01 - Bonnie Dimou
Bonnie Dimou
Olhei-me mais uma vez no espelho admirando os cabelos ruivos que tanto amo. Uma característica que herdei da minha mãe. Assim com a baixa estatura.
Estava me arrumando para mais um dia de trabalho no Museu onde sou uma das supervisoras, administro uma das alas há quase cinco anos, voltei para trabalhar na cidade onde nasci depois que me formei na Universidade de Cincinnati. Sou conhecedora de uma enorme parte da história humana, mas a minha especialidade é na história grega.
O museu de Santorini é magnífico, tem um acervo enorme e em todos esses anos venho buscando uma forma para me destacar e conseguir me tornar a diretora do lugar que tanto amo. Infelizmente os representantes do museu acham que mulheres são fracas e não merecem um cargo alto em nenhum órgão do governo, isso é extremamente frustrante.
Meu pai, Murilo Dimou, tem uma empresa de marketing e publicações. Ele sempre me diz que só serei ouvida quando constituir família, mas já disse que não quero me casar e meus superiores precisam aceitar que como mulher sou muito bem capaz de fazer com que me ouçam.
Saio do meu apartamento para o meu dia no museu e ao chegar já tenho uma enorme demanda para resolver. Minha assistente se põe ao meu lado e decido ignorá-la por pelo menos os cinco primeiros minutos enquanto me acomodo em minha sala para poder entender o que é tão urgente assim para ter me esperado na entrada dos funcionários.
Começo a lembrar de minha mãe, Paula. Ela não pode me ver chegar em sua casa que toda vez faz um drama enorme para voltar a morar embaixo de seu teto. Uma coisa que está fora de cogitação, já que saí da casa dos meus pais justamente por não aguentar mais minha mãe falando que deveria parar de trabalhar para poder conhecer um bom pretendente.
Não consigo entender por que todos eles insistem que devo me casar. Estou com vinte e cinco anos e como diria a personagem de Jenna Rink do filme “De repente 30”, a idade do sucesso é aos trinta anos e não aos vinte e cinco.
— Quer prestar atenção em mim? — minha assistente disse.
— Ainda não, volte em cinco minutos… — disse rindo e a vejo sair com um revirar de olhos.
Sentei em minha cadeira e liguei o meu computador para iniciar o dia, mas ainda com os pensamentos em minha família.
Algo que não estou entendendo é o porquê estou me torturando a essa hora da manhã.
Entendo que em algum momento da minha vida vou me casar, mas não estou com pressa. Amo o que faço e sei que se for a vontade de algum ser supremo que eu me apaixonarei. Entretanto, jamais aceitarei a ideia dos meus pais em me arrumar um casamento.
Ainda mais com o filho do CEO da Motor's.
Não o conheço pessoalmente, mas alguns dizem que ele é um homem arrogante e depois que ouvi minha mãe falando com outras mulheres que fazia gosto em um casamento entre mim e ele, tomei a decisão de ter o meu próprio canto.
O que não esperava é que o idiota começasse a espalhar que estamos noivos. Uma mentira tremenda e que não era capaz de desmentir. Suspiro mais uma vez arrumando a minha e resmungo um palavrão ao lembrar da dor de cabeça que a minha mãe me deu.
Hoje fui convidada para um lanche na casa dos meus pais no fim do dia. Tenho certeza de que é uma forma para meu pai tentar me convencer a estar com ele em mais um dos eventos que está organizando. Sei que se depender dele eu já estaria casada com o filho de um dos seus melhores amigos. O senhor Spanos.
Mal me recordo do filho de Marius e Maitê, ele morou por muito tempo no Brasil e depois da infância era muito difícil vê-lo pela mansão. E quando o colegial acabou logo fui enviada para a América para estudar.
Então como solteira e filha de uma família afortunada em Santorini sou sempre contada para algum dos jovens ricos e solteiros de nosso país. Felizmente consigo sempre escapar de alguma fofoca que a mídia solta ou até mesmo as tentativas de encontro que meus pais tentam fazer com alguém.
Não quero me envolver com nenhum deles, quero me apaixonar por alguém perdidamente. Quero descobrir o amor de forma simples e encontrar o meu mundo em um sorriso ao me ver e então, sim, me casar.
Sorrio ao perceber que já terminei o que precisava e posso chamar a minha assistente para saber o que ela tanto precisava me dizer.
— Silvia, pode vir! — digo ao telefone e começo a analisar algumas planilhas.
— Bonnie, o senhor Pappas pediu para ir até a sala dele. — Pelo olhar dela coisa boa não é.
— Estou indo lá, obrigada Silvia.
Que ótimo!
Ele não poderia me chamar um pouco mais tarde e assim evitar o dissabor da tensão que sempre surge entre ambos?
Saio da minha sala irritada por ter que suportar o diretor do museu. Um homem que tenho sérias dúvidas sobre o seu caráter.
Antes de entrar na sua sala sinto o meu celular vibrando e vejo a mensagem da minha mãe perguntando se irei até a mansão para jantar com eles.
Bonnie: Sim mamãe, mas devo chegar um pouco mais tarde, podemos marcar outro dia se desejar.
Paula: Negativo, estou com saudades e tenho algo para contar.
Sorrio ao imaginar o entusiasmo com que minha mãe deve estar. Por mais que ela tente me arrumar uma pessoa, eu os amo de uma forma que não consigo pôr em palavras e por eles daria a minha vida se um dia me fosse pedido.
Hoje já é sexta-feira e vou passar o fim de semana sem ter que ver a cara do diretor do museu. Caminho até a sua sala e antes de entrar puxo uma respiração profunda e conto até cinco na tentativa de a minha fisionomia mudar.
Bato na porta e peço licença já que não o ouvi dar permissão de entrar.
— Bom dia, senhor Pappas, o que precisa?
Pergunto ao observá-lo sentado atrás daquela linda mesa de mogno. O sonho de um dia poder estar naquela sala me consome, é o desejo do meu coração dar ao museu que amo a possibilidade de brilhar muito mais do que ele está nesse momento.
— Sente-se senhorita. Acabei de ser avisado de que teremos um leilão com algumas obras de um acervo particular. Queremos usar essa oportunidade para leiloar uma peça do nosso próprio acervo e por isso lhe chamei. — Estreito os olhos não entendendo a necessidade de um leilão. — Está aqui, porque darei a você a missão de escolher uma das peças que temos…
Vejo um sorriso nascendo em seus lábios e aquilo não me agrada.
— Precisamos levantar fundos ou vamos fechar a ala egípcia!
Fico em choque ao me dar conta de que o museu não está bem financeiramente, o que me faz questionar o que ele está fazendo com o dinheiro que é enviado para manter as contas em ordem.
Mas, também para pensar que isso é uma oportunidade maravilhosa. Talvez assim os responsáveis pelas contratações para o museu percebam que sei administrar esse lugar tão bem ou até mesmo melhor que Nikolai.
Durante os anos que estou aqui estou vendo o museu se deteriorando e Pappas não parece se esforçar para melhorar essa situação.
Agora ter que fechar toda uma ala e principalmente a egípcia me deixa ainda mais cheia de perguntas dos motivos para termos chegado a essa situação. Recupero a minha postura e deixei as milhares de perguntas para trás e olho para o homem que está escondendo algo.
— Não se preocupe senhor Pappas, irei catalogar as melhores peças e lhe trago o mais rápido possível para verificar e escolher a melhor! — Disse antes de levantar.
Entretanto, a curiosidade é mais forte e quando me dou conta a pergunta pula da minha boca mais rápido.
— Qual o problema com a ala egípcia? — O vejo respirar fundo.
— Sei que não irá me decepcionar com sua escolha e sobre a ala egípcia, o que estamos recebendo não é suficiente para manter a ala funcionando, somente isso, pode se retirar agora…
Ele me dá um sorriso e acena com a mão para sair da sua sala. Viro de costas e reviro os olhos.
