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CAPÍTULO 7

REBECCA

— Elias e papai, deixem-me ajudar com as sacolas. — Corro para os receber na porta.

— Leve para a mãe. — Elias me entrega as sacolas.

— Essas aqui, deixa que o pai leva. Estão pesadas. — Meu pai sorri, passando por mim.

Sigo-o, levando as que o Elias me passou.

Ufa! Saí daquela sala. Eu estava falando igual a uma matraca. É assim que reajo ao nervosismo.

Meu Pai do céu! Que homem é aquele?

— Querida, comprei tudo que você me pediu. — Papai deixa as coisas em cima da mesa e dá um beijo na bochecha da minha mãe.

São tão fofos juntos.

Eu coloco as sacolas em cima da mesa também e meu pai sai da cozinha. Ele foi à sala conversar com Elias e Luiz Otávio.

Luiz Otávio. Esse nome combina com ele.

Tão alto e tão forte. Que corpo é aquele? Eu me senti tão pequena e insignificante perto dele. Espero não ter parecido uma tola. Aqueles olhos demonstraram estar sedentos ao mesmo tempo em que pareceram frios. É como se ele fosse um vulcão prestes a explodir, mas disfarçado de uma montanha verde e tranquila.

— Filha, a macarronada é com você, certo?

— Pode deixar, mamãe.

Quando estou colocando a panela com a água no fogo, passam os três pela cozinha, indo para a porta dos fundos. Finalmente, vão começar a mexer com a carne. Papai, meu irmão e Luiz Otávio. Olho para eles, um a um, e sorrio para todos. Dois deles me devolvem o sorriso, enquanto o terceiro me ignora completamente.

Ah! Senti uma fisgada por baixo das pernas, que bambeou o meu corpo todo.

— Leve esta bacia para o seu pai. — Minha mãe me entrega uma tigela cheia de carnes. — Leve o sal grosso também.

— Nossa! Eles fazem as coisas, mas querem tudo nas mãos.

— Rebecca! Pare de reclamar.

— Estou indo, mãe. — Sorrio, revirando os olhos.

Pego a bacia de carnes, um pouco pesada para mim, e saio em direção à churrasqueira lá no fundo. Atravesso o gramado olhando para a cobertura iluminada pelas várias lâmpadas que o meu pai instalou. De longe, consigo ver os três sujeitos sentados nos bancos em frente ao balcão. Continuo avançando os passos.

Meu pai me vê e vem ao meu encontro.

— Obrigado, Beky. — Pega a tigela das minhas mãos.

— Por nada — respondo, olhando para o Luiz Otávio, que está distraído, dizendo algo para o meu irmão.

Estou dando meia-volta para retornar à cozinha, quando papai me dá uma nova tarefa:

— Leve aquela panela que está em cima da pia para a sua mãe lavar.

Olho na direção da pia da churrasqueira. Tem uma panela lá.

— Tá bom.

Quando eu chego perto do Elias e do Luiz Otávio, ambos param de conversar sobre o que quer que fosse e olham para mim. Bom... Na verdade, o Luiz Otávio me encara por breves segundos, e logo desvia o olhar.

— Beky, você já conheceu o meu amigo, né? O Luiz estava me falando de você.

— De mim? — pergunto, interessada no assunto.

— Sim. Ele estava me falando que você parece ainda mais nova do que é.

— Hã?

— Pois eu concordo com ele.

— Bom para mim. Não quero mesmo parecer mais velha. Mas se lembrem, rapazes: eu já tenho 19 anos.

Elias começa a rir como se eu tivesse contado uma piada, enquanto o seu amigo leva um generoso gole de água à boca, desinteressado no assunto.

O que ele tem de lindo, tem de esnobe. E o que tem de esnobe, tem de misterioso.

Dou um sorriso educado e volto para ajudar a minha mãe. Alguns minutos depois, sinto um cheiro gostoso de carne assada chegando até nós.

A campainha toca. Deve ser o Gefersson. Eu havia me esquecido dele. Corro para abrir o portão.

— Oi. E aí? — Ele sorri, sem jeito.

— Entre. — Retribuo o sorriso.

Eu o guio até a minha mãe para ele a cumprimentar. Em seguida, levo-o até a edícula nos fundos para o juntar aos outros homens. Gefersson é um rapaz de 23 anos, divertido e de fácil conversa, que se dá muito bem com o meu irmão e meu pai.

— Chega mais, Gefinho. — Elias o segura pelos ombros para o receber. Em seguida, lança-me uma olhada torta por trás dele.

Não entendi. Será que ele percebeu alguma coisa sobre o que rolou entre mim e Gefersson? Ah, acho que não. Ele sempre faz isso, afinal de contas, desde que eu era criança. É um baita ciumento e não pode nem sonhar com o que aconteceu. Acho que ele socaria o meu amigo repetidas vezes se soubesse.

Fico observando o entrosamento de Gefersson com os homens e, principalmente, com o amigo do meu irmão, que o olha dos pés à cabeça, como se estivesse tentando reconhecê-lo ou o analisar. Sinto uma pontada de indignação. Quem esse Luiz Otávio pensa que é para o analisar dessa forma? Gefersson é o meu amigo e é uma boa pessoa. Não foi uma das melhores transas da minha vida, mas é um amigo leal e um ser humano incrível.

Decido que ficarei aqui com eles. Onde está escrito que eu deveria estar na cozinha? Eu, hein! Encosto-me ao lado do Elias, que está servindo refrigerante para Gefersson. Aqui ninguém toma cerveja. Pelo menos não dentro da casa do meu pai. Ele é crente e quer que todo mundo seja também.

— Me dê um gole, Gefersson. — Estico as mãos para ele, que me entrega o seu copo de guaraná depois de ter tomado um pouco da bebida.

Ele sorri para mim enquanto tomo o refrigerante.

— Está em falta de copo aqui em casa? — Elias pergunta, olhando-me com uma cara de poucos amigos.

— É só preguiça mesmo. — Sorrio docemente.

Sei como me livrar da raiva das pessoas daqui: é só eu abrir um sorriso calmo, que essa calmaria passa para eles também.

— Preguiçosa. Coitado do cara, você tomou todo o refrigerante dele — meu irmão diz em um tom brando desta vez, colocando mais bebida dentro do copo.

Homens.

Logo todos estamos comendo em volta da longa mesa de madeira. Elias faz algumas piadas e ninguém escapa do riso. Confesso que não imaginei que o esnobe do Luiz Otávio pudesse rir de forma tão espontânea, mas é incrível como ele não perde essa pose. No mais, ignora-me o quanto consegue. Eu puxo alguns assuntos, e ele responde de forma vaga.

Quando ele vai embora, noto o carro chique que está dirigindo. Deve ter dinheiro. Está explicado o nariz empinado.

— O Gefersson não vai embora, não? — Elias me pergunta de maneira discreta quando estou lavando a louça.

Odeio isso.

— Pergunte para ele — respondo, impaciente.

O falso do meu irmão o trata muito bem nos minutos que se seguem, e meia hora depois quem reclama é a minha mãe.

— Filha, vai dormir, porque amanhã você precisa acordar cedo. E você, Gefersson? Precisa acordar que horas amanhã? — dona Rose questiona, sem piedade.

— Gente, eu não havia percebido o horário. Peço desculpa por isso. Agradeço por terem me recebido. Estou indo — ele se despede.

Não posso levá-lo até o portão, pois o meu irmão faz isso por mim, com a intenção de me manter longe dele. Elias é tonto. Se ele soubesse o que fizemos há algumas horas, não estaria tão preocupado.

Arrumo-me para dormir, e quando me deito, vejo o rosto do amigo esnobe do meu irmão. Que homem celestial. Parece um anjo, de tão maravilhoso. Eu nunca tinha reparado em homens mais velhos que eu, geralmente só me interesso pelos da minha idade. Acho que o mais velho com quem me relacionei foi Gefersson. E agora, conhecendo o Luiz Otávio, consigo ver a diferença entre um homem de 20 anos e um de 27; não pela aparência física, mas pelo comportamento dele. Ele é tão frio, que chega a me aquecer. Isso é tão estranho. Espero vê-lo com frequência. Ainda não entendi muitas coisas sobre ele, mas acho que ele é interessante demais para ser deixado para lá.

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