Capítulo Três: Confiança
— Eu vou dar um passeio na praia, é aqui perto... Você gostaria de me acompanhar? — Erin convida, com um sorriso forma, mas com uma leve dose de entusiasmo na sua voz.
— Acho que não aguento... meus pés ainda doem.
— Não se preocupe, temos uma cadeira de rodas. Era do meu avô... ele se foi a pouco tempo.
— Sinto muito.
— Tudo bem. Ele era um velho ranzinza, que passava a maior do seu tempo reclamando de tudo.
Eric ri.
— Imagino.
— Ele piorou com a idade. A demência é um dano colateral na família também. Mas, ele viveu muito com seus poucos mais de noventa anos.
— Algumas pessoas tem sorte de viver tantos anos, cercado da família, então imagino que ele tenha tido uma vida feliz.
— Não sei. Ele era militar e contava as coisas que viu em suas missões. Meu avô tinha pesadelos quase todas as noites. Sonhava que ainda estava nas missões. Antes de morrer, ele pediu perdão pelas vidas inocentes que tirou. Teve acompanhamento psicológicos por vários anos, mas acho que ele ficou amargo depois da morte da esposa, a minha avo Lucinda.
— Eu realmente sinto muito.
— Então, vamos à praia um pouco, ver o que resta do pôr do sol?
Lucy acaba cedendo. Veste um dos vestidos e uma das ajudantes da casa a auxilia com a cadeira de rodas. Eric a leva para a praia, com o sol se pondo e deixando o horizonte mais bela do que ela vira na vida. Ela não se lembrava mais de como era uma praia, nem mesmo das ondas. Se sente emocionada e algumas lágrimas escorrem por seu rosto. Eric nota e se aproxima dela.
— Ei, o que foi? Aconteceu alguma coisa? Sente dor?
— Não... É que é tão lindo, sabe.
Ela se entrega à emoção e chora, deixando Eric sem reação ao seu lado.
Quando Lucy se acalma, Eric leva algumas conchinhas para alegra-la. E ele consegue.
— Fazia algum tempo que eu não vinha aqui. Costumava me reunir com a minha família e alguns amigos. — Eric conta, enquanto tira a areia de algumas conchinhas.
— E por que não veio mais?
— A vida, os compromissos, trabalho... e a família meio que... se afastou depois da morte do meu avô.
— É uma pena. O lugar é realmente lindo. Digno de um retrato pintado a óleo.
— Você pode ficar aqui o quanto quiser. A casa sempre fica vazia, e é bom que alguém a ocupe e dê vida a ela.
— Por que confiaria a casa a mim? Sou uma estranha, você não me conhece.
— Eu sei, mas sei também que você sofreu, e não foi pouco. E imagino que não tenha para onde ir. Considere isso como uma pausa no seu sofrimento, Lucy. Eu não me sinto bem com a ideia de não poder ajuda-la, seja no que for.
— Mas você já está me ajudando, Eric...
— E por que eu sinto que não estou fazendo nada?
Lucy não sabe o que responder, apenas fica em silêncio e percebe as primeiras estrelas no céu.
— Quando eu era garota, costumava contar as estrelas com a minha irmã. A gente dizia que cada estrela era ponto de perdão pelos nossos pecados. — abaixa a cabeça e suspira fundo — Depois de tanto tempo.... eu percebo que são pontos de perdão, mas apenas luzes que se refletem com a luz do sol e um amontoado de poeira cósmica em volta. Tira toda a magia que tínhamos sobre elas.
Eric observa o céu, sentado na areia ao lado de Lucy. Ele tentava imaginar duas garotas olhando e apontando para o céu, inventando mil teorias inocentes sobre as estrelas. Ele sorri, porque também já criou suas próprias teorias, quando ainda era criança.
— Vamos voltar para casa? Acho que já prepararam o jantar. — Eric informa.
— Sim, vamos. Para falar a verdade, acabei ficando faminta.
Os dois riem, e sentem que o gelo fora quebrado, graças ao breve passeio pela praia.
Eric leva Lucy para casa, e como ele previa, o jantar estava para ser servido. Lucy fora convidada a comer junto com ele, na mesa, causando surpresa às ajudantes da casa.
O jantar foi servido, e os dois aproveitaram esse momento para conversarem mais. Eric conta algumas coisas sobre a sua família e dos eventos que já aconteceram naquela casa, causando gargalhadas á Lucy. Havia tempos que ela não ria, que perdia o fôlego com algo tão engraçado como aquele momento.