Capítulo 04
Tomás Souza
Maria das graças, era uma loirinha muito atrevida e demonstrava não ter medo de me enfrentar seja no que fosse, ela ter quebrado duas vidraças da minha casa foi apenas a maneira que encontrou de me fazer odiá-la, não foi difícil chegar a essa conclusão. Eu poderia ter entrado em uma discussão que não daria em nada ou castigá-la pela sua travessura. Qual das duas optei? O castigo, óbvio! Ela tinha que aprender uma lição, portanto, no dia seguinte às quatro da manhã fiz questão de tirá-la da cama contra sua vontade.
— Estou com frio! Você é louco! Deveria procurar um tratamento psicológico urgente! Meu Deus! — resmungou, enquanto forçava ela fazer abdominais no jardim da minha casa. E daí que as roupas dela não eram apropriadas? Ela implicara com a pessoa errada.
— Mandei parar? A senhorita não gosta de destruir os bens alheios? Pensa que ficaria por isso mesmo? Você não está lidando com nenhum moleque, Maria. Seu pai que me perdoe de onde estiver, mas, não soube te dar educação. Olha pra você, não passa de uma garotinha mimada que não sabe nada da vida!
Se fui duro com ela com minhas palavras? Não, claro que não! Ela tinha que amadurecer, o pai dela havia sido assassinado e aparentemente ela não demonstrava estar sofrendo tanto assim.
— Grosseiro! — berrou, agarrando minha perna e continuou. — Fala de novo que não tenho educação, fala! Acabarei com a sua raça de cachorro de rua!
Tentei tirá-la da minha perna e sem querer enfiei o dedo em um dos seus olhos. Sabe o que ela fez em seguida? Me deu uma mordida na mão!
— Você me mordeu, sua doida! Caralho, loira você vai me pagar e vai ser agora! — não era somente uma ameaça, usando toda minha força derrubei ela contra o chão e prendi seus dois braços acima da cabeça. — Por que você é assim, porra? Pra que essa rebeldia toda? Quero te ajudar e tudo que tem feito é me agredir! Cai na real, você precisa de mim e não tem ninguém agora que vai te proteger, entendeu? Seu pai morreu, Maria, ele não pode te ajudar agora!
Por um instante acreditei que ela fosse entender e aceitar minha ajuda, no entanto, aconteceu o oposto. A loira chutou meu saco com o joelho, me causando uma dor terrível, acabei caindo pro lado e soltando-a.
— Souza, não preciso de sua ajuda! Você não sabe nada de mim, nada! Espero que esteja doendo muito! Ah! Desejo que suas bolas caiam e não possa ter filhos, vai fazer um bem à humanidade ao não ter filhos!
Maria esbravejou, me deixando largado no chão, enquanto gemia de dor observei ela afastando-se pisando duro. A filha do meu amigo não era nada dócil como o pai descrevia que era. Ela era como levar um tiro de fuzil, não que eu tivesse levado um alguma vez, contudo, era essa a comparação que conseguia fazer.
Quando me recuperei resolvi sair de casa diretamente para a delegacia. Meu humor não era dos melhores. Eu precisava dar um jeito no gênio forte daquela jovem antes que ela acabasse conseguindo me enlouquecer.
— Delegado, trouxe as fichas que o senhor pediu. — disse o Charles, um dos meus policiais mais competentes.
— Obrigado, agora volte ao trabalho! Precisamos pegar aqueles cretinos! — referia-me a uma quadrilha de roubos a agências bancárias.
Procurei nas fichas algo que pudesse me ajudar nas investigações, porém, não conseguia me concentrar. Meu saco continuava bem dolorido. Olhei para o porta-retratos que tinha sobre a escrivaninha, era foto da minha noiva Daniela. Não sabia como ela reagiria quando soubesse que trouxera uma mulher para morar conosco, sim, minha noiva e eu morávamos juntos, entretanto, ela vivia mais fora de casa do que comigo devido ao seu trabalho.
Como explicar para uma mulher ciumenta que a jovem bonita que estava em nossa casa era apenas porque precisava de ajuda? Minha mulher não aceitaria de bom grado, ela nunca gostou que eu mistura-se trabalho com vida pessoal, mas o caso de Maria era bem mais pessoal do que profissional. Daniela voltaria em breve de viagem e não sabia qual das duas mataria a outra primeiro. Do que estou falando? Bom, minha noiva não seria gentil com a jovem órfã e Maria pelo que conhecia não levava desaforo calada.
— Estou fodido com duas mulheres bravas perto de mim... — resmunguei, inclinando-me na poltrona.
Após algumas horas de trabalho retornei para casa e tive mais uma das surpresas desagradáveis da minha hóspede. A loira tinha rasgado o estofado de um dos sofás da sala de estar. Como sabia que tinha sido ela? Porque ainda consegui flagrar ela no ato, rasgando meu sofá com uma faca pequena de passar manteiga no pão.
— Gostou do novo estilo do seu sofá cor de merda de cachorro? Agora ele está muito melhor! — disse ela, provocativa e continuou. — Não vai dizer nada? Quero ouvir um obrigado, Mariazinha por deixar minha sala de estar com mais estilo!
Mordisquei os lábios de nervoso. Caminhei até aquela peste, pegando firme em seu pulso até ela deixar a faca cair de sua mão.
— Não pensei que um dia fosse agredir uma mulher! Ou melhor, você é uma pirralha! Maria das graças, você não deveria ter destruído esse sofá...
Derrubei-a em cima do sofá que tinha destruído e lhe dei um tapa estalado no rosto. Ela tinha que parar, pois, estava fora de controle. Como me senti após ter feito o que fiz? Um filho da puta como os que costumava colocar atrás das grades.
A filha do meu amigo devolveu sem dó o tapa que lhe dei no rosto. Fitou-me nos olhos e puxou meus cabelos.
— Nunca mais encoste um dedo em mim, Souza! Não tenho medo de passar parte da vida na prisão por assassinato!
Depois daquela situação tensa ela saiu correndo da sala de estar. Fiquei paralisado sem saber se ia ou não atrás dela para pedir desculpas pelo que tinha feito. Por que ela me tirava tanto do sério? Por quê? Ela era somente uma menina sem pai e eu acabei perdendo a cabeça.