CAPÍTULO 3
LUIZ OTÁVIO
— Eu não acredito que você está namorando. Como assim? — Gargalho, girando o volante do carro com cuidado pela avenida.
— Não seja exagerado, cara. Acabei de falar que estou pensando em pedir a moça em namoro.
— Pois isso, para mim, já é um milagre.
— Sei lá... A garota tem 20 anos. Sinto que sou o irmão mais velho dela.
— Você está ficando com uma garota de 20 anos? Cara, 20 é uma idade perfeita, pois assim vocês poderão ter vários filhos.
— Se liga. Você sabe que a minha irmã tem 19 anos. 19!
— E o que a idade da sua irmã tem a ver com a idade da sua namorada?
— A minha irmã é muito jovem. Não suporto nem pensar em um homem tocando nela, que já fico com muita raiva.
— Ah... — Pigarreio. — Isso é hipocrisia da sua parte, Elias. Você vai pra cama com mulheres de 19 anos.
— Não me lembre disso. Eu fazia isso no exterior, mas aqui, na cidade, é estranho.
— Cara, pare de fumar maconha. Isso está prejudicando você. Sua irmã já tem idade para se casar.
— Casamento. Aí você me disse uma coisa que eu aprovo: casamento.
— Então se case com a garota de 20 anos, e está tudo resolvido.
— Estou falando da minha irmã. Ela deve se casar, não eu.
— Cara, relaxe. Beleza?
— Sabe, Luiz... Você é o único homem em quem eu confio para ficar perto dela.
— O q-quê? C-como assim? Enlouqueceu?
— Eu sei que jamais iria tocar nela, é um virgem lento. Por isso ela estaria segura só com você.
— Cale a boca, Elias. Sua irmã é uma criança para mim. Lembro-me de quando você falava do aniversário de 15 anos dela, e parece que isso foi ontem. E mesmo que eu fosse o maior pegador da cidade, ela não seria vista como uma mulher aos meus olhos. Entendeu? Nunca mais repita um absurdo desse.
— É o que eu te falei, cara. Só confio ela a você. E está certo: ela é uma criança. Por isso eu esmurraria até sangrar o cara que tocasse nela.
— Pois, então, não confie ela a mim. Não estou a fim de ser babá de ninguém.
Elias cai na gargalhada, enquanto eu respiro fundo. Para falar a verdade, eu nem me lembro de como é o rosto da garota. A única coisa que eu me recordo é de que o seu cabelo é preto e liso. Enfim, tanto faz.
Depois de meia hora no trânsito, chegamos à agência imobiliária mais top da década.
— Escolha a mais espaçosa que tiver. Quem sabe a gente não a divide?
— Está louco? Sou capaz de pagar 20 mil dólares por mês para não ter que te ver de cueca nunca mais.
— Será que é isso mesmo ou está com medo de voltar a ver peitinhos?
Mostro-lhe o dedo do meio, desço do carro e bato a porta.
— Aqui, no Rio, a minha casa será uma casa de respeito. Nada de levar as suas peguetes para lá. Só leve uma garota se ela for a sua namorada.
— Estava demorando para o senhor certinho baixar em você. — Elias gargalha enquanto encara uma moça de minissaia que passa na calçada.
Olho-a de soslaio, evitando ser flagrado. Odeio as piadas sobre a minha virgindade.
Entramos no espaço gigantesco com vários miniescritórios dentro separando cada setor de imóveis. As imagens espalhadas fazendo as propagandas chamam a minha atenção, e paro para as olhar, na companhia do Elias.
— Aquela. Se comprar aquela ali, eu vou ser obrigado a ir morar com você. — Ele aponta para uma casa gigante verde na esquina com um muro alto feito de pedras à mostra.
— Obrigado por me avisar de qual eu não devo comprar.
— Viado.
— Viado é você, que está querendo morar comigo sem ter necessidade.
— Pois saiba que se estivesse em meu lugar, também iria preferir morar com você. É virgem e chato, mas, pelo menos, não se mete nas minhas farras nem barra elas.
— Ah... Os seus pais, eles são evangélicos.
— E estão piores que antes. Cê é louco.
— Pois alugue ou compre uma casa pra você. Tem 28 anos, é mais velho do que eu, já deveria ter desmamado.
— Falou o novinho. Com 27 anos, não está muito atrás, viu, lindão?
— Essa.
— O quê?
— Vou querer olhar essa casa. — Aponto, com o dedo, para a imagem de uma casa grande, mas sem exageros. Um design moderno e estrutura simples. Perfeita para mim e minha futura esposa.
— Olha, é bem a sua cara.
— Obrigado. — Sorrio, dando-lhe um pequeno soco no ombro. Ele retribui.
— Olá. Posso ajudá-los? — uma voz feminina interrompe o nosso momento de amigos e, subitamente, viro-me para a moça.
Abro a boca para falar algo, no entanto a minha voz fica presa na garganta.
— Sofia, você está ótima — Elias a cumprimenta.
— É Isabela — ela o corrige, confirmando as minhas suspeitas.
Que merda! Estou travado. Parece que voltamos no tempo e eu ainda não cresci.
— Desculpe, Isabela. Faz mais de um mês, então a minha cabeça ficou confusa.
— Luiz? Luiz Otávio, é você? — ela pergunta, tentando olhar para os meus olhos, que estão direcionados para todos os cantos, menos para ela.
— Você conhece o meu amigo? — Elias toma a minha frente. Ele sabe quando eu estou travado, então, provavelmente, está tentando me ajudar.
— Sou o Luiz Otávio. — Ergo os olhos para ela, vencendo todos os meus nervos paralisados. — Quanto tempo, Isabela. — Estendo a mão para a cumprimentar.
Quando ela toca na minha mão, é como se eu pudesse ouvir os risos dos meus colegas de sala da infância. Engulo em seco e respiro fundo.
— Você está lindo. Quero dizer, ótimo. Faz muito tempo mesmo. — Sorri com simpatia.
— Pode me mostrar essa casa? — Aponto para a casa do meu interesse.
Isabela me olha dos pés à cabeça com curiosidade.
— Você já viu o preço que está marcado bem pequeno ali, embaixo da imagem? — questiona, constrangida.
Na certa ela pensa que eu não tenho dinheiro.
— Olhei sim. Pode me mostrar, por favor?
— Não se preocupe, o meu amigo aqui vai comprar. Terá a sua comissão — Elias se gaba, sorrindo.
Por minha vontade, eu pediria para ser atendido por outra pessoa, mas acho que enfrentar isso como um homem será bom para mim. Preciso bater de frente com os problemas, não fugir deles. Não é como se ela estivesse querendo relação sexual comigo. Preciso ser calmo e objetivo.