CAPÍTULO 5
REBECCA
O punhado de crianças cantarola e bate palmas animadamente em torno do garoto Pedrinho, que está, tímido, recebendo atenção em frente ao seu bolo de aniversário de 8 anos.
— Muitas feeeeelicidaaades, muitos aaanos dee vidaaa! É pique, é pique, é pique, é pique, é pique! É hora, é hora, é hora, é hora, é hora! Ha-tim-bum! Pe-dri-nho! Pe-dri-nho! Aeeee! — Continuo a bater palmas, animada, esperando o menino assoprar a vela.
O pequenino me olha, sorridente, e, em seguida, fecha os olhos para fazer um pedido, assim como eu lhe ensinei. Logo depois sirvo generosos pedaços de bolo para a fila que se formou em minha frente, enquanto Aria e Gefersson servem o refrigerante. Nós três somos parte de um grupo de voluntários da fundação Bruna Rodrigues. Ela é a idealizadora do projeto.
Pobre, negra e residente do complexo do Alemão, sua situação era pouco favorável e a jovem não tinha chances de realizar o sonho da sua vida: ser cardiologista. No entanto, indo contra todas as objeções, em meio a esforços em dobro, humilhações e comprometimento, ela conseguiu uma bolsa de estudos no Mato Grosso do Sul e foi morar com a tia-avó para prosseguir com o seu sonho. Anos depois, Bruna retornou ao Rio com o seu diploma e recursos para abrir a própria clínica. Casada com um cirurgião, tem influências na política e usa todas as suas armas para beneficiar a comunidade.
— Beky, adivinha qual foi o meu desejo? — Pedrinho me pergunta, aproximando-se de mim com o canto da boca lambuzado de chantilly azul.
Encaro a cabeleira loira do pequeno e passo as mãos nela, pensativa.
— Deixe-me pensar. Pediu uma pipa?
— Quase isso.
— Pediu um par de tênis?
— Não. — Ele ri. — Eu disse que é quase uma pipa. Não tem nada a ver com tênis.
— Você quer um aviãozinho que voa de verdade?
— Quase acertou. Eu quero ser piloto de avião quando crescer.
— Olha, gostei. Você vai viajar para vários países e conhecer muitas pessoas. Tenho certeza de que vai ser divertido.
— Sim. Igual ao homem da novela da minha mãe. Por isso que eu quero ser piloto. Quero ver o mundo lá de cima para poder enxergar as diferenças que as pessoas tanto falam.
— Pois continue estudando bastante, como tem feito, que eu tenho certeza de que vai ser você quem vai me levar para a França.
O menino abre um sorriso e abraça as minhas pernas. Afago o seu cabelo outra vez. É tão macio.
— Ei, pivete, deixe a Rebecca em paz. Ela também quer comer bolo. Vaza daí — Popó, o irmão do Pedrinho, ralha com ele.
O adolescente de 13 anos possui um comportamento diferente das demais crianças. O que pode ser por sua idade mais avançada, que lhe dá mais conhecimento e envolvimento sobre tudo, resultando em receio e autodefesa.
— Popó, e você? O que quer ser quando crescer? — questiono.
— Eu já cresci, Rebecca.
— Cresceu? — Coloco a mão em sua cabeça, medindo a sua altura e a comparando à minha. — Acho que você vai crescer mais. Vai crescer tanto, que será mais alto que eu.
— Se eu crescer mais que você, posso ser o seu namorado?
— Até lá, eu vou estar velha. Tenho certeza de que não terá olhos para mim.
— Ecaaa! — Pedrinho estala a língua e sai correndo.
Popó vai atrás dele, provavelmente, fugindo do assunto.
Duas horas depois, Gefersson e eu estamos arrumando e limpando toda a bagunça que ficou no salão. Temos o nosso espaço, mas, infelizmente, não são todos que se sentem confortáveis para o frequentar e aproveitar tudo que oferecemos.
— Aria me disse que você queria falar comigo, hoje cedo — Gefersson comenta assim que me ajuda a arrastar uma mesa para a devolver ao seu lugar.
— Eu quero convidá-lo para ir jantar lá em casa hoje. Vi meu pai comprando carne ontem à noite. Acho que ele está planejando um churrasco.
— Pode deixar. Vou estar livre nessa noite.
— É claro que vai.
Sorrio, cheia de segundas intenções. Já faz meses desde a última vez que montei em um membro, e o do Gefersson vai me servir bem. Ele parou de dar em cima de mim. Deve ter desistido depois de todas as minhas recusas. Mas tenho convicção de que é só eu estalar os dedos, que vou tê-lo em minha cama. Escondida dos meus pais, óbvio, e, principalmente, do meu irmão. Mas eu dou um jeito. Sempre consigo.
Volto para casa, cansada, e vou direto para o banho. Debaixo do chuveiro, mergulho a cabeça na água. Gosto desta sensação.
— Eu não nasci gay, a culpa é do meu pai, que contratou um tal de Wilson pra ser capataz. Eu vi o bofe tomar banho, e o tamanho da sua mala era demais. Além de linda, era demais. Eu virei gay, me assumi... — Cantar no chuveiro é um vício.
Acho que, em outra vida, eu seria cantora.
Depois do banho, enrolo-me na toalha e me deito na cama, exausta. Adormeço em um sono gostoso.
(...)
— Beky! Você está aí, filha?!
Acordo, assustada, com o meu pai me chamando na porta do meu quarto.
— Oi, pai! Estou aqui!
— Vá ajudar a sua mãe com as coisas! Vou fazer um churrasco pra nós! Vou dar uma saída com o seu irmão pra comprar carvão!
— Já vou! Acabei de sair do banho!
Corro para me vestir. Coloco uma saia vermelha longa, no estilo cigana, e uma camiseta branca com uma pomba de símbolo da paz ilustrada. Faço uma trança no cabelo e coloco uma presilha na franja. A minha franja é longa, mas eu me acostumei com essa presilha. Culpa da minha mãe.
Eu posso não ter nenhuma intimidade com a moda, mas compenso tudo em minha personalidade e isso não faz diferença para mim. Sempre consigo deixar a impressão que quero, independentemente das roupas que uso.
Olho no meu celular e vejo que Gefersson chegará em cinco minutos. Dou uma organizada no meu quarto, principalmente na cama.
“Venha direto para o meu quarto. Pule a janela. O portão está aberto. Só a minha mãe está em casa, e ela não escuta muito bem.”
Logo vem a resposta:
“Ui. Isso quer dizer que eu, finalmente, vou poder transar com a minha amiga?”
“Venha logo, antes que eu mude de ideia, e antes que o meu pai chegue.”
E, principalmente, antes que eu perca o interesse. Preciso aproveitar que só tem a minha mãe em casa.
Não demora muito, e eu vejo a sombra na janela. Abro-a para ele entrar. Junto com ele, entra o seu perfume masculino que tanto me fez falta. Não dele, mas dos homens em geral.
— Oi — ele me cumprimenta, lambendo os lábios e me olhando dos pés à cabeça.
— Tenho um presentinho para você. — Ergo a camiseta, exibindo os meus seios desnudos, pois estou sem sutiã.
— Uau! — Gefersson resmunga, paralisado.
— Você gosta?
— Estou louco pra mamar neles.
Faço um sinal para que ele continue onde está, abaixo a saia e fico só de calcinha.
— Tire as roupas e se deite na minha cama — eu ordeno, e ele, prontamente, obedece, parecendo um cachorrinho louco pelo seu osso.
— Vem aqui, vem, gostosa.
Transamos com pressa, e logo eu o coloco para correr. Gefersson se levantou e vestiu suas roupas tão rapidamente, que quase não percebi. Ele sai pela janela e eu me levanto, pensando na possibilidade de tomar outro banho. Mas iria demorar demais. Visto-me, desmancho a trança para a refazer, e, tão rápido, estou na cozinha.
— Mamãe, desculpa a demora. No que posso te ajudar? — Beijo a sua bochecha, torcendo para ela não ter nenhuma revelação sobre o que acabei de fazer. Ela, certamente, pensa que ainda sou pura.
— Graças a Deus! Por favor, leve suco para o Luiz Otávio. Seu irmão precisou sair com o seu pai e deixou o rapaz sozinho lá na sala. Fique com ele até Elias chegar. Eu estou atolada aqui.
— Pode deixar, mãe. Eu farei companhia ao amigo do meu irmão. — Sorrio, fingindo não estar curiosa para, finalmente, conhecer o misterioso Luiz Otávio pessoalmente.
Vi uma foto dele no perfil do meu irmão. E se aquela foto for real, o homem é, simplesmente, celestial. A beleza do seu rosto não é deste mundo. Enfim, estou ansiosa para lhe levar suco e poder matar a minha curiosidade sobre ele. Elias não me falou muito dele, o que deixou um mistério no ar.