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CAPÍTULO 09 – REJEITANDO A FORMA LUPINA

- Por que isso está acontecendo? - A voz de Sophie era como um sussurro carregado de confusão e dor.

Inconsciente, ela aproximou seu focinho no pescoço do Alfa, proporcionando arrepios por todo seu pelo. Um misto de desejo e necessidade de possuí-la o dominou. A loba à sua frente acabara de passar por uma transformação, não perdeu sua racionalidade, um processo diferente de tudo que o Rei Laycan havia visto. Ela havia sido prometida por sua Deusa a ele. Seus efeitos já eram notáveis, ele estava fazendo um esforço tremendo para não a reivindicar. Era cedo demais; ela ainda precisaria entender o que havia se tornado, precisava ser treinada para controlar sua transformação e depois deveria aceitá-lo como seu companheiro. Diante de seus olhos, ele sabia que não seria tarefa fácil, mas o desafio de conquistar sua presa era tentador.

- Por que fui amaldiçoada? - A pergunta de Sophie pegou o Alfa de surpresa, tirando-o de seus desvaneios obscuros. Sua voz soou como um lamento, embarcado de tristeza.

Recolhendo seu focinho, ela deitou-se sobre as patas, encolhendo-se no canto e afastando-se dele. Uma sensação estranha percorreu por seu corpo, como se um vazio houvesse se instalado. Era estranho como se sentia com o seu distanciamento, não era natural!

O Alfa sabia que ter uma companheira de destino era intenso, era um presente direto da Deusa, e obviamente mexeria ao extremo com seus instintos. Ele só não imaginava que seria tanto. Decidido a agir, baixou a cabeça e pressionou seu focinho contra o dela, obrigando-a a encará-lo.

- Você não foi amaldiçoada, foi abençoada por Luna! - Tentou confortá-la, transmitindo sua tranquilidade.

- Não é assim que me sinto - respondeu ela, sua voz carregada de um profundo autodesprezo.

Sem temer, a loba virou as costas para o Alfa e encarou a parede, sua postura denotava derrota. Ela deitou a cabeça entre as patas, buscando refúgio enquanto derramava lágrimas silenciosas.

- Por favor, vá embora! - Seu pedido tremulo se transformou em uma súplica desesperada, não suportando mais conter as lágrimas que rolavam por seu pelo branco.

- Tente descansar - ele se levantou e orientou, - Vou pedir que tragam algo para aliviar sua dor e comida, as primeiras transformações exigem muito do corpo.

- Não estou com fome. Apenas... me deixe morrer! - Sua dor era palpável.

- Não estamos discutindo se você vai comer ou não. Pensei que quisesse proteger seu filhote! - O Lycan a provocou intencionalmente para despertar sua força interior.

Sophie ergueu o focinho, mas seus olhos estavam opacos, destituídos do brilho desafiador que ele havia conhecido. - Como você mesmo disse, como posso protegê-lo se mal consigo arranhar você? - A fragilidade em sua voz, o fazendo sentir seu sofrimento, era até absurda a conexão criada pela Lua. Ela voltou a encarar o chão, encolhendo-se ainda mais no canto. - Agora saia - seu rosnado era feroz, - Pelo menos hoje, me deixe em paz! - A angústia dela ecoava em suas palavras, seu cheiro era avassalador, e seu tumulto emocional o atingia profundamente.

- Deusa, por que essa intensidade toda? - Ele sussurrou mentalmente, buscando conexão com sua Deidade, mas não houve resposta. Respirando fundo, o lobo deu alguns passos à frente.

- Por favor, Alpha, te suplico, apenas hoje, deixe-me enfrentar essa dor sozinha- Sophie pediu em um sussurro entre soluços e lágrimas.

Após um momento de reflexão, mesmo relutante, o Lycan à sua frente cedeu ao seu pedido. Por mais que sua vontade fosse de erguer a face Lupina dela e fazê-la enfrentar isso com honra, aceitando seu destino abençoado e agradecer a sua grande Deusa pela honra de se tornar a Luna de um Alfa tão poderoso como ele!

Mas lá estava o hábito humano, em reclamar ao invés de agradecer! Um rosnado desprezível escapou por entre suas presas. Talvez, por hoje, fosse o melhor caminho a seguir, deixando-a em paz.

Pov: Sophie

Senti um vazio quando ele se afastou, saindo do quarto e me deixando sozinha com o meu sofrimento. - Por que não deixei que ele me matasse na floresta? Teria sido melhor virar ração de lobos! - murmurei, angustiada.

A incerteza pairava sobre mim. Nunca mais teria minha forma humana? Como Conan reagiria me vendo assim? Não podia deixar de pensar em como eu não poderia mais pegá-lo no colo ou dar-lhe banho com carinho.

- Agatha, como pode fazer isso comigo? - pensei, um misto de raiva e saudades me consumindo. Além de criar o filho dela, lutar contra lobos e enfrentar um ex-namorado maluco, agora tinha que suportar uma transformação excruciante.

- Inferno, viu - rugi de fúria, esticando minhas patas e avaliando as garras expostas. Seria possível encolhê-las? Fiquei focada, imaginando como poderia recolhê-las, mas suspirei, esforçando-me mais e nada aconteceu.

- Ótimo, sou tão inútil como loba quanto humana - me autodepreciei enquanto sentia dores terríveis nas articulações. Comecei a me lamber, limpando partes de sangue que haviam se misturado ao pelo. O Alfa se transformava com perfeição... Como era possível? Será que ele também sentia essa dor ou havia se acostumado?

- Aquele idiota - murmurei, me encolhendo ainda mais. Eu não queria ser isso, odiava e rejeitava essa forma. Gritei em minha mente, ecoando meu desespero.

A porta foi aberta, mas eu não virei o olhar para ver quem era. Reconheci o cheiro de Victória e meu focinho começou a farejar até que minha cabeça se virou na direção dela. Meus olhos estavam semicerrados, e um apetite incontrolável surgiu do nada, como se meu corpo estivesse gritando: - Estamos famintos! - No entanto, minha mente se recusava. Não, não iria me alimentar. Preferia morrer a ser como eles...

- Por favor, tente comer ao menos um pouco... – Victória pediu com carinho – Não desista agora... Conan precisa de você!

O nome do meu sobrinho fez minhas orelhas se erguerem, enquanto eu avaliava minhas próprias reações. Victória continuou com compaixão:

- Ele sente muito a sua falta, tem chorado bastante, está agoniado e não quer se alimentar... – Ela sorriu com gentileza – Parece que a teimosia é de família, não é?

- Não posso simplesmente aparecer na frente dele assim, vou assustá-lo... Eu... – Funguei, tentando conter as lágrimas – Eu o decepcionei!

- Minha querida – Victória se aproximou, e eu rosnei, obrigando-a a parar – Você não o decepcionou. Você o protegeu e continua a proteger, mas não pode desistir agora...

- Por favor, vá embora! – Rosnei, fechando os olhos, desejando que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo.

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