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4

Mia o olhou quando ele lhe abriu a porta do carro.

– Leon, é incrível! Que construção gloriosa! É como uma cápsula do tempo do período Art

Nouveau. Este foi seu lar quando você era criança? Realmente?

Ele obviamente não partilhava do entusiasmo dela pela villa. Tinha uma expressão fechada.

– Está em péssimo estado.

– Sim, mas pode ser trazida de volta à vida. – Mia abriu um sorriso de entusiasmo. –

Estou tão contente que tenha me convidado para vir. Mal posso esperar para ver o que há do

lado de dentro.

Leon se adiantou para destrancar a porta da frente com o molho de chaves que segurava.

– Poeira e teias de aranha, na maioria.

Mia pousou os olhos na mão bronzeada dele e aquele peculiar friozinho na barriga se

manifestou enquanto observou os dedos longos girando a chave na fechadura. Quem teria sido a

última mulher que ele tocara com aquelas mãos bonitas e masculinas? Suas mãos eram ásperas

ou macias? Mia não pôde deixar de imaginar aquelas mãos fortes explorando um corpo

feminino. Acariciando um seio. Escorregando pela parte interna de uma coxa. Afagando a pele

acetinada entre as pernas. Entre as pernas dela?

Mia tratou de afastar os pensamentos errantes. O que estava fazendo ao pensar nele

daquele jeito? Não pensava em nenhum homem

daquele jeito.

Era algo que não existia para ela.

Que morrera com Mathew. Devia aquilo à memória dele, a tudo que tinham significado um para

o outro.

Não podia se permitir pensar em seguir adiante com sua vida. Em ter uma vida. Uma vida

normal. Seus sonhos normais estavam extintos. Mortos e enterrados.

Leon a olhou.

– O que há de errado?

Mia sentiu as faces queimando. Por que sempre agia como uma estudante adolescente

afogueada quando estava perto dele? Era adulta.

Tinha que agir de maneira madura e sensata.

Calma e no controle de suas emoções e necessidades traiçoeiras. Podia fazer aquilo. Era evidente

que sim.

– Hã... nada.

Ele franziu as sobrancelhas espessas.

– Prefere ir para um hotel? Há um a dois quarteirões daqui. Eu poderia...

– Não, é claro que não. – Ela sorriu amplamente.

– Não estrague as coisas para mim insistindo

para que eu fique num hotel entediante. Isto aqui é a minha praia. Quero estar entre a poeira e

as teias de aranha. Quem sabe que tesouros inestimáveis estão escondidos lá dentro?

Algo mudou no olhar dele, tão rápido quanto uma cortina correndo no varão. Mas sua

expressão voltou a ficar indecifrável.

– Venha por aqui – disse.

Mia seguiu-o ao interior da villa, e os saltos de seus sapatos ecoaram no chão de mármore

do grandioso vestíbulo. Sentiu-se como se estivesse voltando no tempo. Milhares de partículas de

pó se ergueram no ar, com o sol capturando-as por onde adentravam, pelas janelas situadas de

ambos os lados da opulenta escadaria entalhada.

Enquanto Leon fechava a porta, o lustre central oscilou acima deles, enquanto o vento de

fora tocou os cristais cintilantes.

Mia sentiu arrepios subindo-lhe pela pele. Olhou ao redor, notando as estátuas de

bronze, mármore e ônix no vestíbulo. Havia pinturas em todas as paredes, retratos e paisagens

dos séculos dezessete e dezoito. Algumas pareciam ainda mais antigas. Era como entrar num

museu negligenciado. Uma espessa camada de poeira cobria tudo.

– Uau – disse admirada.

Leon pareceu meramente entediado.

– Vou lhe mostrar o seu quarto primeiro. Então, serei o seu guia turístico.

Mia seguiu-o pela escadaria, tendo de se conter para não parar diante de cada pintura ou

objet d’art no caminho. Viu lampejos tentadores dos cômodos do segundo andar através das

portas abertas. A maioria da mobília estava coberta com lençóis, mas, assim mesmo, ela podia

perceber que a villa havia sido um exemplo de grandiosidade e riqueza. Havia dois quartos com

a porta fechada. Presumiu que um fosse o quarto de Leon, mas sabia que não era a suíte

principal, uma vez que tinham passado por ela três portas antes. Ele não queria ocupar o quarto

em que o pai dormira todos aqueles anos? Mia sentiu mais arrepios.

Teria o pai dele morrido ali?

Felizmente, o quarto que Leon designara para ela fora arejado. As cortinas formais

desbotadas haviam sido abertas e presas com os prendedores de latão, e a janela, aberta para que

o ar fresco pudesse circular.

– Espero que a cama seja confortável – disse Leon, enquanto colocava a mala dela num

baú coberto de veludo ao pé da cama. – A roupa de cama está limpa. Comprei algumas coisas

quando estive aqui ontem.

– O seu pai morreu em casa? Ele franziu as sobrancelhas.

– Por que você pergunta? Ela deu de ombros.

– É apenas curiosidade.

Ele sustentou-lhe o olhar por um instante antes

de desviar o seu, então correu a mão pelo cabelo.

– Ele foi encontrado inconsciente por um vizinho e morreu algumas horas depois, no hospital.

– Então, você não teve a chance de se despedir dele?

Ele emitiu um grunhido desdenhoso.

– Nós nos despedimos há muito tempo.

Mia estudou-lhe o rosto: o maxilar forte, a boca apertada com tensão e os olhos velados.

– O que aconteceu entre vocês dois? – perguntou.

Ele desviou os olhos.

– Vou deixá-la para que possa desfazer sua mala. O banheiro é anexo ao quarto. Vou estar lá

embaixo, no escritório.

– Leon?

Ele parou à porta e ela o ouviu soltar um suspiro que pareceu dizer “O que foi agora?”, antes

de se virar para observá-la com olhos que mostravam inconfundível irritação.

– Você não está aqui para me dar conselhos sobre luto, está bem?

Mia arregalou um pouco os olhos diante do tom exasperado dele. Nunca o vira zangado

antes. Era sempre tão impassível, tão neutro... exceto pelo cenho franzido, evidentemente.

– Desculpe. Não quis aborrecer você.

Leon passou a mão pelo rosto e soltou outro suspiro.

– Desculpe – disse pesadamente. – Eu não devia ter dito isso.

– Está tudo bem. Percebo que é um momento difícil para você.

Ele moveu os lábios, mas o gesto ficou longe de ser um sorriso.

– Avise-me se precisar de algo. Não estou acostumado a receber hóspedes. Posso ter deixado

passar algo.

– Não recebe visitantes para ficarem com você em sua casa em Londres?

Ele a estudou com olhos indecifráveis.

– Mulheres, é o que quer dizer?

Mia sentiu as faces corando. Por que, afinal, estava conversando sobre a vida sexual de

Leon com ele? Estava ultrapassando um limite que nunca ultrapassara. Pensara nele com

outras mulheres. Muitas vezes. Como não poderia? Vira a maneira como as outras mulheres

olhavam para ele. O jeito como seus olhos brilhavam com interesse. Como umedeciam os lábios

e piscavam os cílios, ou ondulavam os corpos para que ele notasse. Ela vinha testemunhando

esse efeito dele nas mulheres desde muito tempo. Leon era um banquete para os olhos. Era

inteligente, sofisticado, culto e extremamente rico. Era um macho alfa, mas sem a arrogância.

Era

tudo que uma mulher desejaria num parceiro sexual. Era a personificação de fantasias.

Fantasias

quentes e eróticas que ela nunca se permitia ter. O que lhe importava o que ele fazia, ou com

quem fazia?

Ela não queria saber.

Bem, talvez só um pouquinho.

– Você as tem ocasionalmente em casa, não é? Ele ergueu uma sobrancelha com ar inquiridor.

– Se as tenho?

Ela sustentou-lhe o olhar, mas com grande esforço. As faces tinham ficado afogueadas. Ele a

estava provocando. Podia ver um pequeno brilho em seus olhos escuros. Até um canto de sua

boca se curvava ligeiramente. Ele a estava fazendo parecer uma puritana que não podia

falar de

sexo abertamente. Por que todos presumiam automaticamente que, só porque era celibatária, ela

não entendia de nenhum assunto sexual? Que era um tipo antiquado que não podia lidar com a

modernidade?

– Você sabe exatamente do que estou falando e, portanto, pare de tentar me embaraçar.

Ele não desviou os olhos.

– Não sou um monge.

A mente de Mia não pôde deixar de rodopiar com aquela informação. Imaginando-o

com mulheres. Sendo o oposto de um monge com elas. Tocando-as, beijando-as, fazendo amor

com elas. Imaginou-o nu – atlético, vigoroso e bronzeado no auge da paixão.

Pôde sentir a excitação percorrendo seu corpo, o pulso acelerado, o coração batendo num

ritmo primitivo, o centro de seu calor se contraindo deliciosamente com desejo.

Umedeceu rapidamente os lábios com a ponta da língua, e uma corrente eletrizante a

percorreu quando viu os olhos dele acompanharem lentamente o seu gesto.

A súbita mudança na atmosfera deixou o ar carregado de tensão. Ela podia sentir a voltagem

romper o silêncio.

Leon estava a dois metros de distância e, ainda assim, a sensação era de que ele a havia

tocado. Os lábios dela latejavam. O beijo dele

seria suave e lento ou faminto e sôfrego? A barba

de um dia por fazer a arranharia? E seu gosto seria doce? Delicioso como café de alta qualidade,

ou vinho sofisticado? Um homem repleto de testosterona em seu auge?

Mia deu-se conta de seu corpo pulsando. Sentindo. Era como se cada célula, presa

firmemente fechada, se abrisse. Seu corpo se esticava como se estivesse há muito tempo

confinado. O sangue gelado se aquecia. Fervia.

Necessidades ignoradas há muito tempo pulsavam. Cada onda de desejo no seu centro de

calor a lembrava: era uma mulher. Ele era um homem. Estavam sozinhos numa grande e velha

casa sem ninguém para vigiá-los. Nada de irmãos mais velhos. Nem de criados. Nem de distrações. Nada de acompanhantes.

– Espero não atrapalhar o seu estilo com a minha estada aqui – disse ela, com o que esperou ser a devida compostura.

Havia pouco a ser decifrado no rosto de Leon, exceto pelo brilho quente em seu olhar enquanto continuava a olhá-la.

– Então, você não se importa se eu trouxer alguém para casa comigo?

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