Capítulo 01
Tomás Souza
Más notícias sempre são as que chegam primeiro. Eu não conseguia acreditar que tinha perdido um grande amigo. Deslocando-me de Curitiba para Goiânia pensei em muitas coisas, uma delas foi na pequena Maria que estava órfã. Seu pai Roberto foi um grande homem e um excelente profissional. Não a conhecia pessoalmente, apenas sabia que ela era tudo para Roberto, ele referia-se a filha como a pequena Maria, sua princesinha. A pobre garota deveria estar com medo e sem amparo familiar, por tudo que ele tinha me contado a família pouco se importava com eles. Como uma tragédia daquelas foi acontecer? Ninguém sabia onde encontrar os malditos que assassinaram os seguranças e o meu amigo e parceiro de profissão.
Quando cheguei em Goiânia soube que todos foram sepultar o corpo de Roberto no cemitério. Após pegar o endereço fui para o local, não foi difícil encontrá-los, logo reconheci um dos policiais. Seu nome era João, um rapaz jovem que havia visto algumas vezes. Caminhei até ele e discretamente chamei-o para o canto.
— Onde está a pequena Maria? — questionei, receoso. Não conseguia encontrar nenhuma garotinha entre todas aquelas pessoas. Ela não foi para o enterro do próprio pai? Talvez fosse isso.
— Delegado, não sabia que era tão íntimo assim de Maria. — respondeu risonho e continuou. — A pequenina está ali, e como pode vê, ela entrou no papel de bancar a forte. No fundo, sei que ela está abalada com tudo que aconteceu.
Maria das graças, não era uma criança e sim, uma jovem de pele alva e cabelos loiros presos em um rabo de cavalo alto. Ela não tirava os olhos da sepultura do pai.
— João, pensei que ela fosse uma criança e não uma mulher feita. — comentei, não escondendo meu espanto.
— Ela sempre foi tratada como a princesinha do papai, o senhor sabe como é, Maria é uma daquelas patricinhas metidas.
Perguntei-me se ela era realmente uma daquelas garotas mimadas. João tinha a língua muito maldosa e falava pelos cotovelos.
— Com licença, preciso falar com ela. — disse despedindo-me dele e caminhando em direção a jovem.
Era estranho ter que falar com uma mulher e não uma criança. Apesar de suas roupas serem um tanto quanto infantis, acreditava que talvez fosse só uma jovem de dezoito anos ou menos. Não saber sua idade exata me fez fitá-la descaradamente. Eu não conseguia disfarçar minha surpresa, pelo fato dela ser uma mulher.
— Perdeu alguma coisa? — indagou, sem sequer virar o rosto. Passei a mão atrás da nuca após ser flagrado observando-a. — Se veio me dá os pêsames, pode dar meia volta! Pare de me olhar com pena, não quero a pena de ninguém! Volte de onde saiu, e de preferência, desapareça para sempre!
Ela era uma malcriada, pensei. Eu queria muito acreditar que o seu ataque era apenas seu jeito de esconder a dor que sentia. Mordiscando os lábios rosados, lançou um olhar frio na minha direção. Seu olhar direto sem qualquer piscar de pálpebras me deu aflição. Seu par de olhos castanho-escuros eram penetrantes. Lubrifiquei os lábios e decidi tomar alguma atitude, antes que ela acabasse me enxotando como um cachorro vira-lata.
— Eu não quero confusão, está bem? Seu pai era um grande amigo meu. — Maria virou o rosto no momento em que comecei a falar. — Ele sempre falou de você, e do quanto a pequena Maria era seu orgulho.
Foi um erro ter chamado ela de pequena, além de causar uma situação embaraçosa, ela tomou isso como um desaforo da minha parte. Recuei engolindo em seco. Não sabia o que esperar, confesso que senti um pouco de medo talvez. Analisei calado sua pose intimidadora, como se estivesse prestes a cometer um assassinato, no caso, o meu assassinato.
— Quem pensa que é? Não me chame assim, como se fossemos íntimos! Não te conheço e nem quero conhecer! Você era amigo do meu pai e não meu! Chegou um pouco tarde, não acha? Agora ele já está a sete palmos do chão!
Segurei seu pulso no momento em que ela voou sua mão na direção do meu rosto.
— Calma, gatinha, arisca! — disse soltando-a. Ela torceu o nariz e seus olhos pareciam maiores. Mesmo não a conhecendo há tanto tempo, consegui decifrar aquele olhar, era fúria. E quer saber? Não me importei nenhum pouco que estivesse irritadinha. Eu não sabia se ria ou se lhe passava um sermão para ter mais educação.
— Você pode ser grande, mas, adivinha? Não é dois! Aposto que se cagaria todo com uma arma apontada bem na sua cabeça!
Se era uma ameaça? Sim, era! Talvez João tivesse razão, ela não passava de uma patricinha mimada. Ela deveria me respeitar por ser mais velho, porém, deixou claro que isso era irrelevante. Nem sequer imaginei o que estava por vir em seguida, antes que eu retrucasse com a loirinha afrontosa, ouvi tiros. Todos que estavam ali começaram a correr e gritar. Puxei minha arma da cintura e tudo que consegui pensar era em proteger a filha do meu amigo, mesmo ela sendo uma abusada fútil.
— Precisamos sair daqui, agora! — falei autoritário, puxando-a pelo braço entre os túmulos.
Ela não parou um segundo de reclamar, ignorando os tiros que poderiam nos acertar a qualquer momento. Foram tantos tiros disparados, um deles acertou uma das lápides, por pouco não nos acertou. Resolvi enfrentá-los mesmo sabendo que era impossível dar conta de tudo sozinho. Mirei em um dos encapuzados, que desviou de todos os tiros que disparei. Frustrado e receoso, coloquei-me na frente de Maria. Não queria que nenhum tiro dirigido a mim, acertasse-a por engano.
Fui surpreendido por um empurrão. Quando pisquei os olhos, Maria sacou uma arma de dentro do moletom verde. Boquiaberto com a situação inesperada, não conseguia ter uma reação.
— Desgraçados! Irei matá-los! Todos vocês vão para o inferno! — esbravejou, disparando sem mira alguma na direção deles. Ser corajosa não traria de volta seu pai Roberto. Ela queria morrer também?
Agarrei ela por trás, tirando à força a arma de suas mãos. Ela não sabia manusear uma arma de fogo, tudo que fez em aproximadamente dois minutos foi agir impulsivamente.
— O que você tem na cabeça? Vento? — berrei irritado. — Seu pai sentiria vergonha da filha dele arriscando-se desse jeito. Maria das graças, você não é imune a balas! Não aja pela emoção do momento.
Esperava colocar um pouco de juízo na cabeça dela. Ela não gostou nenhum pouco do que havia falado, pois, logo tratou de se desvencilhar de mim. Deixei a arma que ela carregava com si, cair no chão.
— Seu policialzinho de merda! Nunca deveria ter colocado os pés neste cemitério. Eu vou acabar com a raça daqueles imbecis, nem que para isso eu acabe esticada no chão. É questão de honra. Pelo visto não sabe o que é isso, não é mesmo?
Como lidar com alguém teimosa? Maria tinha personalidade forte, contudo, não pensei que fosse burra. Sem escolha saí puxando-a pela mão à força, enquanto resmungava os piores nomes ao meu respeito. Precisávamos chegar até o meu carro que era blindado. Roberto que me perdoasse de onde estivesse, mas a filha dele era uma doida varrida.