Planos

Érida

Os primeiros dias foram bem trabalhosos, compras, adaptação a faculdade de moda que fica próximo de casa e a de direito que já faço a dois anos, online.

Fui me adaptando e precisei focar nos estudos e parar um pouco meus projetos, mas sempre me atualizando da situação. Deixei Anita responsável pelos negócios, já que era formada em economia. 

Assim se passaram os primeiros dois anos.

Aprendi muito observando os alunos da faculdade e até formei um grupo de amigos do mesmo curso que eu. Alguns me ajudaram a conhecer o mundo da moda, já que de alguma forma já trabalhavam com isso.

Foi assim que, visitando os bastidores de um desfile, alguém me confundiu com uma das modelos e nem tive tempo de explicar que não era eu, pois logo estavam arrumando meus cabelos, fazendo maquiagem e quando percebi, estava imitando as outras modelos na passarela.

O que eu não sabia é que o vestido que haviam me enfiado pela cabeça, sem eu sequer poder ver como era, era a  pièce de résistance do estilista. Quando terminei de desfilar, foi uma verdadeira e forte ovação.

Todas as modelos entraram e ficaram enfileiradas de um lado ao outro, quando ele pegou minha mão, passando pelo seu braço e passamos pelo meio das fileiras de modelos que aplaudiam. E quando chegamos ao final, ele se afastou e apontou para mim com as duas mãos sinalizando para o público.

Mais palmas foram ouvidas e eu que já havia visto vários desfiles pelas redes sociais, me virei para ele e retribui, batendo palma em sua direção. Quando as palmas diminuíram, fiz-lhe uma reverência e mais uma vez, minha mão foi parar no seu braço e voltamos pela passarela.

Chegando aos bastidores, ele não me largou, em meio a euforia de todos, a champanhe estourou e comemoramos. Creio que deve ter sido um sucesso, por todo o alarido que fizeram.

-Não sei quem você é, acho que houve algum engano, mas não podia ter sido melhor, obrigado! - Ele falou baixo em meu ouvido.

-Como assim? - Respondi intrigada.

-Venha.

Me levou até um espelho de corpo inteiro e me posicionou bem a frente, se afastando para que eu me visse refletida. Eu fiquei em choque quando me vi. Não era eu, era uma deusa do olimpo. Meus cabelos estavam presos no alto, com cachos que caíam rodeando meu rosto e o vestido branco esvoaçante, no estilo grego, descansava ao redor do meu corpo, moldando minha silhueta com perfeição.

-Linda! - ouvi uma voz grave falar.

Me virei para olhar e lá estava ele, o senhor todo poderoso, herdeiro do capo italiano que junto com meu pai, quiseram anular a minha vida.

-Como vai Sr. Scapola, gostou do desfile? - Perguntou o estilista.

-Foi maravilhoso. Vim aqui porque não resisti em conhecer essa deusa linda! Nova contratada? - Perguntou meu noivo de contrato, sem imaginar quem sou eu.

-Antes de apresentá-la, preciso eu, ser apresentado a esta linda mulher. - Falou o estilista com uma certa afetação.

-Como assim, ela desfilou para você e não a conhece? - virou-se para mim e perguntou - Quem é você, deusa misteriosa?

Fiquei séria, achando intragável toda aquela eloquência desnecessária.

-Eu cheguei aqui com um amigo para observar os bastidores pois faço o curso de moda e me confundiram com a modelo que deveria usar este vestido e não consegui me identificar e pará-los.

-Está explicado. Mas você foi ótima querida. Eu sou o estilista Hugo Castanheira e essa coleção tem o nome de Beleza Grega. Muito prazer! - Ele esticou a mão em cumprimento.

-Stela Brandão - respondi ao cumprimento.

-Este é Danilo Scapola, empresário e grande investidor de minhas coleções. 

-É um grande prazer conhecê-la senhorita Brandão, espero que nos dê a honra de juntar-se a nós no coquetel de comemoração do desfile. - pronunciou-se o dito cujo, ao qual não quero nomear.

-Como vai? - Respondi seca, sem responder seu cumprimento de mão.

Tanto ele quanto o Hugo, estranharam meu comportamento, mas não tiveram tempo de falar nada, pois meu colega chegou fazendo um alvoroço.

-Menina! Tu sumiu e quando te achei, você estava na passarela, o que foi isso? - Ronaldo, ou Naldo como preferia ser chamado, chegou chegando.

-Obrigada, senhor Castanheira, foi um prazer, mas agora preciso ir. Me ajudou bastante participar deste evento. - falei para o estilista e me virei para o outro - com licença senhor Scapola, agradeço o convite, mas preciso ir, com licença.

Me virei e mais que depressa, dei a mão ao Naldo e saí puxando ele para onde tinha deixado minhas coisas. Os dois ficaram com cara de tacho, até tentaram me impedir, mas não conseguiram. 

-Miga, o que foi isso? - Perguntou Naldo assim que paramos.

-Foi tudo uma grande confusão, depois explico. Agora me ajuda a tirar esse vestido, com cuidado para não rasgar.

-Tá bom perua, depois quero saber dessa história direitinho.

Depois que me troquei, levei o vestido para a equipe guardar e fui tirar a maquiagem e o penteado. Enquanto Naldo me ajudava com o cabelo, eu tirava a maquiagem em frente ao espelho. Foi quando alguém apareceu refletido no espelho.

-Você me deixa fazer isso, rapaz? - Era, o chato, falando com o Naldo.

-Não, eu não deixo, o cabelo é meu e não quero que o senhor toque nele. - Respondi, já metendo as mãos em meus cabelos e ajudando a desfazer o penteado cheio de fixador.

Ele franziu as sobrancelhas, olhando-me com o semblante fechado.

-Posso saber porque você é tão contrária à minha presença?

-Sou uma pessoa simples Senhor Scapola, não estou acostumada aos flertes sociais e nem gosto de homem que cada dia está com uma mulher diferente. 

-Então me conhece? - Seu semblante mudou, ficou mais leve.

-Das colunas de fofoca. Terminamos, com licença, passar bem.

Levantei e desviei dele, saindo com Naldo atrás.

-Espera menina, onde tu vai? Precisamos receber nosso cachê! Vamos. - Naldo me guiou até um pequeno escritório improvisado, onde já tinham duas pessoas esperando.

Quando chegou a minha vez, precisei preencher um registro de free lancer. Coloquei o nome falso que havia dado e a documentação falsa. Anita achou melhor fazermos isso para entrar na internet e agora seria bem útil.

Finalmente recebi o cachê e me surpreendi com o valor, realmente foi ótimo. Perguntei ao Naldo se era sempre assim e ele explicou que ganhei um extra por ter desfilado a peça principal da coleção.

O senhor que me pagou, também me deu um cartão da agência de modelos e pediu que eu entrasse em contato que eles estavam interessados em me contratar. Talvez eu fizesse isso, seria bom estar no meio da mídia, cara a cara com o desprezível.

Saímos para comemorar numa choperia. Liguei para Anita, avisei o sucedido e onde estava, para que ela se unisse a nós. Duas amigas vieram também e nos divertimos sem pensar no treino do dia seguinte.

-Vocês deviam ter visto essa perua desfilando, gentem!!! Parecia uma deusa grega. - Comentou Naldo.

-Mas como? Eu, pra conseguir uma vaga é uma luta, você nem tentou e conseguiu o top dos tops! Tu nasceu mesmo de bunda pra lua, amor! - Disse uma das meninas que fazia modelagem.

-Eu fui confundida com a manequim certa e não tive tempo de desfazer o engano, foi tudo muito rápido. - Expliquei.

-O melhor vocês não sabem, ela ainda esnobou o Danilo Scapola!!!!  

Então foi uma mistura de fofoqueiros falando, todos riam e davam suas opiniões, Anita me olhava, sem falar nada, mas com certeza iria me questionar quando chegassemos em casa.

Danilo

Fiquei sem entender a reação daquela deusa. Que mulher linda! Nunca uma mulher me rejeitou dessa forma. Fiquei sem ação. Justo eu, que posso escolher uma mulher diferente a cada noite, fui esnobado.

Mas não vou deixar barato, vou correr atrás, ela não me escapará. Mulher nenhuma pode rejeitar Daniel Scapola e ficar por isso mesmo. Desde que terminei meu caso com Luiza, não tive acompanhante fixa. Não posso me dar ao luxo de me apaixonar e ter que casar com outra.

Faltam dois anos e ainda nem conheci minha noiva, se depender de mim só a verei no dia do casamento. Por enquanto, vou mandar meu assessor procurar por aquela deusa e enviar uma dúzia de rosas. Vou começar meu ritual de conquista, ela vai ficar caidinha.