Tempo Real
Quando saí da instituição, já sabia de tudo que precisava: nomes, lugares, pesquisas, registros e o que pretendiam. Só não sabia o nome do principal orquestrador de toda essa manipulação ilegal de seres humanos.
Pensando nisso, fui direto ao dono. Primeiro pesquisei sua vida, seus endereços, hábitos, costumes e gostos. Descobri que ele se considerava um homem frio e não acreditava em relacionamentos amorosos. Seu prazer vinha da prática do BDSM, mas não frequentava nenhum clube, tem seu próprio "quarto do sadismo", como o apelidei.
Aluguei uma quitinete simples, num bairro afastado e comprei uma vespa, para não chamar muita atenção. Meu dinheiro vinha do roubo, claro. Durante anos entrei no sistema bancário deles, forjei compras e fiz pagamentos, formando assim, o meu excelente pé de meia.
Meus cabelos estavam compridos, o que facilitou, fui ao salão de beleza, aparei as pontas e pintei de louro. Coloquei unhas de porcelana, delineei as sobrancelhas e depilei o corpo todo. Comprei lentes de contato verdes e aprendi a maquiar-me para ficar com o rosto mais cheio.
Nesse tempo engordei uns dez quilos para sair do estado de magreza excessiva e ficar mais "gostosa". Só então comprei roupas sexis, fazendo o tipo sex doll. Batom rosa pink combinando com as unhas, pronta para conquistar meu Dom.
Verifiquei onde o senhor Dalton estaria e contratei um acompanhante para ir comigo ao restaurante chique, mais querido do CEO. Chegamos vinte minutos depois dele, para que ele notasse. Mas havia marcado a reserva para dali a dez minutos, só para ter motivo para uma alteração de voz que lhe chamasse a atenção.
Fomos barrados e pediram para esperar, então comecei o meu showzinho, já combinado com o bofe.
– Será possível que você não dá uma dentro? – Reclamei baixinho.
– Você demora tanto pra se arrumar, que eu quis me prevenir. – Respondeu ele com grosseria.
– Eu demoro, eu demoro? – Comecei a alterar a voz, mas mantendo a postura de submissa.
– Você vive atrasada e eu já tô de saco cheio. – Ele jogou a frase combinada.
Finjo que estou magoada, afinal, tenho que ser submissa.
– Você prometeu? – Murmurei.
– Prometi o que, baby? – Ele questionou.
– Que cuidaria de mim. – Cobrei.
– E não é isso que estou fazendo? – Provocou.
– Você me magoou e agora eu estou aqui de pé, de salto alto, tendo que esperar porque você ficou me apressando atoa. – Resmunguei gemendo.
– Você quer ir pra casa? Nós vamos agora, amorzinho e vou dar exatamente o que você quer. – Falou em tom de ameaça.
Me encolhi fazendo a submissa, abaixei a cabeça e juntei as mãos na frente do corpo já pronta a me ajoelhar, mas ele, como bom ator, me segurou o braço com força, impedindo.
– A mesa está pronta, vamos e não faça mais escândalo. – Falou como o verdadeiro dominador.
Fomos direcionados a nossa mesa e passamos bem a frente do meu alvo, que sem perceber a manipulação, me olhava com interesse. Olhei pra ele com carinha de infeliz que pede socorro, o que combinava com o agarre no meu braço pela mão forte do meu contratado.
Nos sentamos para almoçar e continuei sendo submissa. Meu contratado fez o pedido para os dois e para mim escolheu só salada verde e justificou:
– Você precisa emagrecer.
Daí em diante, foram só humilhações disfarçadas de dominação e chegou uma hora, que parei de comer, coloquei as mãos no colo e baixei a cabeça, triste. Claro que o outro não aguentou e foi até minha mesa oferecer ajuda e é claro que aceitei. Meu contratado discutiu um pouco, mas cedeu falando alguns dos meus defeitos. Tudo combinado e devidamente pago.
Ele me levou para sua casa, o que me surpreendeu. Mas foi ótimo, menos um trabalho.
A casa ficava em uma rua em aclive, passando por casarões espaçosos e seguindo até o topo, onde terminava em um imenso portão de ferro com duas guaritas, uma de cada lado.
O portão se abriu e a rua continuou por um jardim, contornou um chafariz e parou na entrada.
Era um prédio quadrado, com três andares, cercado de sacadas e janelas no segundo e terceiro andares. O primeiro era todo fechado, a entrada era um rol que dava em um elevador e uma porta, que provavelmente era a escada.
Entramos no elevador e subimos ao terceiro andar, onde saímos e ele me direcionou a um corredor a direita e destrancou a última porta. Não pensei que ele me levaria direto para lá, mas cavei por isso e ali estava: o quarto do sexo.
Era vermelho e preto, com uma imensa cama de casal com uma colcha vermelha de matelassê muito brega pro meu gosto. Ganchos no teto com correntes, prateleiras com objetos de manipulação sexial e também de "tortura". Eu não gosto dessas coisas, mas reconheço tudo das pesquisas que fiz.
Ele foi até um guarda roupa antigo de madeira, abriu e tirou uma roupa, se é que dá pra chamar aquilo de roupa. Eram tiras largas com uma calcinha de couro preto. Me indicou um biombo e mandou eu vestir aquilo. Saí dali me sentindo a própria submissa.
Aproximei-me dele, ajoelhei e apoiei as mãos no chão e abaixei a cabeça. Não olhei para ele, mas notei que ele também tinha trocado as roupas por uma sunga de couro preta e tinha tiras de couro envolvendo seu peito. Batia um chicotinho na mão e passeava a minha volta.
Dali em diante, precisei de muito autocontrole e paciência. Primeiro para aturar seus sadismos e depois para fazer o que ele esperava de mim. Depois de duas horas naqueles usa isso, enrola naquilo, bate com o chicotinho, ele finalmente estava super excitado.
Quando me deitou na cama e pensei que fosse concluir, me colocou de quatro. Eu estava com os pulsos amarrados, amordaçada com algo que invadia minha boca e vendada com uma echarpe de cetim vermelho. Tentei preparar meu corpo para a dor, já que ainda era virgem, mas não deu tempo.
Meu grito teria sido terrivel se não estivesse amordaçada e o idiota estava tão excitado que nem percebeu. Consegui enviar os hormônios certos e aliviar a dor, enquanto ele batia em meu corpo sucessivas vezes.
– Só goza quando eu mandar – ordenou o ridículo, como se estivesse me dando muito prazer. Quem gozaria em uma situação dessas? Só masoquista mesmo.
Preparei meus hormônios para um senhor orgasmo e quando senti que ele estava no ápice, soltei e chegamos ao orgasmo juntos. Assim que aliviamos e achei que ele ia me soltar, saiu de dentro de mim e sapecou uma palmada forte em meu traseiro.
– Essa é pra você me obedecer quando eu disser pra gozar só quando eu mandar. – Mas é muito idiota mesmo.
Lágrimas caiam de meus olhos e molhavam a echarpe. Senti um liquido quente escorrendo por minhas pernas. Ele finalmente soltou minhas mãos, tirou a mordaça e quando pegou a echarpe, percebeu que estava molhada.
– Estava chorando? Porquê? – Franziu as sobrancelhas.
– Doeu – gemi.
– O tapa? Aquele cara parecia fazer muito pior com você. – Então ele pensou que podia fazer o mesmo?
– Eu era virgem. – Comuniquei.
– Como assim, virgem? Você era submissa de outro dominador, como ele te deixou intocada? Conta outra, vai…
– O negócio dele era só dominio, sem sexo. – Informei, mas não estava mais ligando.