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CAPÍTULO 8

LUIZ OTÁVIO

Na volta para casa, paro o carro em um bar de esquina qualquer. Preciso tomar uma dose de alguma coisa que tenha álcool. No ambiente há alguns homens mal-encarados me olhando como se eu fosse um extraterrestre. Balanço a cabeça, acenando amigavelmente. Isso faz eu me lembrar dos tempos de escola, de quando eu vivia acuado, estudando escondido em algum canto, para os valentões não me acharem, ou eles me socariam. Os valentões não gostam dos nerds, certamente, porque sabem que, no futuro, aqueles estudiosos se darão melhor na vida do que eles, que passam o ensino médio dificultando a vida dos outros. Esses raramente se dão bem na fase adulta.

— Boa noite, senhores — cumprimento os homens e, em seguida, levo o último gole da bebida à boca.

Não posso beber, estou dirigindo. No entanto, só uma dose não me fará mal. É o que espero. De qualquer forma, estou levando um litro da bebida mais rara que encontrei no local. Se eu fosse um homem normal, poderia me encontrar com uma garota de programa. Ela iria tirar a Rebecca da minha cabeça rapidinho e eu não teria que me preocupar com isso.

Chego em casa um pouco mais calmo, converso com o meu pai, que está fazendo um lanche na cozinha, e depois me troco para deitar. Eu não sou acostumado a usar o celular na hora de dormir, pois isso atrapalha o meu sono, mas, de repente, sinto-me tão ansioso, que preciso fazer alguma coisa; qualquer coisa que não me permita pensar na irmã do meu melhor amigo. Eu não sou desse tipo. Eu não trairia a confiança do meu amigo nem em pensamento.

Espero não sonhar com aquela pequena diaba outra vez.

(...)

O dia amanheceu tranquilo. Levanto-me, tomo um banho e visto um dos agasalhos que utilizo para correr. Ninguém em casa está de pé ainda, nem mesmo a minha avó. Saio com os fones de ouvidos tocando uma música internacional e começo a correr, com os cabelos ainda levemente molhados.

Volto para casa uma hora e meia depois. Minha doce avó já está com o café pronto, esperando por mim.

— O dia fica bem mais colorido com você aqui. — Ela me entrega uma xícara.

— Vovó, a senhora deve dizer isso para todos — brinco, tirando os fones de ouvidos.

— Você está todo suado. Acho melhor tomar um banho antes de tomar café.

— Mas, vó! E se eu desmaiar no chuveiro? Aí morrerei afogado com toda aquela água caindo em cima de mim.

Dona Laura revira os olhos e me dá um pedaço de broa.

— Você precisa se casar, meu menino. Logo fará 30 anos. Como poderei morrer sem conhecer os meus bisnetos?

— Vovó, eu estou prestes a fazer 28 anos. Os 30 ainda estão longe, e a senhora tem saúde para dar e vender. Pare de falar sobre esses absurdos.

— Eu conheço boas moças que lhe servem. Escolha uma delas. Certamente, com essa sua beleza e posses, nenhuma delas iria negar.

— Vovó, pois se a senhora realmente está preocupada com isso, saiba que está em meus planos noivar ainda neste ano.

— Está falando a verdade?

— Sim. A senhora sabe que eu não minto.

— Amém! Louvado seja Deus!

— Amém.

— Vem cá, Luiz. Chegue mais perto. — Ela arqueia o corpo em minha direção.

— O que é, vovó? — pergunto, curioso com sua mudança de tom.

— O que acha da Melissa?

— Está falando sério?

— Eu só quero saber a sua opinião sobre ela.

— Nunca, nem em mil anos! Como eu poderia me interessar por alguém tão fácil como ela?

— Também não precisa ser grosseiro, menino.

— Eu não quis ser grosseiro, vovó. Mas, por favor, né? Fala sério.

— Eu só estava tentando te pescar. Eu confio em sua intuição. Escolha uma moça com sabedoria.

A minha vontade é de chegar nela e dizer: “Vovó, eu jamais me casaria com a Melissa, pois ela não é virgem. Não quero ter relação sexual pela primeira vez com uma garota que já sentou em várias picas.” Mas isso seria completamente inapropriado, eu jamais lhe diria isso.

Levanto-me de supetão.

— Vovó, a gente se fala mais depois. Tenho algumas reuniões agora. — Beijo o topo da sua cabeça e corro em direção ao meu quarto.

Espero que, na semana que vem, eu já possa estar em minha própria casa, antes que eu me acostume a ficar aqui e acabe gostando.

Ligo o notebook na chamada de vídeo. Os materiais já estão preparados há muito tempo, só preciso seguir o roteiro. Muda a apenas o quanto eu terei que repetir a mesma informação para cada aluno até que ele consiga entender. Alguns aprendem na primeira vez, mas, para outros, eu preciso explicar diversas vezes, esperando que um botão se acione em suas cabeças para que entendam tudo logo. O importante é que todos me pagam muito bem. Não posso reclamar de nada, é algo que eu gosto bastante, mas não posso negar que mal espero para ampliar o meu negócio e não precisar ser tão repetitivo.

Na parte da tarde, aproveito para organizar alguns detalhes e trabalhar nos criativos para os próximos anúncios que pretendo pôr para rodar na semana que vem.

Alguém bate na porta.

— Melissa? — pergunto ao abri-la.

— Primo. Posso entrar?

Ela está usando uma minissaia rodada branca e uma blusinha de alcinhas amarela um pouco transparente e muito fina, pois eu, claramente, consigo ver os bicos dos peitos dela.

Cacete!

— Entre. — Abro mais a porta para ela conseguir entrar.

— Eu já contratei um fotógrafo. Ele vai entrar em contato com você amanhã. Pode ser? — Desfila, rebolando, e se senta em minha cama.

— Sim. Claro que pode ser.

— Eu estava pensando... — Levanta-se rapidamente e caminha em minha direção.

O meu corpo fica tenso com a possibilidade de ela me atacar, mas ela vai direto até a porta e a tranca.

— O que você está fazendo? — pergunto, com a sobrancelha franzida, arrependido de tê-la deixado entrar.

— Não sei. Me diz você: o que eu estou fazendo? — Caminha até a minha cama e se senta, cruzando as pernas, exibindo as coxas nuas e quase mostrando a calcinha. — Será que eu estou tentando te recompensar por algo?

— Não faça isso, eu não gosto.

— Ah, tem certeza? — Ergue uma das pernas e a coloca em cima da cama, exibindo a calcinha preta na minha cara e deixando claro o que quer.

— Melissa, não me faça tirá-la à força do meu quarto. Isso seria ridículo.

Minha prima sorri, travessa, como se não tivesse entendido o que falei, e começa a afastar o tecido da calcinha. Quando percebo o que ela está fazendo, vou até ela e a seguro pelos braços.

— Ai! É assim que eu gosto — diz quando a levanto com brutalidade.

Ela arregala os olhos quando percebe que, na verdade, estou arrastando-a para fora do meu quarto.

— Se você fizer isso mais uma vez, não conte comigo para nada — falo antes de fechar a porta na cara dela.

Arg! Que ardilosa. Ela não sabe agir como uma pessoa decente?

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