Capítulo 7 - Aria
Sou arremessada brutalmente ao chão, o impacto é violento, como se a força do mundo tivesse sido concentrada naquele único momento de colisão. O baque me faz perder o fôlego instantaneamente, meus pulmões se esvaziam em um suspiro forçado enquanto minha cabeça atinge o chão de mármore com um som seco e surdo. Uma dor intensa explode na parte de trás do meu crânio, irradiando-se para minha coluna como uma corrente elétrica, e por um momento tudo ao meu redor se torna um borrão indistinto, uma confusão de cores e sons misturados.
A dor em meu braço, causada pelo aperto implacável do rei Caelum, é rapidamente suplantada por uma nova dor, mais aguda, que atravessa minhas costas e peito. Parece que meu corpo inteiro foi atingido por uma onda de choque, cada osso, cada músculo grita em protesto. A explosão que devastou o salão criou uma força esmagadora, jogando-me ao chão com a brutalidade de uma tempestade. É como se o ar ao meu redor tivesse se tornado pesado, denso, dificultando a respiração.
Meus pulmões ardem, queimando com a necessidade desesperada de ar, mas cada tentativa de respirar é acompanhada por uma vontade incontrolável de tossir. Um véu de fumaça negra e densa se espalha pela direção do salão, obscurecendo minha visão, transformando o ambiente em um pesadelo nebuloso. Luto contra a desorientação, forçando-me a focar, a me mover, mas a dor latejante na minha cabeça e nas costas faz com que cada movimento seja uma tarefa difícil.
Finalmente, com grande esforço, consigo me levantar, minhas pernas tremem como se estivessem prestes a ceder a qualquer momento. O som ao meu redor é caótico, gritos de pânico, o estilhaçar de vidro e o rugido distante de novas explosões enchem o ar, criando uma cacofonia de terror. Sinto uma mão apertando a bainha da minha calça, e ao olhar para baixo, vejo os dedos do rei Caelum, sujos de poeira e detritos, tentando me segurar.
A determinação no aperto dele me assusta ainda mais, suas intenções permanecem misteriosas, mas o medo primordial que sinto é avassalador. Cada segundo que passo ao lado dele, a imagem dos canapés caídos e a raiva em seu rosto antes da explosão continuam a me assombrar, misturando-se com o medo de que ele possa fazer algo comigo, agora que tudo está de cabeça para baixo. Atrás de nós, ouço o uivo horrível dos lobisomens invadindo o salão quase destruído.
Feixes de luz explodem em meio ao véu de fumaça, relâmpagos de energia mágica que iluminam brevemente a escuridão, revelando fragmentos do caos ao nosso redor. O salão, antes majestoso, agora é um campo de batalha, e cada segundo que passo ali aumenta a sensação de que não estou segura, de que preciso escapar. Quero auxiliar o rei, erguer Caelum e tirá-lo desse inferno, mas o medo… o medo de que ele possa reagir com raiva, de que possa culpar-me ainda mais, é paralisante.
Com o coração martelando no peito, tomo a decisão que minha sobrevivência exige. Deixo-o para trás, a contragosto, e corro de volta para a cozinha, onde o caos reina absoluto. A cena que encontro é de pânico total, os funcionários correm de um lado para o outro, muitos deles com expressões de terror que espelham a minha própria. A fumaça começa a se infiltrar pela porta, trazendo consigo o cheiro acre de destruição e queimado.
“O que está acontecendo?” Nicole pergunta assustada, ela se aproxima de mim com pressa. “Você está bem? O que houve?”
Antes que eu pudesse responder, um novo estrondo ressoa pelo ar, fazendo as paredes da cozinha tremerem. Um grupo de funcionários invade a cozinha em um frenesi, seus rostos pálidos de medo, como se tivessem acabado de ver a morte de perto.
“Sãos os Wolfspawn Renegades!” grita um funcionário desesperado. “Eles jogaram uma bomba no salão, está um caos lá fora!”
A notícia cai como uma sentença de morte. Todos na cozinha, inclusive eu, gritam em resposta, o som de puro terror ecoando nas paredes agora instáveis. A realidade da situação atinge com força total — estamos sob ataque, e a segurança que o palácio sempre representou se dissolveu em um instante, como areia escoando entre os dedos.
De repente, a janela que dá vista para o jardim é estilhaçada com um som ensurdecedor. Vidros voam em todas as direções, cortando o ar como lâminas, e antes que eu possa processar o que está acontecendo, um corpo massivo, coberto de pelo, atravessa o espaço vazio onde a janela costumava estar. Um lobo, feroz e imponente, aterrissa no meio da cozinha, os olhos brilhando com uma selvageria indomável.
O lobo avança sem hesitação, suas garras afiadas como lâminas de faca, e suas mandíbulas se abrem em um rosnado aterrorizante. Ele se lança sobre um dos funcionários, e o som dos gritos que enchem o ar é horrível, quase desumano. O sangue congela em minhas veias enquanto observo a cena, incapaz de me mover, o terror absoluto me prendendo no lugar.
Nicole agarra meu corpo, tremendo de medo, suas unhas cravando-se na minha pele, tentando desesperadamente encontrar algum tipo de ancoragem na tempestade de caos ao nosso redor.
Eu me desvencilho das mãos dela, meu instinto de sobrevivência tomando o controle. Agarro seu braço com força, tentando puxá-la para fora da cozinha, mas ela está paralisada, presa pelo próprio medo. Seus olhos estão fixos na criatura que está causando tanto terror, como se estivesse hipnotizada pela iminência da morte.
O pânico dentro de mim cresce, uma sensação esmagadora de que o tempo está se esgotando. Se eu não voltei para ajudar o rei Caelum, também não posso me permitir ficar aqui, presa pelo medo de Nicole. Preciso sair, preciso sobreviver. Com um último puxão, solto o braço dela e corro, seguindo os outros funcionários que já estão fugindo da cozinha.
O ar está impregnado com o cheiro de sangue e fumaça, e meus pés escorregam no chão molhado enquanto corro para longe do perigo que nos cerca. Sinto os lobisomens se aproximando, suas presenças se tornam mais próximas, mais opressoras, mas não me atrevo a olhar para trás.
Corro pelo jardim, há outras pessoas correndo pelas suas vidas. Alguns lobisomens alcançam os nobres e os destroçam com selvageria. Continuo correndo em direção à floresta quando percebo que há dois lobisomens vindo na minha direção.
O desespero para sobreviver não me permite fazer nada além de correr, até que surge de algum lugar que eu não sei identificar, um enorme lobo branco de olhos vermelhos. Suas presas estão expostas a minha frente e isso me faz congelar no lugar. Sinto que é agora a hora da minha morte, só que o lobo pula por cima de mim e avança na direção dos outros lobisomens, me dando assim uma vantagem de fugir.
Consigo escapar com vida do castelo e vários carros militares e da polícia surgem na entrada do castelo. Eu não quero ficar para dar depoimento, eu continuo correndo por vários quarteirões até sentir minhas pernas se cansarem.
Chego em casa com o corpo todo dolorido, o pavor ainda em meus ossos e com as minhas roupas e rosto sujos. Minha mãe está na cozinha, como sempre. Assim que me aproximo dela, Lyra corre na minha direção apavorada com a situação que me encontro.
“Aria, o que houve com você? Eu estava vendo o noticiário. Houve um atentado no palácio do rei Caelum Frost! Aqueles delinquentes de lobisomens jogaram uma bomba e invadiram. A onde você estava?” Lyra questiona com o tom de preocupação, mas também de acusação.
“Eu estava no palácio. Eu estava lá quando jogaram a bomba, foi…” respondo com a voz rouca. Minha garganta está áspera e eu tusso novamente.
Minha mãe me conduz para uma cadeira e busca um copo de água para mim. Eu me sento cansada e sinto que toda a adrenalina que precisei para sair daquele inferno, foi embora do meu corpo.
“Minha filha, o perigo que estão as coisas. Você devia ter encontrado um homem bom, que iria prover segurança e estabilidade financeira para você. Por que, olha a sua situação agora filha? Quase morreu! Como ficaria os seus filhos? Eu não tenho como trabalhar!” Lyra reclama com a voz cheia de condenação.
Fecho os olhos, querendo fugir das suas palavras acusatórias.
“Alexander nunca teria permitido que você trabalhasse como garçonete, com certeza não!” minha mãe declara com orgulho na voz. “Aqui, beba!”
Abro meus olhos e noto o copo d’água cheio. Tomo tudo com três longas goladas, sentindo aliviar a aspereza da minha garganta passar um pouco.
“A senhora esquece que ele terminou comigo. Sem dar qualquer explicação e depois sumiu. Ele com certeza não se importava o suficiente comigo, mãe!” rebato com cansaço na voz.
Minha mãe nega com a cabeça, discordando dos fatos visíveis e palpáveis nos últimos cinco anos.
“Você deve ter feito algo para afugentá-lo, com certeza,” ela me acusa com pesar na voz.
“Acredite, se eu fiz algo, foi ter amado demais aquele maldito!” rebato com impaciência. “Eu vou tomar banho, boa noite mãe.”
Assim que saio do banho, totalmente limpa e ainda com dores pelo corpo. Vou até o quarto dos meus filhos que já estão dormindo. Dou um beijo no rosto da Elowen e em seguida vou até Thorne, porém quando me sento na cama do meu filho, ele acorda bem sonolento.
“Mamãe?” ele sussurra com sono e com um bocejo logo em seguida.
“Oi, meu amor. Volte a dormir, eu só vim lhe dar um beijinho de boa noite,” declaro baixinho.
“Você viu o papai hoje, não viu? Ele foi muito malvado com você, não foi?” Thorne comenta de forma triste.
Arqueio a sobrancelha para o meu filho, sem entender o que ele está dizendo. Com a luz fraca do abajur, observo a expressão dócil do meu filho e fico assustada quando percebo algo em seus olhos.