Capítulo 6
O machado desceu com força total, Elaine conseguiu ver seu reflexo no corte da arma letal, junto as lascas do chão que saltaram com o baque enquanto o fio se enfiava dentre o concreto duro. Nem percebeu quando gritou e se sentou de um jeito rude, suando na cama enquanto sentia seus sentimentos descontrolados e confusos. Foi tudo rápido demais, era o auge do experimento até ontem, hoje estava sendo remanejada para uma troca de parceiro.
Ela não havia criado fortes sentimentos por Volkon, mas havia criado expectativas. Viu seu herói protegê-la pela manhã, salvar Dionísio e lhe dera até umas boas pegadas, para depois o viu convertido em um vilão de machado. Era, no mínimo, confuso. Deixou claro para o Lorde Stariano que voltaria para a Terra sem pestanejar, mas o mesmo lhe pediu que não tirasse deles suas esperanças. É claro que ela não lutou contra, jamais se vira novamente naquele planeta, mas nem soube como reagir quando o próprio Lorde lhe direcionou para as mãos de Galak.
— Identificando alterações cardíacas, elevação da pressão e dificuldade respiratória. — a voz automática da inteligência artificial de Pryor tomou o quarto, enquanto Elaine ainda massageava a testa, desnorteada e confusa — Acionando sistema de prevenção em 3…2…
— Interrompe isso, Pryor. — Elaine se sentou com as pernas para fora da cama, respirou fundo e massageou a testa quando a luz do quarto acendeu sozinha, alisou a nuca e levantou o rosto se sentindo um pouco melhor. — Está tudo bem, não precisa acionar nada e nem ninguém. Foi só um susto.
— Devo contatar alguém da lista de emergência? — insistiu a voz inteligente.
— Não, um copo d’água e vai ficar tudo bem.
Elaine estava pensativa sobre as palavras do Lorde, sobre o quão ela é importante para eles… confessa que cedeu aquele tipo de atenção, não costumava ser tão notada na Terra, mas não tinha certeza sobre seu futuro. Ela havia criado expectativas e até estudado sobre os costumes dos Paladimus, raça de Volkon, mas ter seu parceiro trocado, por um momento, lhe pareceu errado… E ainda tinha o fato de o general Galak ainda não ter se pronunciado.
— Outra rejeição? — ela se perguntava na frente do espelho de seu banheiro, um tanto humano se não fosse as acomodações de tamanho maior. Tudo fora feito para tentar agradá-la, exceto o machado e as mãos de Volkon. — Pryor, pode por favor me passar um relatório de experimento sobre o Galak, o general?
— Sim, senhora Paladimus. — Elaine sentiu um arrepio ao notar que seu sobrenome não foi trocado, mas anotou mentalmente que pediria a mudança dessa configuração depois. Ao invés de dormir, foi para o seu estúdio trabalhar.
Enquanto isso, Volkon, o azulado impaciente olhava para os olhos do amigo traidor que, ao invés de bater o toque de recolher, estava justificando uma infinidade de motivos sobre como o Lorde Stariano optou pela troca de parceiro. O Paladimus mantinha o cenho franzido, uma expressão desdenhosa e o olhar cuidadoso para o General.
— Deixe eu te lembrar uma coisa, eu ainda estou preso apenas pela droga do respeito que lhe devo. Continue abrindo a boca e vou aí te bater.
— Levou algumas cargas, Volkon. — concluiu Galak, ainda uniformizado, ainda cumprindo seu dever e de frente para as grades do azulado, sozinho na cela de contenção — Assim que eu o soltar, deve cumprir as medidas e se manter distante.
— Você quer isso, não quer? — ele afinou os olhos — Sabe que eu não consigo segurar essa merda, sabe que eu ainda vou pegar o Darius e se o seu cheiro estiver nela, eu vou pegar você também. — rosnou o azul.
— Contenha seus instintos. — pediu Galak, sério — A última coisa que precisamos é assustar a primeira fêmea disposta, de novo. E fique tranquilo, eu sou o general por um motivo, me contive mais do que pode imaginar. Não a toquei, vou esperar aquele maldito cheiro diiminuir.
Volkon sentiu o sangue ferver dentro de si, se moveu para frente e sentiu a tensão do choque envolver os músculos de seu corpo novamente, Galak manteve-se inerte e olhou para os olhos do amigo que continuava recebendo a tensão que vinha de suas mãos presa, para seu corpo. Como dito, Volkon se manteve na cela apenas pelo dever de saber que tinha que ficar, mas resolveu que já havia aturado tempo demais. Ele rompeu as algemas, puxou os braços para frente e os alongou, movimentando o pescoço junto com os músculos do trapézio e se livrando de sua prisão. As algemas de choque levaram um curto, caíram no chão e Volkon já não estava mais preso.
— Ótimo, agora serei obrigado a relatar a falha no sistema de segurança… — Galak tinha um certo desânimo nesta parte de sua obrigação.
— Eu quero ver ela. — solicitou o Paladimus.
— Você não vai. — Volkon esticou o braço pela grade, puxou o general e o viu se preparar para revidar, mas não ligou — Não vou colocar as mãos nela, seu idiota. Não concordo com a droga do experimento, mas vou te bater apenas sanar essa merda de instinto territorial.
Galak abaixou os punhos, se deu contra a musculatura dura, não conseguiu quebrar, mas o fez soltar seu colarinho. Volkon respirou fundo, se aproximou das grades, segurou o material grosso e cerrou os dentes enquanto fazia força o suficiente para entortar o material. Galak massageou a nuca, suspirou desanimado e se perguntou porque demônios ainda ocupava aquele cargo…
— Não fizeram nem as grades direito… — ele se afastou, tomou certo cuidado, pegou sua espada com confiança e dispensou chamar qualquer ajuda, já que ele sabia lidar com o azulado — Vamos lá, Volkon. Eu acabo com você e você fica fora do experimento.
O Paladimus saiu da cela, estava numa aparência drástica, mas ainda usava sua camisa, segurou suas necessidades esse tempo todo e sentia fome. Era uma desvantagem lutar com Galak assim, mas seu instinto pedia.
— O que está dizendo? — perguntou Galak baixando sua espada, colocou a mão em seu comunicador preso ao ouvidos e desapontou as expectativas de Volkon — Essa briga fica pra depois, fique longe dela e vá descansar. Mantenha-se grato por ainda ter o seu posto e fique atento, desde quando o experimento foi dado como iniciado, as coisas não andam indo muito bem.
Galak saiu, deixou as expectativas murchas de Volkon, mas isso não o impediu de fazer o que desejava. Ele pegou o seu machado, o acoplou no dispositivo preso ao uniforme das costas e foi procurar por Darius, o idiota que se colocou em cima dela quando ele estava marcando terrirório.
[...]
— Briga! Briga! Briga! — um bando de machos idiotas estavam reunidos no círculo que atiçavam a competição. Darius estava tomando uma surra, mas eles estavam insanos.
Volkon levou um golpe no queixo, foi lançado no chão e caiu exatamente aos pés de Áries. O amigo tratou de pegar o homem no chão, o ajudou a se levantar e o admirou quando ele girou o machado, pronto para contra atacar.
— Vê se ganha essa merda, apostei dois pesos em você! — gritou o amigo, eufórico pela briga — Brigas por fêmeas são sempre as melhores! .
Volkon revidou com o machado, Darius se defendeu com os braceletes refinados que tinha nos pulsos, ele tentou revidar, teve o soco desviado e recebeu o cabo do machado de encontrou ao seu rosto. Volkon acertou uma sequência, Darius estava xingando até que recebeu o último golpe, mas Volkon segurou o fio do corte a milímetro do meio da face do amigo.
Foi uma vitória satisfatória, alimentou o seu ego, seu sentimento de grandeza e o fez se sentir o líder do território. Numa boa era Stariana, esse era o momento que sua fêmea correria para seus braços admirando o quanto ele é forte, já que boas fêmeas Starianas adoravam ver seus nomes em disputa. Mas, estava ciente que com humanas era diferente. Eu só estava ali para acalentar seu instinto, apenas. Não teria fêmea nenhuma como recompensa para depois.
Os gritos o fazia vitorioso, Darius abriu os braços no chão cansado e recebeu a mão de Volkon para se levantar. O amigo aceitou, sorriu ciente de que o filho da puta azul era realmente muito bom em brigar, mas viu o sorriso sumir quando olhou pelas costas de Volkon e se surpreendeu com a imagem pequena da humana, poucos metros distante da vitória barulhenta de Volkon.
— Parece que as fêmeas humanas também gostam de recompensar os vitoriosos… — Darius soou significativo. Volkon engoliu em seco, olhou para trás e pensou na merda que aquilo ia ser. Estava no auge, com o sangue fervendo, disposto a gritar que era o dono, mas não podia.
— Ela não é minha.
— Problema seu, eu é que não vou brigar com o Galak depois. — resmungou o dourado se desviando, enquanto um silêncio pesado se formava e a humana continuava inerte.
Volkon sentia uma vontade insana de gritar sua vitória, pegar a fêmea e a tomar apenas pelo orgulho de ser recompensado, dizer que era o seu território e que bateria em meio mundo por causa de uma boa vagina humana, mas estava mesmo se segurando. Ele guardou o machado, viu ela ter certo cuidado quando olhou para o material e notou seus malditos amigos o abandonarem nessa, enquanto ele ainda estava com a excitação da luta a flor da pele. Mesmo que ela estivesse dentro daquela camisola esquisita, cheia de babados e cumprida, ele ainda tinha vontades.
— Pryor me falou sobre um aglomerado perto do alojamento, eu estava sem sono e… — Elaine simplesmente se calou, pensou no que dizer, perguntar se ele estava bem, mas só não sabia como levar aquela conversa adiante — O que era aquilo? Porque estavam brigando?
— Volkon lutou por sua honra! — Áries bateu no peito do amigo, abriu um grande sorriso e mostrou a bolsa com os pesos da aposta que fez — Lutou muito bem pra quem não urina desde quando foi preso.
— Preso? Ficou preso? De que honra está falando? — a humana estava totalmente perdida.
— Contido. — Áries olhou pra ela e pareceu não ligar pra situação — Galak prefere a palavra contido. Como assim que honra? Darius entrou na casa e simplesmente tocou em você, ele merecia um pau feio. Não se pode interromper um processo como esse, dá muita irritação.
— Darius estava me protegendo — questionou ela — e ele tentou me atacar!
— É estava, o regulamento manda fazer exatamente isso, mas foi durante um processo de marca territorial, é coisa de Stariano… — Áries bateu no peito de Volkon que tentava, mas não conseguia tirar os olhos da menina — Cara, vamos comemorar! Sei que há uma zona de Starianas disponíveis e a gente tá precisando relaxar!
— Briga de… — Elaine se colocou pensativa, e se lembrou que chegou a ler sobre isso.
As imagens de Volkon esfregando seu rosto na curva de seus pescoço, passando sua face no meio de seus seios veio à tona. Era isso, ele estava mesmo fazendo o processo de marcação e a ligação de Galak simplesmente o interrompeu. Era uma questão de instinto Stariano, que mesmo sendo idiota e primitvo, fazia parte deles. Eles brigam por fêmeas, constantemente. Era por isso que ele estava tenso e irritado, porque foi interrompido e ela simplesmente interpretou errado.
Volkon teve a droga da sua atenção desviada, com muita dificuldade, Àries tagarelava um plano de como iria tentar comprar sexo com uma boa Stariana, se tivesse alguma disponivel. Volkon passou a caminhar do lado oposto, tentou se controlar na vontade de reivindicar um prêmio por sua vitória e contra a vontade de manter seus instintos focados na nanica humana.
— Esperem! — Elaine gritou alguns passos atrás, alcançou os dois no corredor de luzes brancas, na área de circulação interativa. O sol Stariano não se punha daquele lado do planeta, mas estava no período de recolher, onde mal havia uma movimentação — Olha, eu realmente não entendo do processo, mas eu sou estudiosa, vou me aplicar um pouco mais e descobrir o lance do machado também. — ela sorriu pegando os dois de surpresa — Vi que vão sair pra beber e eu estou meio que com problemas pra dormir, acho que eu vou junto. Interações Starianas fazem parte das minhas pesquisas.
Áries abriu um sorriso, gostou do espírito da humana e Volkon imediatamente se colocou na frente do amigo, olhando feio e duro pro projeto da humana de óculos embaçados e olhos grandes, meio esquisita. Que se dane se ela causa sentimentos de posse nele, é uma humana e não merece interagir com Starianos como se fosse um deles.
— Não. — rosnou duro e seco.
— Ué, porque? Tem dois capitães comigo, não vai acontecer nada. — ela completou a ideia.
— É isso aí, que humana melhor pra ficar com a gente quando ela realmente tá tentando se inturmar? — Àries lhe mandou um sorriso acolhedor, andou adiante e não esperou o retorno de Volkon — Já que vamos sair com uma femea é melhor não ir atrás de sexo. Já visitou nosso retiro, terráquea?
Ela abriu um sorriso grande, ainda olhando para Volkon e sentindo o risco da expectativa encher o seu peito. Elaine não sabia explicar, mas já que Starian era movida por instintos, ela só sabia dizer que tinha que ir.
— Desfaça era carranca, eu só vou beber! Não tenho restrições para me divertir. — E Volkon odiou sua amizade com Áries de um jeito horrivelmente fervoroso naquele momento.