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CAPÍTULO 5

OLIVER RESENDE

-Não, eu não a julgo por isso, Michele. -respondo tranquilamente. -Mas você parece não ter pensado em todos os aspectos quando cogitou dar continuidade a essa ideia maluca. Mentir em um momento apavorante é até aceitável, mas prosseguir com essa loucura adiante é... sei lá, não tenho nem palavras para definir o absurdo que esta situação é.

-Você não entende! -Michele se desvencilha do meu toque e bate uma mão fechada em punho sobre a mesa.

-Então me explique. Sou um homem bastante inteligente e bem paciente também. -digo cruzando os braços sobre o peito ao encara-la firmemente.

-...vocês são tão parecidos. -ouço-a murmurar baixinho como se para si mesma e levantar-se em seguida.

-O que disse? -questiono curioso acerca do que ela está falando.

-Nada. Não é nada. -ela sacode a mão no ar em sinal de descaso.

Michele parece agitada e ansiosa pelo modo como anda de um lado para o outro na sala e pela expressão corporal tensa que exibe. Após alguns segundos desse pequeno martírio, ela cessa os movimentos de vai e vem parando em frente a minha mesa, e puxa uma profunda respiração antes de voltar a falar novamente.

-Olha, minha mãe enfrentou uma barra muito difícil a maior parte da vida para me criar sozinha depois da morte do meu pai. -ela começa. -Eu era bem pequena na época para me lembrar do ocorrido, mas sei que ele morreu assassinado após ser vítima de um assalto que deu errado. -uma pausa e por um milésimo de segundo seu semblante impassível vacila.

Vejo sua garganta se movimentando quando ela engole em seco.

-Ela sempre fez de tudo por mim, das tripas ao coração para que eu fosse plenamente feliz e... acho que agora é a hora de eu retribuir pelo menos de alguma maneira.

Ela se explica provavelmente buscando algum sinal de compreensão da minha parte.

-Se esse é o sonho da vida dela, então eu irei realiza-lo de um jeito ou de outro. Eu não me importo em fazer qualquer sacrifício, pois se no final isso fizer com que minha mãe tenha um belo sorriso no rosto, então qualquer esforço terá valido a pena. -ela conclui.

-Eu compreendo perfeitamente, Michele. -assinto positivamente ligeiramente emocionado por tal devoção a sua progenitora. -Mas ainda assim é algo eticamente falando, errado. Muito errado. -eu aponto o óbvio.

-Eu sei. -ela bufa revirando os olhos ao sentar-se na poltrona outra vez. -Mas também é o certo. -rebate.

-Certo no ponto de vista de quem, mulher? -questiono dando uma curta risada sarcástica. -Meu Deus, isso deve até ser pecado.

Balanço a cabeça em negativa.

-Na verdade é pecado. Triplamente pecado, primeiro porque é uma mentira, segundo, porque é uma mentira contada para a sua mãe, e terceiro, porque é uma mentira contada para sua mãe que está doente com câncer. Por Deus, como isso soa errado! -arregalo os olhos em choque ao final dessa constatação.

-Ninguém precisa saber desse mero detalhe se a gente não contar. Será apenas um segredo entre eu e você, Oliver. -seus olhos escuros me fitam fixamente com tanta determinação, que algo dentro de mim começa a derrubar barreira por barreira da resistência que construí.

-Você está mesma determinada a ir até o fim com esse plano que tem tudo para dar errado, Michele? -faço a pergunta de modo sério e compenetrado como se estivesse em uma importante audiência no tribunal.

-Como nunca estive em toda a minha vida, Oliver. -ela responde no mesmo tom. -Porque a pergunta?

-Porque se estiver mesmo convicta e eu embarcar nessa loucura, você tem que estar bem ciente de algumas coisas. Você está preparada para enfrentar todas as consequências que essa mentira trará consigo? -eu inquiro.

-Sim, eu estou. -ela afirma orgulhosamente ao erguer o queixo, porém noto uma rápida sombra de receio passar por seus olhos.

Ah, Michele... não imagina o que te aguarda, não é mesmo?

-Então antes de fecharmos qualquer acordo, quero deixar alguns pontos bem esclarecidos para que não haja mal entendidos no futuro entre nós.

-Certo, você tem toda razão. -Michele concorda rapidamente e suas mãos se apoiam em seus joelhos quando ela se inclina mais em direção a mesa, ansiosa para saber o que tenho a dizer.

Calma aí, morena. Não tão rápido assim! Primeiro vem os meus termos e só depois o sim para essa ideia doida.

-Em primeiro lugar você precisa ter ciência da natureza do meu interesse em você. -digo com franqueza.

Enrolar e fazer joguinhos juvenis nunca foi o meu forte.

-Eu te acho uma mulher muito bonita e que despertou o meu interesse de imediato quando a vi pela primeira vez na casa da dona Josefina. -digo calmamente observando atentamente sua reação.

Ela parece surpresa e um tanto impressionada, talvez por meu método sincero e direto de dizer o que quero.

-Quero conhece-la melhor e quem sabe se as coisas derem certo entre nós, a gente possa investir em um relacionamento de verdade futuramente?

Como Michele permanece calada e não me interrompe para tecer nenhum tipo de comentário, opto por continuar.

-Por essa razão, estou vendo algo de positivo nessa situação e aproveitando a oportunidade para estarmos mais próximos e estreitar nossos laços, primeiramente como amigos e depois... só com o tempo poderemos saber. -dou de ombros deixando a frase implícita pairando no ar.

-Nossa, você é bem... bem honesto. Até um pouquinho demais. -ela ri nervosamente visivelmente abalada pelo o que acabou de ouvir.

-Eu chamo isso de sinceridade e transparência, Michele. É assim que eu trabalho, você pode lidar com isso?

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