Capítulo Quatro: Por dias melhores.
Depois do jantar, o café foi servido aos dois, na sala de estar. Eric a ajudou a sair da cadeira de rodas e ir para o sofá, para que ela ficasse mais a vontade. Os dois continuaram a conversar, até perder a noção do tempo. Quando perceberam, já passavam da meia noite, e Eric a ajuda a ir para o quarto.
— Eu quero te agradecer por hoje, Eric. Foi muito agradável e me fez um enorme bem.
— Fico feliz.
—Você não tem obrigação de me ajudar, mas está dando tudo de si para a minha recuperação... Isso é mais do que... fazer alguma coisa. Eu vou ser eternamente grata a você.
— Agradeça ficando bem, retomando sua vida, sendo feliz novamente. Seja o que for o que aconteceu, vire a página e recomece. Às vezes pode ser difícil recomeçar, mas tenho certeza de que você consegue, porque sei que você lutou para continuar viva.
— Eric...
— Não precisa me contar nada, Lucy. O médico me deu uma noção do que você passou... do quanto a... violaram. Eu fiquei revoltado e prometi que cuidaria de você.
— Como eu posso... te agradecer? — Lucy pergunta, com a voz embargada.
— Ei, não chore. Não quero que você chore mais, tudo bem? Dê um sorriso para mim.
Lucy força um sorriso, cheio de tristeza e lamentos, enquanto Eric luta para não sair dali e caçar quem a fez tão infeliz e tornar a vida dele um inferno.
Ele acalma Lucy e a coloca para dormir, depois de medica-la para dormir melhor.
Eric vai até seu quarto, pensativo, tentando imagina o que aquela garota deve ter sofrido para ter fugido daquele jeito, na estrada no meio da noite. Não era do seu feitio dar carona a estranho, mas era uma garota que desmaiara na estrada, com a roupa suja e rasgada. Como ele poderia ser indiferente a isso?
O dia amanhece com um céu limpo e o sol a todo vapor. Lucy é novamente acordada pelo médico, que a avalia novamente e a parabeniza pela sua melhora.
— Mais alguns dias de repouso. Continue com o tratamento e alimentação, e logo estará nova em folha. Aconselho que vá ao meu consultório fazer exames de rotina.
— Obrigada, doutor.
— Disponha. Precisa de alguma coisa? Você anda com dificuldades para dormir?
— Não... eu tenho tido pesadelos... só.
— Tome o relaxante que receitei, caso sinta dificuldades para dormir, está bem? Posso lhe indicar um amigo, que é psiquiatra, caso considere que possa ajudá-la futuramente.
— Certo.
O médico conversa com Eric fora do quarto, enquanto Lucy se esforça para se manter em pé em frente à janela. Não há sequer uma nuvem no céu, que está tão limpo que parece um quadro azul. Dá para ver o oceano, que fica a alguns metros dali. Lucy se pergunta se está em um sonho. Passou tanto tempo naquela situação, longe dali e dos olhos de qualquer outra pessoa, sem ajuda, sem uma mão para segurar e em quem confiar, que agora, olhando para si, onde está, sim, parecia um sonho. Um sonho no qual ela implora para não acordá-la.
Ela volta para a cama, sentindo os seus pés formigando. Eric surge na porta, com um sorriso no rosto.
— Você parece bem melhor esta manhã. — Diz.
— É, parece que sim.
— Estou indo na cidade, comprar algumas coisas... Quer que eu traga algo para você? Ou me acompanhar, dar um passeio?