4. Ainda Nos Kent
– Tá tudo bem, pessoal – Mason disse quando viu que pessoas começavam a notar que havia algo errado com Ayla, mesmo que estivessem num cômodo do lado oposto de onde se concentravam os convidados – acho que ela só precisa de um pouco de ar fresco.
Ouviu Samarina pedir pacientemente aos curiosos que dessem um pouco de privacidade, e quase prendendo os dedos de um garoto curioso que insistia em ficar ali também. Deitou Ayla em um sofá mudando-o de posição o virando para a porta de vidro que levava à varanda, de onde vinha uma brisa agradável.
– Que porra foi essa? – perguntou a Samarina, que sentou-se ao lado da amiga.
– Um feitiço poderoso – ela respondeu, estava séria como nunca havia achado que poderia ser – estou a meses tentando aprender sobre, mas somente um bruxo do mesmo coven poderia me dizer com exatidão como revogá-lo.
– Sabe o que ela é, então? – Mason estreitou os olhos, precisava daquela informação.
– Não tenho ideia. – Samarina balançou a cabeça negativamente – tudo que sei é que Ash se sacrificou para manter o que quer que fosse quieto dentro dela.
– Ash?
– Ash Daniels era um bruxo humano de uma linhagem poderosa.
Mason ouviu de Samarina sobre como Ash estava lutando contra uma doença grave e pretendia tirar a própria vida depois de uma última viagem pela Europa, aparentemente ele tinha poucos meses de vida. Foi nessa mesma época que Ayla estava na França a passeio com a família, e Ash se apaixonou por ela. O namoro foi o ponto de virada na personalidade de Ayla, segundo Sama, que foi de menina introvertida, de poucas palavras e poucos amigos para a garota que dançava em cima da mesa, bebia e usava drogas.
– Nos conhecemos em uma festa no apartamento de Ash – ela explicou – eu nunca estive em um coven, nunca achei que teria lugar em algum, mas conheci Ash Daniels em um grupo fechado de bruxos – ela suspirou, como se lembrar do bruxo fosse algo doloroso – ele era o tipo de pessoa que falava com todo mundo, compartilhava seu conhecimento da arte, as pessoas gostavam dele, sabe….
– Você disse que ele se sacrificou…. – Mason queria entender porque exatamente Ash faria isso.
– Ele tentou entender o que acontecia com Ayla. Ao lado de Ash ela sentia-se livre, e talvez por isso algo começou a se manifestar, e quanto mais ela gostava de sua recém-descoberta liberdade, mais coisas estranhas começaram a acontecer – Samarina olhou para Ayla por alguns segundo – havia momentos que ela ficava bastante agressiva, havia outros que parecia não ter medo de absolutamente nada, era imprudente, e a rebeldia dela escalou níveis que fizeram os Greenwood tirarem dela alguns privilégios.
– Hum, por isso as mentiras, saídas às escondidas….
– Eu sempre concordei com Ash quando ele dizia que Ayla não conseguiria ser ela mesma enquanto não se libertasse de sua parte “obscura”, e que podia não parecer, mas ninguém sofria mais do que ela com essa situação.
Pensou no quanto a garota deveria estar atormentada lidando com o desconhecido, lembrando-se de quando ele mesmo passou pela transição. Esteve fora de controle durante meses, mesmo sendo treinado e ensinado desde a mais tenra idade sobre como seria quando sua fera despertasse. Mesmo com todo cuidado da alcateia sua transição foi difícil, não imaginava o inferno que deveria ser para quem nem ao menos sabia o que realmente era.
– O que você viu, xerife? Quando entrou na mente dela – Sama aproximou-se de Mason.
– Sangue, sombras e um cântico entoado em alguma língua estranha, depois disso ela apagou.
– Um cântico…. Era próximo?
– Audível, mas logo parecia estar cada vez mais longe.
– Isso não me parece bom….
– Porque diz isso?
– Porque de alguma forma esse feitiço impediu que a criatura que ela é se manifestasse.
– Isso não deveria ser bom? – Mason olhou para Samarina como se ela não batesse bem das ideias.
– Bruxas experientes podem rastrear esse tipo de feitiço, elas o percebem.
– Para de enrolar, mulher – disse ele impaciente – o que acontece se uma bruxa rastrear essa porra desse feitiço?
– O coven do Ash. Eles responsabilizam Ayla pela morte dele.
– Puta que o pariu, mais treta com bruxas humanas – ele passou a mão pela barba cerrada, impaciente – acha que virão atrás dela? Porque não teriam vindo antes?
– Talvez o feitiço não tivesse sido usado ainda, eu não posso dizer com certeza – ela respirou fundo – meu conhecimento ainda é bem limitado, xerife.
– Sama, preciso que fique de olho nela – ele falou baixo, percebendo que ela parecia voltar a si.
– O que acha que tenho feito desde que ela mudou-se para cá?
– Talvez uma bruxa de além da névoa possa ajudá-la – disse pensativo, voltando-se em seguinte para Ayla.
Observou um breve movimento dos cílios longos e conseguiu ouvir o batimento cardíaco de Ayla voltando ao normal aos poucos, ela voltaria a si logo, e não havia como deixá-la ali. Principalmente se tivesse bruxas atrás dela. Bruxas humanas o irritava, quase sempre, e por menos que gostasse de Ayla, não poderia simplesmente deixá-la nas mãos delas. Sentiu um arrepio quando ela abriu os olhos, porque por um segundo teve a impressão que aqueles olhos não eram os dela, um brilho sutil perpassou por eles e ela respirou fundo. Com uma expressão confusa ela tentava assimilar o que Samarina dizia, sobre ela ter misturado bebida e como passou mal de repente, então ela vomitou, fazendo Mason libertar-se da visão encantadora de Ayla Greenwood despertando, o que ele agradeceu, pois podia até dizer a si mesmo que não gostava da garota, mas a verdade é que mal conseguia tirar os olhos dela sempre que a via.
– Xerife – Sama repreendeu-o – dá um tempo.
– O que ele faz aqui? – Ayla disse tentando levantar e voltando a sentar sentindo-se tonta.
– “Ele” a segurou quando a senhorita desmaiou, e a trouxe para cá em segurança – o xerife disse entrando no campo de visão de Ayla.
– Então eu diria que não fez mais que sua obrigação.
– Talvez – concordou – mas, tenho que dizer Ayla, você faz certas coisas parecerem um sacrifício – então esticou a mão para que ela se apoiasse para levantar-se, mas Ayla vacilou, como se estivesse exausta – Sama, a festa se concentra do outro lado, encoste as portas de acesso, vou tirar a Srta. Greenwood discretamente daqui.