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Capítulo Dois: Quem sou eu agora?

O seu vestido azul de linho, que ganhara de sua irmã Gabriella, é rasgado em segundos. Lucy é despida à força, com vários olhos em sua direção. Olhos famintos e assustadores. Um sussurro em seu ouvido a aterroriza mais do que tudo.

— Eu te disse, você é minha.

— Não. Não. Por favor me deixe ir, pare com isso. — Ela berra, em desespero. — Não, não.

Lucy desperta, com o corpo todo suado. O estranho homem está ao seu lado, assustado.

— Você está bem?

Ela recupera o fôlego e assente com a cabeça.

— Foi... só um pesadelo. — Lucy diz.

O homem lhe dá um copo com água e Lucy bebe em goles apressados.

— Volte a dormir. Tem certeza de que está bem? Posso pedir para fazerem um chá para você.

— Não, eu estou bem. Obrigada.

Ele a ajuda a se deitar e volta para o seu quarto, deixando-a sozinha novamente. Desta vez, com o abajur aceso. Talvez para tranquilizá-la, ela pensa.

No dia seguinte, um médico a visita nas primeiras horas da manhã, fazendo novas recomendações e algumas perguntas. Depois da avaliação, o médico chama o homem para fora do quarto, e Lucy já imagina o que será dito.

O homem volta ao quarto e lhe entrega duas sacolas.

— São... roupas limpas. Achei que fosse precisar. — Ele diz.

— Obrigada...

— Pode me dizer o seu nome? Se não quiser, tudo bem.

— Lucy. Eu me chamo Lucy.

— Eu sou Eric.

Lucy sorri, envergonhada. Eric já a ajudara mais do que deveria.

— Por que você estava correndo na estrada? Você estava fugindo de alguém?

Ela se recolhe na cama, e não consegue disfarçar o terror em seu olhar. Eric percebe que o assunto a afeta mais do que ele imaginava.

— Se você precisar e se sentir segura, posso leva-la à polícia. Prometo que terá toda a proteção que precisa.

— Não me leve à polícia. Se eu não puder ficar aqui, eu me viro lá fora. Só não me leve à polícia. — Lucy implora.

— Certo. Não precisa lidar com isso sozinha, Lucy. Seja o que for, você não está sozinha agora. O melhor a fazer é irmos à polícia, mas seja qual for o seu motivo, não iremos. Está bem sim? Você que eu traga alguém aqui?

— Não.

— Certo. Agora continue descansando. Vou pedir que tragam algo para você comer. O médico disse que você está com sinais de desnutrição e me pediu para alimenta-la. — Eric sorri, como se o assunto da polícia tivesse sido esquecido rapidamente.

Assim que volta a ficar sozinha, ela abre as sacolas. Há vestidos e roupas íntimas. Aparentemente, Eric era atencioso, mas Lucy sabia muito pouco sobre ele. E ele, menos ainda sobre ela. Aos poucos ela se dá conta de que precisa pensar no que fazer, para onde iria e como proteger sua família. Ela não podia ficar naquela casa para sempre, e nem trazer riscos ao homem que a ajuda.

O por do sol deixa a luz do quarto mais amarelado com tons vermelhos, com a sombra dos detalhes esculpidos da janela se espalhando pelo chão. Lucy dormira praticamente o dia todo. Ela tenta se levantar e ir até o banheiro, pela primeira vez, sem ajuda de ninguém. Os seus pés ainda doem ao pisar. As dores parecem picadas de agulhas, canto a canto.

A imagem que Lucy vê de si no reflexo do espelho não é reconhecível. Ela chora ao perceber o que fizeram com a sua vida, com o seu corpo. Já nem sabe mais quanto tempo havia se passado, e por quanto aguentou todo o aquele inferno. Ela olha novamente para o reflexo e nota que está mais velha. Não há mais o brilho inocente nos olhos, nem os cabelos sedosos e brilhantes que sua irmã tanto admirada. Pensa em Gabriella, e se pergunta se tinha o direito de saber como a irmã estava.

Ao voltar par ao quarto. Eric está em pé, rente a porta lhe esperando.

— Passei para ver como você está. — Diz.

— Me sinto melhor.

Ele a ajuda a chegar até a cama, segurando-lhe o braço.

— A propósito, em que cidade estamos? — Lucy pergunta.

Eric franze o cenho.

— Estamos em Oregon, mas eu moro em Nova York. Estamos na minha casa de férias.

— Estamos em Oregon?

— Sim. De onde você é?

Lucy reluta para responder, mas sente que pode confiar naquele homem.

— Da Carolina do Sul, na cidade de Florence...

— E como... você veio parar aqui?

— Eu... posso não responder agora? Ainda não estou... preparada para... contar tudo.

— Tudo bem, eu entendo.

Lucy esperava que ele entendesse, de verdade, e pudesse lidar com a história. Ela ainda não entendia porque fora vítima de algo tão cruel, quando ainda era apenas uma jovem, cheia de sonhos como qualquer garota da sua idade.

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