do que homem, ergueu-se, o tecido da camiseta rasgando-se assim que viu-se cercado por bruxas, ouviu a janela fechando-se bruscamente e o cheiro do medo invadiu seu olfato, ele sabia havia um elo fraco entre aquelas bruxas e rapidamente avançou para ela, cabelos loiros, cobriram-se de sangue enquanto o gosto satisfatório de sua presa e a sensação de que o ataque enfraquecera.
– Ainda podemos capturá-lo – ele ouviu a voz de uma delas – aguentem firme!
O lobo avançou para ela e antes de ser repelido arrancou-lhe a cabeça, e quando ouviu dois baques secos no chão, pensou que devia no mínimo uma cerveja à Ivan, que ainda se alimentava de outra bruxa depois de ter rasgado o pescoço da ruiva que possivelmente era a mais forte delas.
– Mason? - Ivan largou o corpo sem vida da bruxa no chão, e olhou para ele sem entender – minha nossa, você está perdendo o jeito, companheiro...- afastou-se ligeiramente quando percebeu que a besta ainda dominava o xerife, e rosnava ameaçadora para ele – vamos lá, não me sinto muito à vontade com sua forma bestial, se puder se recompor e me ajudar a limpar a bagunça, agradeço.
Ainda levou algum tempo para que Mason retornasse a consciência humana e enquanto Ivan falava com Stacy ao telefone, ele explicava a ela o que havia acontecido, então, minutos mais tarde a bruxa encontrou-os dentro da casa do xerife. Todos ali sabiam que aquele ataque só mostrava o quanto as bruxas humanas haviam se fortalecido nos últimos anos para ousarem atacar um sombrio, Mason ouvia e concordava com as medidas de Ivan e Stacy para resolver a situação e se livrar dos corpos, mas algo o alertava que aquele ataque não fora apenas uma caça a lobisomens, havia um motivo forte para que as bruxas se arriscassem, tinha sua teoria, e a certeza que não parariam.