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CAPÍTULO 4

MICHELE ANTUNES

-Ai meu Deus do céu, você está bem? -corro em sua direção e dou alguns tapinhas em suas costas na tentativa de desengasgá-lo. -Não morre, por favor! -peço com os olhos arregalados com um misto de medo e culpa.

Que droga eu estou fazendo da minha vida?

Oliver tosse com o rosto avermelhado pelo esforço e aos poucos sua respiração vai voltando ao normal. Solto o ar que nem percebi que estava prendendo, aliviada por não ter matado o homem. Eu não quero ser presa por homicídio culposo, de jeito nenhum! Sou jovem e bonita demais para encarar a cadeia.

-Sente-se melhor? -questiono abaixando-me a sua frente enquanto uma de minhas mãos permanece em suas costas deslizando para cima e para baixo e meus olhos buscam seu rosto.

- Estou. -ele responde com a voz rouca.

-Você me deu um baita susto. Achei que tinha te matado, homem! -nós rimos e seu olhar azulado se prende ao meu por alguns segundos enquanto nos encaramos em silêncio.

Por um instante ficamos assim até que minha ficha finalmente cai e eu percebo o que estou fazendo de modo involuntário. Retiro apressadamente a mão que está em suas costas e a recolho sobre meu colo. Empertigando-me novamente sobre meus pés, torno a me sentar na poltrona de frente para ele com sua mesa criando uma barreira segura entre nós.

Foca no objetivo, Michele!

-Huhum... -pigarreio constrangida e o rosto ardendo em chamas. -E então, você vai me ajudar? Não se preocupe, não será nada real. -digo adquirindo um pouco de confiança e prossigo. -Eu só preciso que você finja ser meu noivo e pronto. Não precisa se comprometer de verdade, Oliver.

-Está mesmo falando sério, Michele? -Oliver tomba a cabeça de lado olhando-me como se eu fosse louca ou coisa parecida.

-Claro. Porque não estaria? -rebato com outra pergunta.

-Talvez porque isso não faz o menor sentido? -ele indaga com um mínimo sorriso de lado e uma pontada de ironia na voz. -Porque precisa de um noivo de fachada? A quem está tentando enganar e qual o motivo? -seu olhar astuto agora me analisa criticamente fazendo-me sentir como um ratinho de laboratório sendo observado por um pesquisador esperto e experiente.

-Primeira coisa, eu não estou tentando enganar ninguém. Bem, não no sentido literal da palavra, quero dizer. -me corrijo rapidamente e Oliver solta uma risadinha achando graça.

-Certo, prossiga. -ele me incentiva e relaxa a postura deixando as costas cair sobre o encosto de seu assento.

-Olha, eu vou te explicar resumidamente a situação para que não fique aí com esses... com esses enormes olhos azuis julgadores me condenado na sua mente. -digo nervosa me enrolando na última parte da frase.

-Meus olhos te intimidam, Michele? -vejo uma sombra de diversão nublar aquela imensidão azulada que ele chama de olhos, quando o mesmo se inclina sobre a mesa apoiando-se sobre os cotovelos e aproximando mais o rosto do meu. -Sente-se embaraçada quando eu a olho profundamente? -Oliver insiste visivelmente envaidecido consigo mesmo.

-É-é claro que não, para as duas perguntas. Que prepotência mais descabida! -me ultrajo apertando os dedos das mãos sobre meu colo. -Mas voltando ao assunto anterior. Eu preciso que me ajude se passando por meu noivo apenas para minha mãe. Ela tem um sonho absurdo de me ver casada com um homem bonito antes de bater as botas.

-Ah, então você me acha bonito? -seu sorriso cheio de dentes brancos e perfeitos quase rasga seu rosto fazendo com que o canto de seus olhos se enruguem de modo gracioso.

Espera! O que? Não, não! Eu não quis dizer gracioso, eu quis dizer... horroroso. Sim, é isto! Horroroso.

-Não! -grito arrependida pelo mal uso das palavras.

-Então não me acha bonito? -ele gira levemente a cadeira sobre as rodinhas. -Você deve ter muita coragem para vir até aqui me pedir um favor absurdo, e ainda por cima insultar minha aparência, Michele.

-Me desculpa, eu não quis ofendê-lo, pelo amor de Deus, Oliver! -digo sentindo o suor frio escorrer por minha coluna.

Eu vou acabar estragando tudo e consequentemente perder a oportunidade de convencê-lo, se continuar com essas trapalhadas produzidas por meu cérebro que resolveu bancar o inútil no momento. Respira fundo e pense em cada palavra com calma, Michele. Você consegue, garota! Vamos lá.

-Eu me expressei mal, Oliver. Você é sim um homem bonito, sinto muito se dei a entender o contrário. -digo cautelosamente observando sua reação que não aparenta estar ofendida.

-Agradeço pela sinceridade, você também é uma mulher muito linda se me permite dizer. -Oliver tenta ocultar, mas por detrás da mão que cobre parcialmente sua boca, consigo enxergar seus lábios esticados em um sorrisinho de quem está se divertindo com a situação.

Filho da mãe!

Mas não posso confrontá-lo de imediato e correr o risco de que se negue a me ajudar em meu plano. Por isso, me faço de sonsa e continuo a explicação de onde havia parado.

-Acontece que minha mãe pensa que eu estou noiva. -retorno ao assunto anterior.

-E por qual motivo ela pensa isso? Por acaso seu último relacionamento terminou recentemente e agora você pretende manter a farsa? -seu faro investigativo o impele a me interrogar como um maldito CSI.

Advogados...

-Não é nada disso, Oliver. Eu não estava em um relacionamento, mas mamãe pensa que eu estou noiva porque... porque eu inventei essa história.

-E porque você fez isso? Qual é o seu problema, Michele? -seus dedos tamborilam sobre o tampo da mesa de modo calculista mantendo o cenho franzido.

-Foi em um momento de total desespero, droga!

Eu me exaspero incomodada com o tom acusatório de suas palavras lançadas em minha direção.

-Não foi nada premeditado. Eu não planejei isso. Apenas aconteceu. Numa hora ela estava me contando que o médico tinha lhe dito que estava com câncer, e na outra eu estava prometendo que ela iria sobreviver para estar presente no dia do meu casamento. -jorro as informações todas de uma vez só, sem disfarçar a confusão emocional que sou, e Oliver se aproxima ainda mais de mim.

-Michele... -suas mãos capturam as minhas e nossos dedos se entrelaçam de modo que ele não permite que eu me afaste quando tento puxar as mãos de volta.

-Eu não pensei direito e agi impulsivamente por estar de cabeça quente na hora. Sei que errei ao mentir para ela desse jeito, ok? Mas você não pode me julgar por tentar fazê-la feliz ao realizar seu último desejo! Ela já fez tanto por mim nessa vida que...

-E eu não te julgo por isso, Michele. -Oliver interrompe-me.

-Não? -questiono em dúvida ao fitá-lo com certa incredulidade.

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