Capítulo Dois: Tudo pequeno, para grandes sonhos.

Depois de ajeitar tudo, eu finalmente me sento no pequeno sofá da sala, aliás, tudo é pequeno nesse pequeno apartamento, e eu gostei disso. Decido sair para comer alguma coisa, conhecer a vizinhança, restaurantes puramente italianos, o que me deixa um pouco eufórica. Desde que saí de Sylt, eu não comi nada, de tão ansiosa com toda a viagem. Troco de blusa, pego minha bolsa que ganhei de aniversário da minha irmã, e recolho o molho de chaves de cima da mesinha na entrada ao lado da porta. Agora, eu poderia saborear não somente tudo o que os italianos faziam, mas também sentir a beleza de suas criações.

O céu já está todo domado de estrelas, pessoas iam e voltavam, a maioria turistas que buscavam algum refúgio na alma e no estômago, vários casais apaixonados passeiam de mãos dadas, e eu diria que a Itália é ainda mais romântica que Paris, muitos discordam, claro. Alguns restaurantes estão cheios, outros nem tanto. Escolho um pequeno bistrô no fim de uma avenida que mais parecia uma ruela elegante, domada de calçadas reforçadas e com flores nos canteiros. Alguns estabelecimentos ainda usavam lâmpadas antigas em suas fachadas, o que tornava ainda mais charmosa a terra do povo expressivo.

O garçom logo me traz o cardápio e uma jarra de água, e com meu pobre italiano, tento pedir um macarrão á carbonara. Ele ri, e confirma que logo trará enquanto desfruto o ambiente calmo com uma música vindo do fundo, era uma melodia chorosa, mas de alguma forma reconfortante. O meu prato é servido depois de aproximadamente 25 minutos, e está uma delícia, e há tempos eu não comia algo tão maravilhoso assim. O sabor é estupidamente divino. Saboreio com cuidado cada garfada, e li uma vez que o macarrão italiano tem o poder de transcender todos os sentidos da sua alma, de fato, isso confere.

Após o jantar, eu saio para andar um pouco. Apesar da viagem, de toda euforia e ansiedade que me acometeram mais cedo eu não estou cansada. Quero andar e sentir algo vivo além de mim. Ando por alguns lugares que são cartões postais, as capelas são lindas, algumas casas abrigam uma originalidade incrível do lugar, a identidade da Itália são elas, são únicas. Vejo uma sorveteria aberta e sorrio, decidi experimentar os sabores italianos.

Há tantos sabores que eu desconhecia que opto por queijo stracciatella e sorbet de chocolate, que são divinamente deliciosos. Dou mais uma volta pelo local, e depois volto para o pequeno apartamento em passos lentos, tentando absorver tudo á minha volta. Ouço alguns passos atrás, e deve ser mais um casal apaixonado passeando de mãos dadas, e antes que eu termine meus pensamentos sobre minha vida amorosa nos dois passos adiante a minha visão se escurece, não sinto mais nada, só o escuro.

“A vida acontece quando a escuridão te assombra, ou não.”