Capítulo 03
O que fazer quando você não tem para onde fugir? Como viveria meu luto sabendo que era uma prisioneira de um delegado metido a besta? Eram duas perguntas que não tinha resposta. No dia seguinte após passar a noite anterior deprimida e com raiva, acreditei que talvez ele mudasse de ideia e resolvesse deixar-me ir embora, no entanto, ele não pensou nem sequer nessa possibilidade. Naquela manhã fui obrigada a sair do quarto de hóspedes contra minha vontade, quando digo, contra minha vontade, era liberalmente contra minha vontade!
Tentei muito fazer com que Tomás me deixasse em paz, contudo, não fez minha vontade. Ele me derrubou da cama e saiu me arrastando presa as cobertas pelo corredor. Eu não queria café da manhã algum, ainda mais, com sua companhia desagradável. Perguntei-me como meu pai conseguia suportar o tal Souza ele era terrível, forçou-me a sentar na cadeira, ainda por cima enfiou uma das torradas na minha boca, ignorando meus resmungos de que não tinha escovado os dentes.
— Maria, não queria ter que forçá-la a comer, mas, você não me deu escolha. Eu preferia que você fosse uma criança como acreditei que fosse. Não me olhe assim como se eu fosse um tirano, não é isso! Apenas estou preocupado e não é pouco! Assassinaram seu pai e agora querem também você. Isso não te preocupa? Quero ajudar te protegendo em consideração ao seu pai, que era um grande amigo. Não sou seu inimigo, todavia, não quero ser um dos seus amiguinhos, portanto, estou deixando claro desde já.
Levantei da cadeira furiosa. Quem disse que queria a proteção dele? Ele era um pobre coitado que não tinha noção de quem era realmente Maria das graças. Dinheiro não era problema para mim, poderia me proteger sozinha e dar um fim naqueles filhos da puta que haviam assassinado meu pai. Nem sequer passou pela minha cabeça ter qualquer amizade que fosse com aquele homem.
— Você não me conhece, Souza. Não sabe de nada, nadinha! — desdenhei e continuei. — Não quero sua proteção de merda! Muito menos quero ser uma amiguinha sua! Pareço frágil pra você? Meu pai foi morto, porra! Sabe como me sinto? Péssima! Mais o que quer que eu faça? Fique aqui e finja que está tudo bem você me proteger? Se toca, cara, sei me virar sozinha!
— Não seja uma orgulhosa, Maria das graças! — berrou, saindo de sua cadeira e vindo até o meu lado. — Para de querer me enfrentar, por favor, para!
Olhei em seus olhos de cabeça erguida e enfiei a mão na sua cara perfeitinha.
— Policialzinho filho da puta! Quem pensa que é para gritar comigo? Sou dona do meu nariz! Faço o que quero a hora que quiser, entendeu? Quando você menos esperar não vai mais me encontrar, com sorte não te verei nunca mais!
— Vai para seu quarto agora! Vai logo antes eu que esqueça que você é uma mulher e te trate como trato os vagabundos que prendo!
— Doeu foi? — debochei, tocando o lado do seu rosto que esbofeteei — Pobrezinho não sabe lidar com uma mulher que não recebe ordens. Souza, espero não te ver o restante do dia inteiro! Estou cansada, queridinho. Não quero perder meu tempo com meu sequestrador!
Após minha debochada básica me retirei, entretanto, não obedeci sua ordem de ir para meu suposto quarto, ali não era minha casa e nunca seria. Caminhei para o lado de fora e fiquei procurando alguma forma de fugir daquela fortaleza de segurança mediana, precisava ser mediana ou caso contrário não teria escapatória.
Eu não queria parar pra pensar que era a principal culpada pela morte do meu pai, devido ao que costumava fazer vieram atrás de mim, acabou sobrando para meu pai que não tinha nada a ver. Quando conseguisse me livrar do Souza faria justiça e a minha justiça seria a pena de morte para todos os envolvidos na invasão que ceifou a vida do meu pai. E daí que não sabia usar uma arma de fogo? Nada que um treinamento não resolvesse!
Tirei os sapatos e lancei eles contra duas vidraças grandes da casa daquele merdinha de delegado. Dancei em comemoração. Aquele era somente o começo do inferno que faria na vida daquele imbecil até que ele me expulsasse de sua casa.