CAPÍTULO 10 – CAÇANDO COM O ALFA
Rendido ao cansaço, mergulhei em um sono profundo e enigmático, onde me vi em uma densa floresta envolta em neblina. Lá, deparei-me com minha mãe próxima a uma árvore sombria, acompanhada por um lobo gigante de pelagem clara. Desesperadamente, tentei alertá-la:
- Mãe, cuidado!
No entanto, minhas palavras não chegaram até ela, como se eu fosse invisível para os dois.
- Você tem certeza disso? – O lobo claro indagou, esfregando sua enorme cabeça em seu quadril.
- Tenho, meu amor... – Ela respondeu com um sorriso, acariciando o topo da cabeça do lobo. – Com este feitiço, eles não conseguirão nos encontrar!
Eles? Quem eram "eles"? Essa pergunta ecoava em minha mente, mas ninguém parecia disposto a respondê-la.
Minha mãe virou-se para encarar a fera, acariciando sua barriga, e o lobo aproximou-se farejando e lambendo a barriga dela.
- Vamos protegê-los!
- Você falou no plural? – Minha mãe levou a mão à boca em um gesto de surpresa. Num piscar de olhos, o lobo à sua frente se transformou em um humano, revelando um sorriso gentil, enquanto tomava as mãos de minha mãe e dizia:
- Sim, minha querida, são duas pestinhas em sua barriga! – Ele brincou.
Conforme eu me aproximava, reconheci sua voz, e para minha surpresa, aquele homem era o meu pai!
Meu pai era um lobo? Essa revelação deixou-me perplexa.
Minha mãe agarrou-o felizmente, antes de ser girada no ar e abraçada por ele.
- Os deuses podem nos amaldiçoar – Ela afastou-se, olhando para ele com preocupação. – O que faremos diante disso?
- Os deuses não podem condenar o nosso amor – Meu pai deu de ombros com determinação. – Não me importo de ser amaldiçoado, se isso significar passar o resto da minha vida ao seu lado! – Ele enxugou uma lágrima que escorria pelo rosto dela.
Ouvi ruídos vindo de todos os cantos da floresta. Uma mulher emergiu, vestindo uma capa preta com detalhes em roxo. Seus olhos estavam dilatados e negros, e lobos a rodeavam, como se estivessem a acompanhando. Senti a tensão no ar. Meu pai havia se transformado em sua forma lupina novamente, e minha mãe tinha um brilho em suas mãos, apontando para o grupo que os ameaçava.
A bruxa misteriosa na floresta gritou: - Não são os Deuses que vocês deveriam temer! Vamos matá-los e acabar com esses frutos proibidos!
Os lobos rosnaram e avançaram na direção deles sem piedade.
Acordei aos gritos, sentindo minha pulsação acelerada. Levantei-me, apesar da dor, e comecei a andar de um lado para o outro. A fúria estava me consumindo. - Quem eram meus pais de verdade? Quem eram aquelas pessoas? - me questionei.
Rugi ferozmente, sentindo as veias pulsarem. Comecei a atacar tudo que havia no quarto, mordendo o colchão e rasgando-o entre os dentes. A raiva era insuportável, algo dentro de mim explodia no peito. Eu desejava matar algo, desejava sangue, carne, eu...
Parei abruptamente ao perceber que alguém estava parado na porta, me observando com calma.
- Veio para terminar o serviço, Rei? – Ironizei ao vê-lo me analisar.
- Do jeito que se comporta, você mesma fará o serviço! – Abruptamente ele rosnou adentrando ao quarto e olhando a refeição ao chão. – Você não comeu nada?
Dei de ombros – A única coisa que quero de você é meu sobrinho de volta!
- Desistiu de morrer? – Havia ironia em suas palavras quando ele me fitou – Como pretende sobreviver se não se alimenta?
- Preocupada comigo? Quanta gentileza. – Com as presas à mostra, cuspi as palavras em sua direção.
- Você é bem audaciosa, não é mesmo? – Seu tom era descontraído, o que me provocava mais raiva.
- E o que fará, Rei Lycan... Me matar?
Habilmente, ele cortou a distância entre nós deixando suas presas bem próximas ao meu pescoço, fazendo-me erguer ainda mais minha cabeça, deixando o espaço livre para ele morder... Eu queria, queria que ele rasgasse minha garganta com suas presas e me livrasse desta maldição!
Ele parece ter notado minhas intenções, pois havia rosnado baixinho e passou a língua na pelagem do meu pescoço, causando-me arrepios estranhos. Senti uma leve onda de excitação em minha intimidade, cruzei as patas o fazendo rir!
- Aaa Lobinha, vejo que é tão maliciosa quanto brava! – Em um ganido, o lobo à minha frente me provocou.
- Não seja condescendente, Alfa... Sou um animal agora, infelizmente, o cio se faz presente! – Esbravejei, rosnando enquanto me afastava dele. - Não pense que por causa disto me deitaria com você!
Ele voltou os seus olhos em minha direção, parecendo se divertir com a situação a sua frente.
- Venha, me acompanhe - ele ordenou.
- Para onde vamos? – Indaguei curiosa.
- Você desperdiçou a comida que caçamos, isto é inaceitável. Sairá comigo para caçar e repor o que foi perdido! – Rosnando, ele se aproximou predatório.
- Não irei a lugar algum com você! – Dei alguns passos para trás, sendo encurralada contra a parede.
- Já te disse, sendo fraca deste jeito não deveria se opor ao que desejo. – Sua voz carregava uma malícia, eu não sabia distinguir se ele queria me matar ou brincar antes.
- E se eu recusar? – Me esforcei, o encarando.
- Vou arrastá-la floresta a fora, e se não começar a caçar, você será nossa ceia...– Ele pausou vendo o choque em meus olhos. – E não pense que a mataremos rapidamente, podemos lhe devorar por partes e tornar o processo muito mais doloroso!
Engoli em seco com a cena que havia se formado em minha mente, funguei entregando os pontos.
- Ainda me sinto fraca – Declarei, tentando usar este fato como desculpa.
- Coma o que jogou ao chão, te espero! – Ele deu de ombros.
Estava claro que ele não se importava com o que eu sentia; afinal, por que se importaria? Eu era apenas a humana recém-transformada em um fardo.
- Se eu conseguir caçar... - Procurei as palavras em minha mente - Você me permite ver o Conan?
Seus olhos cintilaram com a proposta.
- Você irá caçar! - O Alfa ordenou. - Você o verá quando for a hora certa.
- Hora certa? - Ergui as orelhas, surpresa. - Quando será a hora certa?
- Você precisa aprender a controlar sua transformação, sair da sua forma lupina para humana. - Ele respondeu tranquilamente, olhando-me de cima abaixo. Podia sentir o cheiro de sua excitação e perceber seu esforço para a ignorar.
