Não acho que deva subir (II)
Parecia que foi ontem que aquilo tudo aconteceu. Eu sorri, sozinha, observando para fora do automóvel. Sabia que aos poucos iria lembrando de tudo.
Cerca de quarenta minutos depois estávamos entrando na propriedade Montez Deocca, dentro de um dos mais conceituados condomínios de luxo de Noriah Norte.
A casa ficava entre um gramado gigantesco. Não muito grande em extensão, mas extremamente luxuosa, tinha praticamente com 50% vidro na sua composição, o que fazia com que durante o dia houvesse muita luz natural e à noite proporcionava uma bela visão da lua e das estrelas. Ri ao lembrar do quanto eu tinha medo de temporais e pedia a Andress que cobrisse as vidraças do quarto para evitar os relâmpagos que pareciam tomar conta do ambiente em tempestades.
Ele sempre dizia que era desnecessário, que bastava eu abraçá-lo que tudo ficaria bem. Então eu me obrigava a ficar em seus braços e ele alisava meus cabelos até o tempo ruim passar.
O primeiro andar abrigava as salas, cozinhas, a normal e a gourmet e dois banheiros. Na parte de cima ficavam as suítes. Eu e Andress usávamos a principal e minha sogra e amiga Mabel a segunda maior. O restante dos quartos abrigava os hóspedes. Minha amiga Ashley também tinha um quarto na mansão, que usava vez ou outra quando chegava tarde e achávamos perigoso que voltasse sozinha para casa.
Ashley era médica de minha sogra. O estado de saúde de Mabel era delicado e exigia cuidados. Ela teve no passado um acidente que a deixou paraplégica e também dependente de algumas medicações.
— Estou em casa — avisei o motorista.
Ele abriu a porta e afirmou:
— Só irei embora assim que a atenderem, senhora. Fui pago pela doutora para que ficasse segura.
Eu ri:
— Estou segura agora.
— Ainda assim, esperarei até que entre pela porta — reafirmou enquanto se escorava no capô do carro, parecendo decidido a cumprir a promessa que fez a Verbena.
Virei as costas e de alguma forma me senti segura por ele estar ali. Reconheci o carro de Ashley na garagem, mas o outro, vermelho, não identifiquei a marca e nem me lembrei de ser nosso. Teria Andress trocado de carro?
Abri a porta e deparei-me com a minha casa. Antes de fechá-la, espiei o motorista, que enfim pareceu decido a ir embora.
Olhei a sala em tons brancos, que eu havia escolhido. Aspirei o aroma floral e doce de lar. E fiquei confusa ao ver tudo exatamente da forma como deixei, sendo que Andress havia alegado que estava sem dinheiro para pagar meu tratamento e estadia no hospital.
Se livrar da casa seria a primeira coisa a fazer na falta de dinheiro, já que uma mansão naquele lugar em específico valia muito.
Certamente Mabel havia ficado ruim naquela noite e por isso Ashley havia vindo ajudá-la.
Estava indo em direção à escadaria de vidro quando parei. Minha mente trouxe uma lembrança de Kayde e Andress discutindo. Lembrei de algumas situações onde os dois se alfinetavam, me certificando de que não se davam muito bem.
Toquei as têmporas quando lembrei de meu avô... E todo meu coração encheu-se de amor. Desde que cheguei à casa dos Hauser e soube que Alexis era doente, passei a cuidá-lo e não levou muito tempo para que descongelasse aquele coração que tinha tanto amor dentro.
— Senhora? — Ouvi a voz de Fernanda, a governanta, reconhecendo-a imediatamente, como se nunca tivesse deixado aquela casa, já que ela estava exatamente como há um ano atrás.
— Fernanda! — Sorri, indo na direção dela e abraçando-a.
— Eu... Meu Deus! Achei que... Estivesse morta! — A voz dela mal saia.
— Está pálida. Parece mesmo que viu um fantasma — brinquei.
— Está... Viva.
— Em carne e osso. — Peguei a mão dela e a fiz tocar meu braço, o qual apertou levemente.
Percebi que suas mãos estavam trêmulas e tentei acalmá-la:
— Eu não estou morta. Não sou um fantasma, Fernanda. Acordei do coma há algumas semanas. E... Quis fazer uma surpresa a Andress e Mabel.
Ela deu um passo para trás e mordeu os lábios, nervosamente:
— Mas... Avisaram o senhor Montez Deocca?
— Não... Como eu disse, quis fazer uma surpresa. — Sorri e me dirigi novamente para a escada, sendo contida por ela.
— Não pode subir, senhora — falou com a voz fraca.
Eu ri:
— Está tudo bem, Fernanda. Andress está em casa, não é mesmo?
Ela assentiu.
— Então irei fazer uma surpresa, conforme imaginei desde que saí do coma. Acredita que me disseram que meu Andress não quis saber notícias minhas? — Ri. — Isso tudo é uma loucura.
— Senhora... Eu... Não acho que deva subir.
Olhei no relógio, que marcava onze horas da noite:
— Andress não dorme cedo. Certamente vou encontrá-lo deitado, mexendo no celular — lembrei saudosa do corpo de meu marido na cama, usando somente uma cueca, com o corpo perfeito em evidência. — E ele ficará feliz em me ver.
— Senhora...
— E Mabel? Meu Deus, que saudade da minha sogra.
— A senhora Mabel... Não está mais na casa.
— Como assim? — Voltei, dando alguns passos para trás e encarando Fernanda.
— Ela... Foi internada numa Clínica.
— O estado de saúde dela piorou?
— Eu... Não sei, senhora. Só sei que... Ela não se encontra mais na mansão.
— Onde ela está? Qual clínica?
— Não posso lhe dar esta informação, senhora... Porque realmente não sei.
Balancei a cabeça e Fernanda se pôs na minha frente:
— Senhora, não suba.
Estreitei os olhos e pedi:
— Saia da minha frente, Fernanda.
Ela abaixou o olhar e saiu, dando-me a passagem. Eu estava com medo do que encontraria lá em cima. Ainda assim respirei fundo, encarei-a e subi vagarosamente cada um dos degraus de vidro, com o coração acelerado.
Andei pelo corredor iluminado pelas lamparinas acopladas à parede até chegar ao final dele, onde avistei a porta do meu quarto. Ouvi sons vindo do lado de dentro... E risadas.
Embora eu não quisesse admitir, já sabia o que estava acontecendo ali.
Vagarosamente girei a maçaneta, tentando não fazer nenhum ruído. Então, com a claridade que vinha da rua, das lâmpadas dos postes, agregada à da lua da noite bonita que fazia lá fora, avistei a silhueta perfeita do corpo de Andress sobre a mulher, enquanto beijava cada parte de seu corpo.
— Você é maravilhosa, Ashley!
— Eu sei... — Ela gargalhou.
Fiquei quase sem ar ao ouvir a voz da minha melhor amiga. Agora eu entendia o carro dela na garagem... E o fato de Mabel não estar mais na casa.
O que aqueles dois tinham feito com Mabel? Como Andress foi capaz de tirar a própria mãe de casa?
— Gostosa... — Andress abriu as pernas dela e começou a beijá-la.
Ouvi os gemidos intensos de Ashley ecoando pelo quarto:
— Me diga que será meu para sempre, Andress.
— Serei... Para sempre — ele garantiu ainda entre suas pernas.
— E se Duda acordar? — perguntou com a voz lânguida.
— Aquela tonta não vai acordar. E se acordar, exigirei o divórcio, quer ela queira, quer não. Não continuarei em hipótese alguma um casamento fracassado.
— Já vai fazer um ano... Talvez seja hora de entrar com um pedido judicial para que sejam desligados os aparelhos — ela sugeriu.
— Sinceramente... Não quero falar de Duda entre as suas pernas, amor...
Ashley riu e gritou:
— Aí, isso dói... Continua... Adoro quando morde minha boceta.