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Capítulo 02

Maria das graças

Após ser enfiada dentro de um carro preto, pelo homem desconhecido que dizia ser amigo do meu falecido pai, estávamos na estrada. Raptada pelo suposto policial? Sim, isso mesmo, o infeliz deu um jeito de me algemar e prendeu-me no assento ao seu lado. Eu sabia que não ficaria em paz, a prova disso foi aqueles caras aparecerem no cemitério atrás de mim. Não pensei na possibilidade de errar os tiros quando decidi carregar comigo a arma que era do meu pai. O culpado de tudo ter saído errado estava bem ao meu lado atento na estrada. Quem era ele afinal? Um maníaco? Talvez!

— Droga! — resmunguei, puxando as algemas. Eu não era nenhuma criminosa para estar algemada, pelo menos, não uma que soubessem. Olhei para o lado e xinguei mentalmente aquele imbecil metido. Não vou mentir, pensei em empurrá-lo com os pés pra fora do carro, entretanto, isso seria suicídio da minha parte com o veículo em movimento.

— Maria, não queria que as coisas acontecessem dessa forma, porém, você me deixou sem escolhas.

Um cínico! Por que ele estava colocando a culpa em mim? Ele era um sequestrador! A voz rouca dele me fez sentir ódio. Não tinha como não reparar em sua beleza de ator pornô, era inevitável não associar ele a um atorzinho barato típico ator pornô, dos quais costumava assistir quando queria suprir um pouco da tensão sexual reprimida. Seus lábios carnudos bem desenhados me fizeram ter pensamentos impuros. Para minha defesa, talvez eu estivesse vendo muito vídeo adulto nos últimos meses, era isso! Moreno, musculoso e de olhos verdes intensos. Cada vez que aquele par de olhos encontravam-se nos meus, pareciam despir minha alma E aquela barba rala? Perfeitamente aparada? Ele era um vaidoso sem dúvidas. O desgraçado não merecia atenção alguma minha. Afastei meus pensamentos em um grunhido frustrado.

— Meu pai nunca soube selecionar melhor suas amizades. — disse provocando-o. — Tenho certeza que você não passa de um lacaio, um policialzinho sem importância alguma. Sabe de uma coisa? Essa pose de superior não engana ninguém. Ser um fracassado está estampado em sua testa.

Por que irritá-lo? Simples, ele havia me sequestrado! Sabe se lá o que faria comigo!

— Que idade você tem? Doze? — questionou fitando-me de rabo de olho. — Você é uma mimada que não sabe de nada da vida! Por consideração ao Roberto foi preciso tomar uma decisão rápida ou você acabaria morrendo, era isso que queria? Morrer? E pare de provocações infantis, somente para pisar em mim!

Chutei sua canela após ter falado daquele jeito comigo. Mimada? Doze anos? Na primeira oportunidade sairia correndo e ele conheceria o poder da justiça por ter raptado-me.

— Tenho vinte anos e muito dinheiro, muito mesmo! — desdenhei. — Você deveria ter medo de mim, sabe por quê? A diferença entre nós dois é que uso o cérebro! A primeira coisa que vou fazer ao me livrar de você, é denunciá-lo por sequestro, seu doente!

Admito, deveria ter segurado um pouco a língua. Quem sairia falando para o seu sequestrador seus planos? Não fui a mais inteligente ao fazer isso.

— Loirinha, você não tem capacidade alguma de fugir de mim! Como pensa em denunciar um delegado de sequestro? Acha mesmo que isso vai dar em alguma coisa?

Delegado? Ele estava blefando. Gargalhei propositalmente para irritá-lo.

— Sonhador. Cuidado hein porque nunca vi cachorro ter asas. — debochei e continuei. — Querido, você não é delegado, meu pai que era, ele dedicou anos de sua vida à carreira. Você tem o quê? Trinta anos? Muito jovem para uma responsabilidade grande como delegado.

Ele freou o carro de propósito para me assustar, parou no acostamento e parecia furioso.

— Maria das graças! Tudo que você tem feito até agora é falar asneiras! Cadê o seu luto? Porra, seu pai foi assassinado! Não planejei trazer comigo para Curitiba você, que é uma doida varrida!

Engoli em seco. Quem era ele pra falar de luto? Eu não era insensível, meu pai estava morto e claro que estava sofrendo. Mais daí me chamar de doida varrida? Onde estava a compaixão e o bom senso? Ele não tinha?

— Você se acha dono do mundo, não é mesmo? — perguntei estalando a língua. — Quero muito chutar o seu saco, tenho certeza que acabaria com essa marra toda! Me solta se for homem de verdade, anda! Ou tá com medo? Da loirinha? Minha mão tá coçando, louca para quebrar essa sua cara de bad boy!

— Não vou levar a sério nenhuma das suas loucuras, entendeu? — falou gesticulando com as mãos. — Roberto, sentiria vergonha se visse a filha agindo assim. Me quer como seu inimigo? Beleza! E quer saber de uma coisa? Pode bater o pé e gritar porque agora fará apenas o que eu quiser! Loirinha, vou te dar um corretivo que nunca levou do seu pai!

Franzi a testa. Ele seria capaz de me espancar? Não sabia o que pensar depois de sua ameaça.

— Covarde! Quer bater em uma mulher presa? Em mulher não se bate nem com pétalas de rosas!

— Quem disse que vou te esporrar? Você é mesmo burra! — debochou, rindo de mim.

Ainda com um sorrisinho sacana nos lábios ligou o carro e retornou para estrada, ignorando qualquer reclamação minha. Acredita que ele ligou o som no último volume? Ele estava se divertindo com tudo! Acabei adormecendo depois de alguns minutos, o cansaço me venceu. Quando acordei foi no momento em que ele abriu a porta do passageiro, sendo um bruto, claro!

— Chegamos, princesinha! Estamos no meu covil! — desdenhou tirando meu cinto de segurança. Olhei ao redor assustada. De maneira grosseira fui tirada do assento.

Ele morava em uma fortaleza! Muros altos com cerca elétrica e até tinha seguranças!

— Você é mesmo um profissional no que faz! — afirmei, sentindo minhas pernas trêmulas. — Espero que dê o direito de um último pedido a suas vítimas. Não quero morrer fedendo a suor.

— Maria, para de fantasiar bobagens nessa cabecinha! — bufou e de forma íntima empurrou meu ombro esquerdo. — Vamos entrar, está bem? Vou providenciar roupas e o que precisar.

Assenti sem relutar. Meu sequestrador era um psicopata! No momento que passei pela porta da mansão, minha mão direita começou a tremer. Não queria que ele notasse meu nervosismo, portanto, enfiei a mão no bolso da calça jeans.

— Quanto tempo? — perguntei, engolindo em seco. — Quero saber, quanto tempo vai me manter viva. Qual é? Não faça essa cara! Sei que no mais tardar, talvez na madrugada, terá me mandado pro além.

— Vamos resolver isso, agora mesmo! — disse em um tom ameaçador. Fechei os olhos esperando pelo pior. O psicopata me assassinar ali mesmo sem qualquer receio que alguém ouvisse o momento final.

Um frio percorreu todo meu corpo quando senti seu toque. Abri os olhos e ele entregou-me sua identificação. Fitei aquele par de olhos desnorteada. Imagine minha surpresa ao ver seu distintivo de delegado.

— Isso é de verdade? — indaguei desconfiada. Ele sorriu tocando em seguida meus ombros.

— Delegado, Tomás Souza, senhorita, Maria das graças.

Tirei suas mãos de cima de mim e devolvi seu distintivo. Delegado Souza era um dos contatos mais próximos do meu falecido pai. Algumas vezes ouvi conversas dele com o tal Souza. Sempre pensei ser um velho barrigudo.

— Tomás, não pense que algo mudou. Você me sequestrou, cara! Nada justifica isso!

Jamais trataria bem alguém que me sequestrou, aproveitando-se do momento de fraqueza e fragilidade. Mostraria para ele toda minha insatisfação até ele fazer algo decente, no caso, me mandar de volta para Goiânia. Não aceitaria de maneira alguma que ele achasse que controlava minha vida. Tomás Souza descobriria que não estava lidando com nenhuma burra.

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