6. Pudim da Ayla
Ayla estava deixando o ginásio de esportes depois de ensaiar a coreografia por tempo demais, sua vontade era chamar Lane para uma conversa, pois em sua opinião a veterana exagerava quando cobrava que as meninas se esforçassem à exaustão. Annie havia torcido o tornozelo e outras integrantes da torcida vinham se machucando a cada ensaio, e Ayla pensava que se continuassem assim logo não teriam nem as reservas em condições de se apresentar. Ia na frente de um grupinho animado que combinava alguma festa, tentando ignorar quando falavam seu nome enquanto faziam uma lista de quem queriam convidar.
A última ainda era um grande mistério para ela, não lembrava de quase nada, e pensava o quanto deveria estar chapada, afinal a sensação de que havia um grande vazio entre o momento em que estava tentando convencer o xerife a manter sua escapada para o sítio dos Kent em segredo e o momento que acordou no dia seguinte ainda a intrigava. E não era só isso. Havia um pesadelo recorrente nos últimos dias, onde passos pesados fora de sua casa a atormentava, e um uivo que se repetia diversas vezes, cada vez mais alto e assustador, até que acordasse. Só a lembrança já provocava calafrios, e tudo o que desejava era uma noite bem dormida desde então.
Viu quando Samarina se aproximou dela, e pensou que a direção já devia ter desistido de chamar a atenção quanto ao seu uniforme “customizado”. Enquanto Ayla vestia shorts, camiseta da torcida, tênis e meias com o emblema da escola, Samarina usava gravata com a estampa de teia de aranha, cinto de tachinhas, meia arrastão e coturnos. A camisa formal, e a saia de pregas eram de longe as peças mais normais que ela usava.. Quando parou para cumprimentar a amiga, logo foi cercada por algumas garotas da torcida e claro, pela própria Lane.
– Vamos a uma boate em Creek Valley – Lane disse, chegando mais perto de Ayla – Você vai?
– Duvido que nos deixem entrar – Ayla deu de ombros.
– Na verdade, tenho um contato lá – ela continuou, orgulhosa – podemos entrar, sem problemas.
– Na Venus, né? – Samarina disse sem se importar com o olhar de cima a baixo que Lane lhe dirigiu e depois concordou – lá é legal, mas claro, nada comparado à Infernum.
Foi como se ela tivesse atiçado um vespeiro, quase que imediatamente perguntas sobre a famosa Infernum bombardeavam Sama, que tranquilamente esperou que elas obedecessem Lane e ficassem caladas, e perguntou em seguida:
– Você – ela enfatizou a palavra você, como se não pudesse acreditar que Samarina já tivesse ido à boate – sabe onde fica a Infernum?
Ayla riu silenciosa, Infernum era um local para qual as pessoas iam somente se fossem convidadas, enquanto namorava Ash, haviam recebido o convite algumas vezes, mas em todas as ocasiões já haviam planejado alguma algo, mas ela havia ouvido falar que o lugar era realmente muito bem frequentado.
– Também tenho contatos – Sama piscou para Lane, e olhou de canto para Ayla que divertia-se com a conversa.
– Bom, quem sabe não podemos unir esforços para conseguir entrar para a lista de convidados – ela alcançou o celular para Samarina – me passa o seu número, vou te adicionar – e claro, está convidada para a festa que vou dar na sexta, lá em casa. Você vai, né Greenwood?
– Claro – Ayla acenou positivamente com a cabeça – não perderia por nada! – ela sorriu para a Srta. Walker que ia se aproximando do grupo.
Justine Walker, era uma solteirona, uma das fundadoras da Associação das Senhoras de Helltown, envolvia-se em várias atividades, como por exemplo o ensaio do coral do colégio. Ayla notou as caras de desespero de algumas das meninas enquanto a mulher se aproximava.
– Senhoritas, antes de irem para suas casas – ela fez uma pausa e sorriu, altiva em seu terninho azul – quero cumprimentá-las pelo excelente time! Todas extremamente talentosas e lindas!
A Srta. Walker falou por longos minutos sobre como era o uniforme da torcida quando ela mesma fez parte do time, há, pelo menos, algumas décadas!
– Bem, mas hoje são vocês as nossas estrelas! – fez um gesto abrangente dirigindo-se as garotas já impacientes – E hoje venho orgulhosamente trazer a vocês uma notícia maravilhosa! Vocês, garotas, apoiarão nossa equipe júnior de futebol.
– É uma honram Srta. Walker! – disse Lane – meu irmão mais novo é quarterback e ficarei feliz em apoiar a equipe no sábado!
A maioria das garotas tinha alguém da família no time e se dispôs imediatamente, mesmo não sendo obrigatório a presença da equipe principal, já que era um jogo amistoso com um colégio de uma cidade vizinha. Combinavam ensaiar algo novo, simples e vibrante para a ocasião, começando no dia seguinte e quando Ayla imaginou que seria dispensada a Srta. Walker continuou:
– Tenho aqui também a lista das garotas que irão compor nosso coral esse ano – em seguida ela começou a chamar uma por uma lembrando do horário dos ensaios e parabenizando uma por uma.
Enquanto estavam saindo de perto do grupo, Ayla quase engasgou quando ouviu o claramente o nome da amiga em alto e bom tom: – Samarina Wellborne!
– Ah, acho que não…. – Sama olhou para a Srta. Walker como se a mulher estivesse louca.
– Tenho certeza que sim, Srta. Wellborne! – a mulher olhou para Sama, que aproximou-se para olhar a lista que a outra tinha em mãos – conversamos sobre a senhorita não participar de muitas atividades extracurriculares, lembra?
– Lembro da conversa – Sama olhou de canto para Ayla, que encolhia-se segurando o riso a alguns passos de onde estavam – não de ter concordado em participar do coral!
– Bem, a senhorita precisa participar de atividades, eu preciso de garotas para o coral! – Justine Walker sorriu calorosamente – e claro, Srta. Greenwood!
Foi a vez de Samarina segurar o riso e Ayla olhou incerta de que Justine não estava brincando.
– Sua mãe me informou quando fez a sua matrícula que a senhorita inclusive já fez parte de um coral!
– Há uns dez anos… isso é sério? – Ayla tinha certeza que a mãe estava fazendo isso para provocá-la.
– Muito sério, Greenwood – Lane se aproximou como se não entendesse o porque de Ayla não parecer satisfeita em cantar no coral – o coral é uma tradição local, assim como a torcida!
– Se você diz… – Ayla resmungou enquanto a Srta. Walker terminava de dar as orientações antes de então dispensá-las.
No caminho para casa, Ayla ouvia Sama reclamando sobre ter que participar do coral, e dizendo que já havia desviado-se do caminho do pessoal do clube de fotografia e do jornal da escola. Ayla riu do jeito que ela falava que havia se escondido no banheiro dos meninos enquanto Mandy, do clube de ciências a perseguia pelo corredor. Logo Sama a lembrou que tinha prometido que iria fazer pudim com calda de caramelo, e então passaram no mercado antes de irem para a casa dos Greenwood.
Ayla estacionou o carro em frente de casa enquanto ouvia Samarina tagarelando ao telefone, dizendo à mãe o quanto estava indignada com aquela história de coral, pode ouvir a risada da Sra. Wellborne do outro lado, e palavras de encorajamento em seguida, depois disse que não abusasse da hospitalidade dos Greenwood, porque pelo menos uma vez na semana dormia na casa de Ayla, que sabia bem que seus pais não se importavam, pois gostavam muito de sua amiga.
Viu Rose do lado de fora, na calçada conversando com um homem de boné, bermudas e chinelos, a camiseta jogada sobre o ombro enquanto segurava um cortador de grama, e respirou fundo, já que o vizinho irritante parecia estar entretido com seja lá qual fosse a conversa inadequada que os dois tinham naquele instante.
– Eeeh, lá em casa, xerife! – disse Samarina indo encontrá-los não deixando outra opção à Ayla senão segui-la – quando terminar aqui, pode ir cortar na minha casa, viu?
Viu Mason rir e depois cumprimentar Samarina, em seguida ele olhou em sua direção, enquanto Rose perguntava se pretendiam cozinhar.
– Ayla vai fazer o pudim! – disse a garota, animada.
– Ah! Até que enfim! Nem me lembro da última vez que ela fez esse manjar, fica delicioso!
– A Srta. Greenwood na cozinha? – Mason perguntou curioso – quem poderia imaginar! – piscou para Ayla.
– Isso ela puxou ao pai – Rose explicou – Aidan adora cozinhar, e ela sempre o ajudou.
– Eu só quebro um galho – Ayla respondeu desviando os olhos do abdome trincado do xerife – não cozinho bem como ele.
– Pudim com cobertura de caramelo, xerife! – Sama disse – o senhor gosta?
– É meu favorito, na verdade.
– Ora, então Ayla levará um pedaço para o senhor quando estiver pronto! – Rose falou como se a filha não estivesse ali.
– Oh, não se incomode, Sr. Greenwood.
– Incomodo nenhum, vizinho.