CAPÍTULO 08 – A TRANSFORMAÇÃO
Não demorou muito para que o cair da noite se aproximasse, a Lua no céu estava quase em sua totalidade, indicando que a transformação se aproximava. Senti minha respiração densa, meus instintos estavam apurados, conseguia escutar uma coruja ao fundo da floresta. Ao chão, pude sentir uma cobra se rastejando esgueirando-se para uma toca próxima. Olhei pela janela aberta farejando diversos cheiros que se encontravam naquela mata, desde o orvalho de uma planta até a neblina úmida que dominava a floresta.
- Estou com medo...- confessei, apertando as mãos. O lobo continuava sentado enigmático, sem proferir uma única palavra.
As dores nas articulações começaram, uma reviravolta no estômago e minhas costelas pareciam se espaçar por dentro, como se abrissem espaço para acomodar uma alma canídea. - Aiii, que dor...- gemi, agachando-me e envolvendo os braços em volta da minha barriga. - Eu não quero isso...- supliquei, com os olhos marejados, olhando para o Alfa à minha frente. - Por favor, me ajude a evitar isso!
- Aiii, merda, droga – Berrei, entregando-me à dor. Um suor frio escorreu pela minha testa, quando ergui a mão para secar percebi que pelos começaram a brotar. – Mãe, Pai, por favor me ajudem! – Sussurrei, sentindo a tensão em cada parte do meu corpo. Parecia que meu ser inteiro estava sendo dilacerado e moldado, e jurei que um rugido havia escapado dos meus pulmões.
Conforme avisado, meus membros começaram a alongar-se, causando uma aflição indescritível. Comecei a delirar, sentindo minha mente racional sendo empurrada para o fundo dos meus pensamentos, como se algo estivesse tentando me aprisionar, tentando me dominar! Não sabia se aquilo era um delírio ou talvez um sonho...
À minha frente, surgiu um rio que refletia a lua iluminada, e reconheci minha irmã ajoelhada em uma espécie de prece. Corri em sua direção, desesperada por respostas, necessitando de ajuda, querendo que a dor cessasse.
Interrompi minha corrida quando me deparei com uma loba branca majestosa, cujos olhos refletiam a luz da Lua. Sua postura exalava graça, apesar do tamanho imponente, a loba brilhava com uma aura acolhedora. Fiquei paralisada, vendo minha irmã rogar à entidade mística, implorando por uma bênção.
- Conceda-me esta bênção, Mãe Luna, eu te imploro - suplicava Agatha.
Os olhos da loba mística acompanharam atentamente seu pedido desesperado.
- Agatha, levante-se e corra. Ela vai te matar! - gritei, temendo por ela.
Agatha dirigiu-me um olhar gentil e sussurrou, - Me perdoe, minha irmã. Eu preciso que a Deusa Luna te torne forte para proteger nosso bem mais precioso.
- Me tornar forte? - indaguei, perplexa.
A Deusa mística voltou-se em minha direção, movendo-se com uma graça celestial. Seus olhos pareciam refletir o próprio céu estrelado, e sua pelagem irradiava o brilho da lua.
- Minha criança - ela disse com encanto - Vou atender às preces da sua irmã. Hoje, você renascerá como minha filha, destinada ao Rei, incumbida por mim de trazer paz, sabedoria e proteção aos meus filhotes.
- Eu não entendo... - Minha confusão era palpável, mas percebi que a dor havia desaparecido, como se a presença poderosa à minha frente tivesse aliviado minha angústia.
A Deusa Lua continuou avançando em minha direção, atravessando meu corpo e me enchendo com um calor acolhedor.
- Ele vai te guiar quando chegar a hora. Acorde, criança, e cumpra o seu destino. - Em um sussurro final, ela desapareceu tão rapidamente quanto apareceu.
Rosnei ao me deparar frente a frente com o Alfa que estava parado com seu focinho centímetros dos meus... Ele me analisava curioso, como se aguardasse o pior, havia uma confusão palpável em seus olhos.
- Você é uma híbrida! – Por fim, ele indagou, perplexo, não em um tom de pergunta, mas sim em afirmação.
Alcancei uma tigela de água posta à mesa e, ao me olhar, ficou claro que eu havia me tornado um ser incomum. Meus olhos, antes azuis, haviam mudado de cor, com um verde no olho esquerdo e um azul mais intenso no direito. Minha face agora estava coberta de pelos, com um focinho preto ocupando o lugar do meu antigo nariz humano.
- O que eu sou? - rosnei, os caninos à mostra, avançando em direção ao lobo que me observava intrigado.
- Uma loba! – Ele exclamou ameaçando me alcançar para avaliar.
Movida pela possibilidade de força e modo de defesa, virei o atacando em busca de respostas sobre o paradeiro do meu sobrinho. Talvez, se derrotasse o Alfa, seus lacaios me temessem o suficiente para nos deixar em paz.
- Eu vou te matar! - Rosnei com voracidade, investindo contra o Rei, que não resistiu ao ataque. Consegui abocanhar seu ombro, mas, para minha surpresa, minha mordida não teve o impacto esperado. Tentei aplicar mais força, buscando abrir uma ferida em sua carne, porém, minha mandíbula me traiu com uma contração que me forçou a soltá-lo.
Recuei, incapaz de o encarar
- Como pretende me matar se nem consegue me causar um arranhão? - As palavras do Alfa continham verdades. Recuei cada vez mais até um canto da parede, tomada por um desespero profundo e receando o possível contra-ataque dele devido à minha ousadia de tê-lo atacado.
O Alfa imponente a observou calmamente, com uma sensação estranha. Não só o cheiro da Fema à sua frente havia mudado, mas suas emoções eram palpáveis. Como se uma conexão houvesse se estabelecido os ligando, sua dor, o peso em seu coração, a agonia em seus pulmões e o desespero em sua alma eram agora sentidos por ele.
- Deusa, o que está tentando me dizer? - Laycan sussurrou mentalmente. Uma brisa entrou no quarto, passando pela recém-lobo que tremia à sua frente, sussurros percorreram por sua orelha em resposta, "Destinada."
- Mas ela era humana... – Ele contestou hesitante
A brisa se tornará mais intensa como um vendaval o lançando contra a parede, em uma rajada as palavras foram proliferadas ao ar “Aceite o seu destino, Alfa amaldiçoado!”
A lucidez em sua mente se fez presente, visto que irritar sua Deusa novamente teria consequências inimagináveis:
- Lua, obrigado por não me abandonar – Em um aceno com a cabeça, o Alfa demonstrou sua gratidão por uma resposta de sua lua, que há tempos não respondia suas preces, desde sua maldição. Ele caminhou até a loba albina, que rosnava encurralada.
- Pare, afaste-se! - Ela rugiu entre os dentes. Sua fraqueza era visível, seu corpo estava encolhido, como um cachorro encurralado totalmente amedrontado, a visão chegava a ser patética, mas o Rei não contestaria a escolha de sua Deidade.
- Vá embora, me deixe! - Sophie gritava para o lobo que continuava a se aproximar, mesmo diante de sua voz carregada de fúria. Vendo que sua rebeldia não o detinha, aguardou sua aproximação para deferir uma mordida em sua pata. Calmo como se seus ataques não incomodassem, ele abaixou a cabeça e esfregou o focinho em seu pelo, numa tentativa de acalmá-la.
Tentando resistir, Sophie se esforçou muito para colocar mais pressão na mordida, porém, seu corpo todo doía, até mesmo os caninos. Finalmente cedendo à força do macho, ela se entregou ao desespero enquanto lágrimas fluíam livremente por sua pelagem.
