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03

O homem ficou ali meia hora esperando meu pai, ele realmente é paciente e estranho, pois não o conheço. Conheço todos os amigos, que na verdade não são amigos de verdade, de meu pai. Nunca o vi por perto ou mesmo na loja a qual eu trabalho. De vez em quando o pego me olhando. Isso é errado, não é? Ele me olhar assim e fazer com que eu dê umas escapadas e o olhar também. Isso é errado. Céus, que meu pai chegue logo.

Após alguns minutos, o avisto logo a frente. Vemos meu pai com meu irmão, Jones corrige sua postura antes que meu pai o visse e lança lhe um aceno de cabeça.

— Senhor Rodolfo, boa noite.

Meu pai fica todo estranho e sem jeito.

Os amigos de meu pai não o cumprimenta com tanta educação assim.

— Oi Jones. Que prazer em vê-lo. — Diz meu pai.

O vacilo que meu pai deu em sua voz me fez crer que algo aconteceu. Esse homem não é tão velho, não veio aqui para chamá-lo para beber, não é? Assim espero por que meu pai já bebeu hoje.

— Podemos conversar? — Diz o Senhor.

Conversar? O que será que eles têm para conversar, que não pode deixar para outro dia?

Meu pai olha para mim e para meu irmão antes de concordar com um meneio de cabeça e diz:

— Claro. Filho entra com sua irmã. Podem comer sem mim. Eu já entro.

Eu e meu irmão nos entreolhamos e obedecemos.

Sentamos e tomamos nossa sopa. Depois que meu irmão termina de tomar o caldo ele diz todo contente.

— Estava muito gostoso, amei irmã.

Sua voz é tão doce, ele lembra-me um pouco a mamãe. Só Deus sabe o quanto de saudades sinto dela. Queria tanto que ela estivesse aqui e o visse crescer.

Não tenho dúvidas que meu irmão será um grande homem. Mesmo sem ter nossa mãe por perto para nos aconselhar, eu que vou ter que instruir-lhe em um bom caminho.

Esse era o papel de nosso pai, porém infelizmente ele anda precisando de instrução do qual caminho deve-se andar, infelizmente. Ele precisa de ajuda. Mas quem pode o ajudar? Somente Deus mesmo.

Eu digo ao meu irmãozinho:

— Que bom que gostou, pode repetir maninho. — Digo sorrindo e o olhando.

— Já estou cheio. Agora vou brincar um pouco. — Ele beija meu rosto e vai até seu quarto todo contente.

Ele ama o brinquedo que meu pai comprou pra ele, e esse brinquedo que ele ganhou foi antes da mamãe morrer, ele é muito apegado ao brinquedo.

Às vezes pergunto-me se estamos fazendo certo em deixá-lo crescer tão rápido. Digo, amadurecimento precoce. Mas aí lembro que o mesmo está acontecendo comigo então não se tem muito o que fazer. Infelizmente nossa âncora se foi e não nos resta mais nada, a não ser lutarmos diariamente para mantermos a casa e nossa barriga cheia. Como dizia a mamãe "saco vazio não para em pé".

Depois de jantar eu fico na sala esperando os dois lá de fora terminar a conversa. Confesso que sou uma menina curiosa.

Porém veja bem; meu pai não é um homem a qual eu deva confiar cem por cento. Depois de seus últimos comportamentos, tenho mais que me preocupar, sim, com o que ele faz, e com quem anda. Se bem que esse tal de Jones não o conheço, não posso julgar sem o conhecer, na verdade não podemos julgar ninguém, não temos esse direito. Então apenas não gosto da idéia dos dois estarem conversando lá fora. Contudo, conheço bem meu pai e sei que ele não tem amigos de verdade. E se esse Jones está aqui uma hora dessas é porque algo muito grave aconteceu.

Me levanto e fico em pé atrás da porta escutando.

Consigo escutar as vozes deles.

— Ela só tem dezessete anos. Pelo amor, né? — Essa é a voz do meu pai. A quem ele se refere? "Ela, quem?"

Arqueei minhas sobrancelhas na tentativa de fazer com que as palavras de meu pai assimilem mais rápido possível em minha mente.

A única nessa casa que tem dezessete anos sou eu. Eles não podem estar falando de mim. Tenho certeza que é de outra pessoa. Meu pai nunca falaria sobre mim ou meu irmão com os homens com quem bebe. Bom, assim eu penso.

Volto a colar meu ouvido atrás da porta e reconheço a voz exaltada do Senhor Jones.

— Eu não disse para que quero. — Seu tom me assusta um pouco, mas continuo os ouvindo em silêncio. — Não coloque palavras na minha boca. Mas como disse, daqui alguns meses você me entregará. Se não, você já sabe o que irá lhe acontecer.

— Do que será que estão falando, meu Deus? O que meu pai fez dessa vez?

— Até breve, Senhor. — Jones despede de meu pai.

Fico perdida em pensamentos. Quando escuto seu cavalo começar a cavalgar eu vou até a pia devagar, sem fazer muito barulho e começar a lavar as louças para disfarçar que estava os ouvindo.

Não posso deixar que descubra que eu estava ouvindo sua conversa atrás da porta. Ele já deixou bem claro que não gosta que eu me intrometa em assuntos particulares. Se não fizesse tanta besteira eu não me preocuparia tanto.

Meu pai entra e tranca a casa como se estivesse com medo de algo. Nunca lhe vi assim. Quando a mamãe morreu dormimos até com a casa aberta porque nossa única preocupação naquele momento foi em chorar, e hoje vendo lhe fechar tudo desesperado, me deixa assustada.

Se antes eu tinha dúvidas que ele tinha feito algo de errado, agora tenho certeza que meu pai aprontou alguma coisa. Só não sei o que é ainda. Não vou perguntá-lo agora para dar bandeira que estava escutando atrás a da porta.

— Pai! — Seu olhar me assusta um pouco. Mas volto minha postura de antes e completo no que estava falando: — A janta ainda está quente.

— Ah… Já janto. Obrigado.

Suspirou aliviado.

Ele liga nossa televisão e eu termino a louça e antes de subir para meu quarto vejo meu pai pela última vez naquela noite e vou me deitar.

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