A GÊMEA ERRADA PARA O ALFA CERTO
Resumo
Deslizei por baixo dos seus braços, buscando um espaço seguro para respirar. Percebi um sorriso divertido escapar de seus lábios, mas optei por ignorá-lo. - A transformação vai doer? – Abaixei o olhar, perguntando em um sussurro singelo. - Mais do que você possa imaginar, humana... – A franqueza em suas palavras me fez erguer o queixo em sua direção. - Como é a transformação? - Perguntei, o fazendo voltar a se aproximar falando pausado. - Primeiro, seus ossos vão começar a quebrar, te lançando ao chão. – Seus olhos estavam cerrados. – Depois acontecerá o crescimento de pelos densos em todo o seu corpo. O alongamento dos membros, considero a parte mais excitante da dor. – Ele brincou com um tilintar da língua antes de prosseguir. – Aí vem o encurtamento do focinho e o desenvolvimento de garras e presas afiadas. Respirei fundo, tentando processar o que estava por vir. - Algo mais que devo saber? – Com a voz trêmula, perguntei. - A perda de controle é iminente. – Seus olhos cintilaram, como se tivesse percorrido alguma lembrança escondida em sua mente. – A sede por sangue é insaciável, a fera a dominará, fazendo agir principalmente por instintos primitivos. Resultando em ataques violentos contra qualquer pessoa ou animal à sua frente! - Me tornarei irracional? – Tapei a boca, tentando controlar o nó que se formara em minha garganta. – Como vocês controlam isso? Rindo, ele já me alcançara, puxando-me para perto e fincando suas garras não muito fundo em meu quadril, provocando um gemido de dor. - É necessário força, treinamento e ter a Deusa ao seu lado, humana...– Ele encolheu as garras, deixando apenas uma cumprida, e voltou ao meu queixo, arranhando-o e recolhendo uma gota de sangue. Lambeu-a e sorriu. – Não se preocupe, estarei aqui em todo o seu processo... - Para garantir que morrerei? – Com lágrimas nos olhos, dei mais alguns passos à frente, entrando em seu jogo perigoso, notei sua respiração um pouco mais densa. - Você lembra muito a ela. – Ele murmurou, encostando sua testa na minha. – Para garantir que sua transformação não saia do controle e para testemunhar a escolha da Deidade. – Com mais pressão na testa, me obrigou a ceder alguns passos com a dor. - Estou com medo...- confessei, apertando as mãos. O lobo continuava sentado enigmático, sem proferir uma única palavra. As dores nas articulações começaram, uma reviravolta no estômago e minhas costelas pareciam se espaçar por dentro, como se abrissem espaço para acomodar uma alma canídea. - Aiii, que dor...- gemi, agachando-me e envolvendo os braços em volta da minha barriga. - Eu não quero isso...- supliquei, com os olhos marejados, olhando para o Alfa à minha frente. - Por favor, me ajude a evitar isso! - Aiii, merda, droga – Berrei, entregando-me à dor. Um suor frio escorreu pela minha testa, quando ergui a mão para secar percebi que pelos começaram a brotar. – Mãe, Pai, por favor me ajudem! – Sussurrei, sentindo a tensão em cada parte do meu corpo. Parecia que meu ser inteiro estava sendo dilacerado e moldado, e jurei que um rugido havia escapado dos meus pulmões. Conforme avisado, meus membros começaram a alongar-se, causando uma aflição indescritível. Comecei a delirar, sentindo minha mente racional sendo empurrada para o fundo dos meus pensamentos, como se algo estivesse tentando me aprisionar, tentando me dominar! Não sabia se aquilo era um delírio ou talvez um sonho... "A Gêmea Errada para o Alfa Certo" é uma emocionante narrativa repleta de reviravoltas, poderes sobrenaturais, traições e conflitos, enquanto Sophie enfrenta escolhas impossíveis e busca uma maneira de trazer paz a um mundo dividido por rivalidades lupinas, desejos por poder e o fim de uma maldição.
PRÓLOGO
A respiração dela estava pesada devido ao ar gélido das ruas do Colorado, seus pulmões ardiam a cada inspiração profunda, enquanto buscava desesperadamente ar em sua incansável fuga. Ao longe, ela captou o som ameaçador de um assovio, acompanhado de risadas cruéis e uma promessa carregada de ódio.
- Você não pode escapar de nós. Vamos caçá-la até o inferno, e você pagará por sua traição! - declarou um dos perseguidores.
- Malditos! - Agatha sussurrou para si mesma, exausta. - Por que não me deixam em paz?
Dobrando a esquina e adentrando um beco escuro, ela acreditou ter encontrado um refúgio temporário. No entanto, antes que pudesse recuperar o fôlego, passos pesados se aproximaram. Um vulto na escuridão emergiu na forma de um lobo, com presas à mostra, anunciando claramente o perigo iminente.
- Por favor, deixem-me em paz... Prometo que não revelarei nada a ninguém! - Suplicou Agatha à fera diante dela.
- Ah, minha querida, não podemos deixá-la escapar. Você carrega nossa vitória contra ele, e precisamos do filhote! - rugiu o ser sobrenatural, lançando a ela um olhar frio que a fez tremer.
- Isso não fazia parte do acordo - Agatha apertou suas mãos com firmeza. - Não envolvia um inocente. Vocês me usaram! - protestou ela com firmeza.
- Usamos? Haha, não foi exatamente isso que você fez com ele? O que acha que acontecerá quando ele descobrir que você era uma infiltrada que o seduziu e gerou seu herdeiro como moeda de troca para outra alcateia, apenas para adquirir dinheiro e poder? - O tom do ser se tornou ainda mais ameaçador, incitando-o a avançar em sua direção.
- Vocês não farão nada se não conseguirem nos encontrar! - Agatha alisou sua barriga, posicionando-se defensivamente, pronta para qualquer ataque. Nesse momento, um lobo de pelagem marrom quente investiu com voracidade, tentando abocanhar e rasgar com suas garras afiadas. Agatha sibilou enquanto esquivava habilmente, tirando rapidamente um pó areoso do bolso e soprando-o no focinho de seu predador. O lobo, agora desorientado, espirrou.
- MALDITA, O QUE É ISSO? - o inimigo exclamou enquanto sua visão turvava, fazendo-o cambalear de um lado para o outro.
- Um presentinho das bruxas. Volte para as sombras de onde veio e avise ao líder da Alcateia da Lua de Sangue que vocês NUNCA colocarão as garras no meu filho! - Com isso, Agatha virou as costas para fugir, mas não antes de ouvir suas ameaças finais.
- Vamos encontrá-los. Mataremos todos que você ama. Seu destino está selado, humana...
Olhando por cima do ombro, Agatha pôde ver a seriedade em suas palavras, antes do Beta desmaiar nas ruas frias e congelantes.
Pov: Sophie
Há alguns meses, minha irmã gêmea idêntica, que havia desaparecido, retornou sem maiores explicações. Ela nos fazia usar um colar que exalava um aroma de musgo. Sua justificativa era simples: uma proteção concedida pelas bruxas reclusas do Colorado, adquirida durante uma de suas viagens mundo afora.
Percebi um aumento em seu peso e, consequentemente, em sua inquietude. Ela parecia viver em constante estado de alerta, como se estivesse sendo perseguida por algo invisível.
- Há algo de errado? - questionei, observando-a espalhar um pó roxo cintilante pela casa.
- Preciso te contar algo! - exclamou, seus olhos arregalados encontrando os meus. Seu semblante demonstrava cansaço, algo que eu vinha notando desde seu retorno. Sua boca estava constantemente ressecada, sua pele pálida e fria. Nada daquilo condizia com a jovem mulher de 23 anos que ela era.
- Você não parece bem. Deve deitar-se - eu me aproximei, mas parei subitamente quando senti algo úmido em meus pés. Uma poça de água envolvia suas pernas, com traços de sangue escorrendo por sua pele.
- Não há tempo, eu... Aiiiiiii - Ela gritou, fazendo-me correr para o seu lado em estado de choque.
- O que está acontecendo? - perguntei em desespero.
- Eu, eu, aiiiiii. Estou em trabalho de parto! - sua declaração ecoou em minha mente.
Grávida? Como poderia ser? Como eu não percebi?
- Grávida? Você deve estar delirando. Eu teria percebido.
- Perdoe-me, minha irmã. Você não teria percebido. Estou usando saliva de rã em suas bebidas, para alterar sua visão, distorcendo a minha aparência...
- Você fez o QUÊ? POR QUE FARIA ISTO? - cerrei os punhos, sentindo a raiva crescer.
- Aiii, como dói... Por favor, por favor, Sophie, me ajude...- ela desmaiou em seguida.
- Diabos, AGATHA, por que você sempre atrai confusões? - praguejei antes de levá-la às pressas para o hospital.
Os apitos do aparelho ecoavam, evocando memórias assustadoras do passado, quando recebemos a ligação do hospital informando que algo havia atacado nosso pai. "Os apitos me fazem lembrar daquele terrível dia. Uma ligação do hospital... Nosso pai..." Os policiais locais afirmaram que a criatura responsável era sobrenatural, mas nunca houve prova disso; o caso foi encerrado como um "ataque de urso". Após a morte dele, nossa mãe mergulhou na depressão, acabando por nos deixar.
Agatha sempre foi impulsiva, suas atitudes irresponsáveis me forçaram a amadurecer precocemente, aos 18 anos, e a cuidar dela desde então. Renunciei a muitas coisas por ela, mas sempre garanti que não lhe faltasse nada. Mesmo quando ela desapareceu, me mantive fiel à nossa conta secreta, continuando a depositar dinheiro. Era para emergências, uma lição que aprendemos com nosso pai, que estranhamente vivia em constante estado de alerta, assim como Agatha vinha fazendo nos últimos meses.
- Onde estou - Agatha acorda de seu desmaio, gemendo de dor. - Isso não pode ser um sonho... A dor é insuportável, algo está me rasgando por dentro!
- Aguente firme, vou chamar um médico! - Eu me apresso, mas ela agarra minha mão desesperadamente.
- NÃO!
- O que você está dizendo, Agatha? Você está em trabalho de parto. Precisamos de um médico urgentemente. - Com as sobrancelhas franzidas, aponto para seu estado.
Ela se contorce, gritando de dor. - Por favor, Sophie, me ouça... Por favor, entenda... Aaaah, está doendo tanto!
- Podemos conversar depois. Apenas aguente! - No entanto, ela não solta minha mão.
- ME ESCUTE. Não sei como enfrentar isso sozinha... - Seu olhar está aflito. - Mas você é tudo o que tenho agora. - Concordo com um gesto enquanto acaricio sua mão, tentando acalmá-la.
- O pai desta criança... Ele não é comum, é extraordinário, algo que eu nunca tinha visto. Eu fui tola... Aaaaaah! - Outra onda de dor a interrompe.
- Por favor, deixe-me chamar o médico. Depois lidamos com o idiota que a engravidou. Eu me encarregarei pessoalmente dele! - Sorrio com compreensão.
- NÃO, PRESTA ATENÇÃO. Eu mudei... Tornei-me quase sobre-humana para protegê-lo. Preciso que você o proteja, esconda-o, pois haverá aqueles que o buscarão. O mal o perseguirá.
- Você está falando incoerências, Agatha. Está delirando! - Contesto, mas estranhamente suas palavras parecem lúcidas dadas as circunstâncias.
- SOPHIE, fiz outra grande besteira, por isso desapareci... Eu... eu queria retribuir tudo o que você fez por mim. Era dinheiro fácil... Só precisava seduzi-lo e se deitar com ele. Não parecia um grande sacrifício...- Ela faz uma careta enquanto espreme minha mão, mostrando que outra contração a atinge. - Tentei descobrir a verdade sobre a morte do nosso pai... – Ela para respirando fundo – Não tenho muito tempo...
- A morte do nosso pai? O que isto tem a ver com tudo isso? – Coloco as dúvidas de lado, fungo profundo e a fito seriamente – Pare de falar bobagens, Agatha. Você está em trabalho de parto, não está morrendo! Aperto suas mãos com força, temendo o olhar desolado que ela direcionou a mim.
- Independentemente do que aconteça aqui, você vai cuidar deste bebê, colocar meu colar nele e fugir. Você entendeu? Nunca pare de fugir, por nada, não confie em ninguém...
- Você está me assustando, minha irmã...
- Prometa que fará o que estou pedindo. - Sua respiração fica mais pesada e irregular. - Por favor, Sophie... Sempre prometemos nos proteger. Este bebê é uma parte minha... Por favor, proteja-o como se fosse seu!
Suas palavras me deixam atordoada enquanto ela desmaia. Um apito irrompe do aparelho, e um alarme ecoa por todo o hospital:
"CÓDIGO AZUL, ALA NORTE, SALA 13."
Enfermeiros e médicos entram na sala, me puxando para o lado, enquanto eu permaneço estagnada, observando em desespero.
- Ela está em parada! – Grita uma médica, lançando um olhar para os outros.
- Cesária de emergência! – Eles correm com o carrinho médico, e eu os sigo em um estado de angústia.
- ESPEREM, NÃO A LEVEM... POR FAVOR, NÃO LEVEM ELA DE MIM!
Entretanto, sou impedida de prosseguir quando uma das enfermeiras me contém no lugar.
Não demora muito para que um médico se aproxime de mim, palavras são desnecessárias diante da notícia que meu coração já pressente. Sinto como se parte da minha alma se desprendesse junto com a dela... Consigo quase sentir seu último suspiro, ver sua última lágrima caindo e ouvir seu sussurro suplicante: “PROTEJA-O!"
Respiro profundamente, meus olhos fixos no médico à minha frente.
- Posso ver a criança? Quando poderei pegá-lo?
- A senhora acabou de receber uma notícia avassaladora. Existem opções para a criança, caso deseje explorá-las.
- Quero levá-lo agora! – Levanto-me abruptamente da poltrona que antes era o refúgio para minhas lágrimas e preces. – Quando poderei tê-lo comigo?