Meu primeiro beijo
Lívia
Demoro a entender a consequência das minhas atitudes, mas em um momento acabo fechando os olhos e dando espaço para a língua obstinada traçando cada pedacinho da minha boca, busco retribuir do mesmo jeito acompanhando aos poucos a brutalidade. Em pouco tempo o fôlego se esvai mas a necessidade em continuar é tão grande quanto o desejo que se infiltra junto com as borboletas na minha barriga, o toque na minha nuca misturado a tudo isso arranca um leve gemido da minha garganta. Nem mesmo consigo reconhecer de início.
Mas e o suficiente para acordar o homem a minha frente, tão rápido quanto se aproximou Bruno se afasta apoiando a mão esquerda no volante, sua respiração tão afetada quanto a minha.
Engulo a vontade de levar a mão aos lábios o gosto de menta do hálito dele misturado ao doce do chocolate. Preciso soltar o ar com calma para diminuir o ritmo das batidas do meu coração. As palavras fortes ficando gravadas na minha mente.
"Desculpa Lívia" A voz rouca atrai minha atenção.
Seu olhar se torna vazio como se nunca tivesse acontecido algo entre nós além de um contrato.
"Pelo que?" Preciso perguntar.
A sensação de decepção já se instala no meu peito, sempre sendo rejeitada por todos não seria diferente com ele, então porque isso importa tanto?
"Não deveria agir dessa maneira, você é apenas uma criança."
Encaro seus olhos azuis sombrios, mordo a parte interna da bochecha querendo controlar o choro que ameaça sair. Ajeito a postura virando o corpo para a janela, pego a caixa de chocolate e coloco em cima do painel do carro.
"Comprei o chocolate para você" Murmura em um tom de voz mais ameno.
Saber que se deu ao trabalho de comprar essa caixa de chocolate só piora a situação.
"É melhor você nos tirar daqui antes que alguém perceba que Bruno Lafaiete está andando de SUV com uma criança ao lado." Suspiro contra o vidro. "Não vai ser bom para a sua imagem"
Puxo a bolsa que caiu no chão para os braços, apertando com força.
"Lívia.."
"Isso foi um erro Bruno, apenas isso, não vamos misturar as coisas." Consigo falar voltando a olhar para ele.
Seu olhar vazio se volta para o beco vazio dessa vez com o maxilar travado. Rapidamente o carro volta para a rua movimentada, noto os seguranças voltando a nós acompanhar pelo caminho. Ao pararmos na frente da faculdade, vejo a maneira preocupada como as feições da Lia denunciam a sua preocupação. Assim que entra no carro as palavras saltam..
"O que aconteceu com vocês dois?" Fala exasperada. "Já estava quase ligando para a Madre tamanha preocupação."
Bruno apoia o braço no encosto do meu assento se virando para ela.
"Acabei tendo um problema" Declara fazendo meu coração doer um pouco mais. "Você poderia me passar o seu número, assim quando acontecer algo posso te falar."
Ela rapidamente aceita a desculpa horrorosa é incrível como minha amiga tem um bom coração e entrega o celular. Mordisco o lábio incomodada por mais que seja uma mentira que inventamos sobre estarmos juntos conversando por mensagens, de alguma maneira sinto essa sensação desconfortável em não ter o número dele.
Inspiro e solto o ar lentamente observando os outros alunos andando pelo gramado da faculdade. Somos um contrato de mentira, nada além da segurança dos meus meninos.
"Lívia?" Saio dos pensamentos com a voz grave me chamando. "Principessa você não escutou nada não é?"
Suspiro com o apelido carinhoso, voltando a olhar para o homem que agora tem uma expressão completamente diferente quase apaixonada até.
"Sei que você não gosta de receber presentes muito menos algo assim." Ele abre um sorriso como se estivesse constrangido. "Mas quando fui comprar o chocolate vi esse celular"
Ele ergue a mão com o aparelho de última geração.
"Bruno.." começo
"Ahh Lívia não seja chata ele saiu mais cedo do trabalho só para te comprar um presente." Lia abre um sorriso.
Em que momento eles conversaram tanto?
"Tudo bem" Aceito o celular colocando dentro da mochila.
Abro um sorriso torto sem conseguir fingir tão bem quanto ele. Mantenho o silêncio durante todo o percurso e quando chegamos na frente do orfanato pulo para fora do carro quase correndo. Só paro ao entrar dentro do quarto jogando a mochila no canto deito enfiando o rosto no travesseiro algumas lágrimas irritantes caem. Sinto o toque nas costas e sei que é Lia preocupada.
"O que aconteceu, amiga?" Murmura.
Não posso dizer a verdade e isso apenas deixa meu coração ainda mais dolorido.
"Lívia, conversa comigo o que está acontecendo?"
Ergo o corpo ficando sentada enxugo as lágrimas buscando alguma desculpa boa o suficiente.
"É só que estou tão insegura." Murmuro envergonhada por mais uma mentira.
"Oh meu bem,isso é comum" Ela abre um sorriso sincero. "Você é tão nova e ele é um homem feito, mas com sinceridade nunca vi um homem olhar tão apaixonado para uma mulher como Bruno olha para você." Declara "E já que você abandonou esses chocolates vou comer sem dividir" Ela abre um sorriso.
Sinto os lábios tremendo diante da sua declaração, abraço ela aceitando o seu afago e carinho até o momento em que precisa sair para ir tomar banho e ajudar as crianças no jantar.
O que Lia viu foi apenas um homem atuando da mesma maneira como ele finge ser um filantropo na frente da sociedade quando é só um babaca egoísta. Fecho os olhos e a sensação daquele beijo volta com tudo , ergo a mão levando os dedos aos lábios, Bruno roubou o meu primeiro beijo apenas para provar que pode me rejeitar , fecho os punhos com raiva,não vou cair nisso. Escuto o som de um toque e lembro do celular novo, pego a mochila do chão retirando o aparelho de dentro. Vejo o nome dele gravado ligando, ignoro todas as cinco chamadas.
Vou tomar o meu banho, auxílio no cuidado das crianças e depois de jantar finalmente volto para o meu quarto. O aparelho que esqueci em cima da cama, acende uma pontinha de curiosidade. Desbloqueio a tela vendo que após ter saído do quarto ele ainda ligou mais duas vezes. Mas é a mensagem que chama minha atenção.
"Desculpe por hoje, você tem razão sou um idiota, te beijar foi a melhor parte do meu dia, só que… você só tem dezessete anos Lívia e nem percebe o quanto me assombra te querer assim."
Abro e fecho a boca sem reação, sem saber o que falar ou como responder. Passo a mão sobre o peito e ergo para os meus lábios outra vez. Aperto o celular e deito na cama, até dormir pensando na mensagem que desestabilizou meus pensamentos.