Capítulo 5
Opto por ignorar sua resposta flagrante e fazer o resto da nossa viagem em silêncio e, para minha surpresa, a Srta. Carter também não faz o menor esforço para falar comigo. Excelente!
Angelina
Um mês trabalhei para Christian Martinezn e mal nos falávamos. Passo o dia todo cuidando da Clarissa e fazendo algumas pequenas tarefas domésticas, enquanto o senhor Martinezn fica o dia todo na empresa e só volta às nove, horário que saio, e aos domingos ela passa o dia com a señora Clarisa.
Isso não está certo, ele é o pai da Clarissa e não fica com ela. Eu sei que ela é apenas um bebê, tem quase três meses, mas ela sente aquela distância que o pai vem impondo entre os dois.
– Bom dia, Owen. — Digo sorrindo ao entrar na cozinha, cumprimentando a amiga cozinheira da dona Clarisse que veio cuidar das refeições de Christian.
— Bom dia, Angelina. - Ele diz sorrindo como sempre e me aponta a cadeira para sentar e tomar café. —O pequenino ainda não acordou?
— Não, eu trouxe a babá eletrônica, assim que ela acordar eu subo. Sr. Martinezn, você já foi trabalhar? — Sirvo-me de uma xícara de café e de umas torradas com geleia de morango.
— Ainda não estive aqui. — Ele me olha pensativo, como se estivesse decidindo alguma coisa. — Estou muito preocupado com ele, o homem está se afogando na bebida, e aquela mulher não merece definhar assim.
—Que mulher? — Sempre tentei controlar minha curiosidade sobre a mulher misteriosa por quem meu chefe está apaixonado.
—Brianna , mãe de Clarissa. — Owen sussurra perto de mim e se afasta assim que ouvimos passos perto da cozinha. — Bom dia, Cristiane.
Owen não tem muitas formalidades com o Sr. Martinezn, pelo que entendi ele é amigo de longa data da família e praticamente assistiu o Sr. Christian crescer.
- Bom dia! — Diz meu chefe, sentando-se e simplesmente servindo-se de um café.
— Você deveria se alimentar melhor, o café da manhã é a refeição mais importante do dia. — Olho para ele que me olha surpreso. — Notei que você gosta de coisas doces pela manhã. — Passei a geléia de morango na torrada e cortei um pedaço do bolo de laranja, que cheira por toda a cozinha, colocando na sua frente.
— Não tenho apetite, senhorita. Carter. — Ele diz sério e olho mais de perto seu rosto e ele tem olheiras profundas, sua barba parece que não é raspada há semanas e seu rosto está um pouco abatido.
— Consumir-se assim não adiantará nada. - Eu olho nos seus olhos. —Parece que você queria estar morto.
— Talvez você tenha razão nisso, então por que não me deixa em paz? —Seu tom rude não me assusta, pelo contrário, me irrita bastante.
—Sua grosseria não me impedirá de dizer as coisas que penso. — digo com firmeza, olhando em seus lindos olhos azuis. — Você tem uma filha para criar e parece que se esqueceu dela, ela pode ser apenas um bebê mas sente toda a sua rejeição.
—Você não sabe do que está falando! — Ele se levanta bravo comigo e isso me dá mais forças para falar tudo o que está preso na garganta.
—Eu sei o que estou vendo! — Eu fico na frente dele em igualdade de condições. —Se você esperava que ela fosse uma babá que faria você esquecer a existência de sua filha, você se enganou muito. Clarissa precisa de você, ela precisa da presença do pai.
—Não consigo olhar para ela! — Grita de dor. —Não posso olhar para ela e saber que é minha culpa que a mãe dela esteja morta! Não sei cuidar dela, sou um fracasso como pai e o seu tempo e o dela estão contados nesta casa, vou convencer o homem que deveria ser seu pai a aceitar a guarda de Clarissa.
—Você vai desistir da sua filha? —Minha decepção fica evidente em cada uma de minhas palavras. —Ela é sua filha Christian, ela deveria ficar com o pai, não com ninguém. — Coloquei meu dedo em seu peito e ele apenas me olha surpreso com minha atitude. —Assuma suas responsabilidades e entenda de uma vez por todas que uma fatalidade levou a mãe de Clarissa.
- Você não entende! - Ele diz pegando meus braços e posso sentir seu desespero.
— Você não está sozinho, você tem seus pais que te dão todo o apoio, você tem a mim...
—Eles não são meus pais e você é apenas a babá! —O desdém na sua voz me machuca como uma faca afiada. Amo Clarissa e me dói ser tratada simplesmente como sua babá, embora saiba que isso é tudo que sou.
—Você não pode reduzir pessoas assim. Senhor Josh e senhora Clarisse amam você, qualquer um pode ver isso, independente de você ter ou não o mesmo sangue ou o mesmo nome deles.
- E você? — Olhe nos meus olhos e sinto a eletricidade percorrer todo o meu corpo.
Como posso dizer a ele que meus sentimentos estão confusos desde que ele me beijou, há algumas semanas? Como posso colocar em palavras algo que nem sei explicar?
— Eu amo Clarissa e quero o melhor para ela. E o melhor para ela é que o pai está mais presente. — Limito-me a dizer o que sinto apenas pela princesinha e não menti uma palavra se quiser.
—Você ainda a amaria se não fosse tão bem pago para cuidar dela? —E aí estão as suas acusações habituais. Quando penso que vou tirar dele a mínima consideração e ele me acusa demais.
—Você tem toda razão, Sr. Martinezn. — Tento manter a voz firme para mostrar a ele o quanto tenho vontade de chorar. - Permissão. — Saio correndo da cozinha tentando conter as lágrimas.
Por que ele me machuca desse jeito? O que eu fiz de tão errado com esse homem para merecer tanta hostilidade?
— Angelina... — Paro ao ouvir seus passos atrás de mim e tento enxugar as lágrimas, virando-me de costas para ela. — Não foi isso que eu quis dizer... — me viro para ele, que me olha surpreso. - Você está chorando?
Ou minha mente está vendo coisas que não vê ou senti alguma culpa em seu tom de voz.
—Clarissa deve acordar a qualquer minuto e é melhor eu estar aí! — Tento me afastar, mas ele segura meu braço gentilmente.
— Me desculpe... — Sua voz agora está suave e ele levanta a mão acariciando meu rosto e eu fecho os olhos me permitindo sentir todas as sensações que isso provoca em mim.
Antes que possamos dizer ou fazer qualquer coisa, o choro de Clarissa nos acorda daquele momento e ela se afasta de mim como se minha pele a estivesse queimando. Opto pelo silêncio e saio do lado dele, me aproximando do bebê que chora a plenos pulmões.
cristão
Fraco, covarde, é isso que sou. Não sei como lidar com a perda de Brianna, com o fato de ser um completo fracasso como pai. E como se todas essas perguntas não estivessem me mantendo acordado à noite, lá está Angelina para mexer com o resto dos meus sentidos restantes.
Por mais bêbado que eu estivesse naquele dia, nunca esqueceria a sensação de beijá-la, a suavidade de seus lábios e a forma como seu corpo se encaixava perfeitamente no meu.
A forma como ela dá tudo para minha filha, ela está sendo mais que uma babá e embora ela nunca vá admitir isso em voz alta, não posso negar que é isso que vejo. Posso sentir o amor que ele tem por Clarissa, como os dois estão conectados.
No entanto, sempre que posso, acuso-a de coisas que sei que ela não fez. Quero mostrar o tempo todo que ela está com Brianna, que ela tem as mesmas intenções ocultas.
Já se passaram três meses desde a morte dela e todas as coisas que todos disseram sobre ela estão começando a fazer sentido, é como se eu finalmente estivesse acordando para coisas que sempre estiveram na minha cara mas nunca vi. E doeu-me perceber lentamente que ela nunca me amou.
Já experimentei o que é ser amado por alguém? Meus pais não me amavam, eu era apenas um troféu para eles exibirem na alta sociedade, a mulher que eu amava nunca sentiu nada por mim.
Como posso ser bom para minha filha, amá-la incondicionalmente se nunca senti esse sentimento por parte de ninguém?
— Vou entrar no quarto do meu filho e quero que alguém me impeça! — Levanto-me para saber o que está acontecendo lá fora e antes que possa sair do meu escritório, tia Clarisse invade e me olha furiosa. —Quanto tempo você achou que fugiria de mim?
— Sr. Martinezn, tentei evitar... — Minha secretária tenta se justificar e eu apenas aceno com a cabeça pedindo para ela sair e ela obedece imediatamente.
— Não apareça em casa no almoço de domingo, mande apenas Clarissa, vou na sua casa quase todos os dias, mas não te vejo, nem na sua companhia você pediu para não ser incomodado. O que está acontecendo com você? —Tia me olha preocupada e mantenho a expressão fria.
—Estou trabalhando demais, só isso. Não tenho tempo para essas bobagens que você e sua família inventam, não preciso da pena dos Scotts!
- Pena? - Ele diz olhando para mim. —Bobagem da minha parte e da minha família? —Ela repete minhas palavras com quem não acredita no que eu disse.
—O que você veio fazer aqui, Clarisse? Não deixo mais você vir na minha casa ver minha filha, mando ela para seus almoços ridículos, o que mais você quer de mim? — Digo cansado de tudo isso, sentindo como se carregasse o peso do mundo inteiro nos ombros.
—Você acha que usar esse tom comigo vai me assustar, garoto? — Ela diz calmamente, colocando a bolsa no sofá e caminhando em minha direção. — Quero que você volte a fazer parte da sua família, Chris. Você pode tentar agir como durão e sem coração, mas conheço o garoto que criei desde que ele tinha sete anos. — Ele segura meu rosto entre as mãos e tem aquele olhar carinhoso que sempre tem para mim. — Você não precisa carregar esse fardo sozinho, você tem família, irmãos, pai, mãe, amigos, sobrinhos, um batalhão de pessoas dispostas a te ajudar a carregar esse peso. — Seus dedos enxugam as lágrimas que eu não percebi que estavam molhadas em meu rosto.
— Me sinto perdida, não sei como olhar para Melissa sabendo que ela quase morreu por minha causa. E tem o Logan, ele não conseguiu ver grávida a mulher que ama e quase perdeu o nascimento dos filhos, por minha causa. Como posso sentar ao lado de pessoas a quem fiz tanto mal e agir como se nada tivesse acontecido? — Confesso meus motivos, deixando que ela veja todas as minhas inseguranças.
— Meu filho... — Vejo como minha dor machuca você. — Christian, ninguém te culpa pelas coisas que aconteceram, você e Logan eram apenas peças naquele joguinho doentio da cobra! Você está deixando a culpa te consumir e não está vendo todas as segundas chances que a vida lhe dá.
Queria refutar suas palavras, encontrar argumentos para provar o quão errada ela está, porém, suas palavras se misturam com o que Angelina me disse esta manhã. Confundem-se com os meus próprios pensamentos, com o desejo de ter uma segunda chance e com a culpa que parece não querer me abandonar.
— Estamos todos respeitando o seu tempo, mas chega de se afastar da sua família. — Olho para ela com uma sobrancelha levantada quando ela fala todo mundo. — Eu sou sua mãe, garoto, o tempo vira um relógio. - Ele diz com um olhar de hostilidade e lá está a dona Clarisse que eu conheço. —Se você não aparecer em casa, vou te esmagar como uma lata e te devolver ao útero, até que você nasça direito! —Ele segura minha orelha e eu me curvo de dor. —Se você me chamar de Clarisse de novo, será a última palavra que você dirá aqui nesta terra.
—Ei mãe, está doendo, pare! — Tento tirar sua mão da minha orelha, que já deve estar vermelha. De repente, sua mão solta minha orelha e ela me olha com entusiasmo. - O que aconteceu? Você sente alguma coisa? — Estou preocupado em pegar a mão dela e fazê-la sentar. —Vou chamar uma ambulância!
— Você vai contar ao socorrista que sua mãe não está se sentindo bem? Nesse caso, ele pode até fingir um desmaio. —Ele disse radiante, olhando para mim com lágrimas nos olhos.
O que aconteceu com ela? Tia Clarisse nunca é muito normal, mas hoje está se superando.
—Tia , você está se sentindo bem? —Seu sorriso desaparece e ele me olha com uma cara decepcionada.
— Deus me deu quatro filhos, mas todos tiveram que ser como o Josh, que decepção! — Ela se levanta sozinha e vai procurar sua bolsa. — Vou te esperar em casa no domingo, e não me faça te procurar, Christian! —Ele deixa a ameaça no ar e sai do meu escritório e eu fico ali olhando para a porta parecendo um idiota sem saber o que aconteceu.
Angelina
Sinceramente não sei como continuo com este trabalho, está mais do que claro que meu chefe e eu não nos damos bem. Nosso relacionamento, se é que posso chamar assim, se resume a nós dois ignorando ou discutindo um com o outro.
Então por que me preocupo tanto com ele? Fiquei preocupado a ponto de ligar para dona Clarisse e pedir que ela fosse conversar com ele, porque ele não parecia bem. Embora em todas as oportunidades ele faça questão de me machucar com suas palavras rudes, ainda me preocupo com ele.