Marina Baker
Eu encarei Santino Berluccine. Agora que as luzes do quarto foram acesas, eu podia ver todos os detalhes de seu rosto. Seus olhos eram negros, impenetráveis. A cicatriz bem funda, descia de sua têmpora até seu queixo, as queimaduras no seu pescoço deixavam claro a gravidade do acidente. Foi o mesmo acidente que nos vitimou?
Tivemos um acidente de carro. Nesse dia, ele estava me levando a um estúdio, onde eu faria um teste para entrar na carreira de modelo. Logo que ele se recuperou, ele viajou para a África e eu nunca mais o tinha visto.
Então, finalmente, meus olhos encontram com a intensidade dos olhos dele, e eu sinto meu coração agitado, um pouco abalado quando vejo que ele está concentrado em mim.
—Marina, minha querida. Que agradável surpresa. Por que não me chamou, quando chegou? Teria evitado todo esse mal-entendido. —Lola disse jovial.
—Quando cheguei, já passava de meia-noite. Lolita. — Disse de forma carinhosa para a minha fada madrinha, pois era assim que eu a via. Ela, tipo, me adotou desde o acidente. — E toda vez que te visito, fico com esse quarto, você sabe disso. Não pensei que Santino viria hoje, e pelo visto, você também não.
Ela me deu uma risadinha nervosa.
—Bem...está certo. —Lola olhou de um jeito estranho para nós dois. —Já é de madrugada, e Santino deve estar cansado. Eu vou com ele até a sala enquanto você pega suas coisas e leva para outro quarto.
Eu evitei olhar Santino, ele me inibia. Mas eu estava o tempo todo ciente dele. Com aquele corpo bronzeado, com sua óbvia força, com seu porte austero. Parecia um guerreiro medieval com aqueles músculos definidos e com aquela face marcada.
—Nada disso! —A voz poderosa de Santino fez os meus joelhos fraquejarem. Seus olhos agora me olhavam com uma hostilidade que eu não tinha visto antes neles. —Deixe-a aqui. Ela já está instalada, eu vou para o outro quarto.
O silêncio ficou entre nós. Ele me encarava, com um brilho determinado no seu olhar. Fiquei tão perplexa com seu jeito rude em dizer isso que demorei alguns segundos para compreender toda a sua grosseria gratuita.
Lola quando sentiu o clima tenso, interveio:
—Então, se está tudo resolvido, boa noite, Marina. —Ela se virou para Santino. —Vamos Santino.
Vamos Santino? Eu pisquei atordoada. Lola parecia louca para tirá-lo do quarto.
E as apresentações? Tipo: Oi Marina, quanto tempo!
Perdoe-me por ter entrado no seu quarto assim, eu não sabia que você estava instalada nesse quarto.
Como tem passado?
Não nos falamos desde o acidente. Olha, mais tarde conversamos sobre os velhos tempos.
Santino se virou em direção a porta. Lola o abraçou.
— Onde estão suas malas?
—Eu as deixei na sala, estava tão cansado que não me dei o trabalho de subir com elas. —E essas foram as últimas palavras que eu ouvi até eles deixarem o quarto.
Separei os lábios, ainda atordoada com o fato deles saírem com tanta pressa do meu quarto.
Suspirei, talvez ele estivesse cansado. Sua irritação devia ser devido a isso também. Sei lá...