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02 - Bonnie Dimou

Bonnie Dimou

Sem demorar, saio da sua sala, com um sentimento de raiva me consumindo.

Nikolai Pappas é um homem de idade avançada e não entendo como ele pode tratar seus funcionários tão mal assim. O vejo distratando desde a sua secretária ao pessoal que faz a limpeza das dependências do museu.

Diferente de mim, que tive uma educação do meu pai completamente diferente. Ele sempre me disse que em uma empresa temos que valorizar desde quem varre o chão até que realmente administre tudo. Afinal, nunca sabemos o dia de amanhã.

Espero que um dia a secretaria de cultura nacional reconheça o meu valor e me entregue à administração desse lugar. Sorrio quando passo por Carla a assistente do Pappas que faz uma careta e me despeço dela.

Saio dali frustrada como sempre, sigo para a minha sala e começo a trabalhar em tudo o que preciso. Tenho que organizar as peças que ele me solicitou.

Passo o dia todo nisso e no final do dia um pouco mais tranquila e feliz por conseguir fazer uma boa parte do meu serviço, encerro o meu dia. Começo a organizar meus pertences para ir até a casa dos meus pais e participar do jantar que a senhora Dimou preparou para mim.

Me despeço dos meus colegas e sigo até o estacionamento. Entro em meu automóvel, um modelo exclusivo que meu pai me presenteou assim que voltei para Grécia anos atrás. Coloco meus pertences no banco do passageiro pensando que já está na hora de trocá-lo por um modelo mais atual.

Não demoro muito para chegar na casa dos meus pais, o trânsito mesmo um pouco mais pesado devido à quantidade de turistas, não estava tão cansativo assim. Passo pelos portões da propriedade e cumprimento os seguranças, alguns deles me viram crescer correndo por esse gramado.

Ao entrar em casa minha mãe já vem em minha direção e seu olhar de reprovação.

— Menina você está muito magra… — Ela segura meus pulsos erguendo meus braços. — Olha só dá para ver suas costelas, se eu te abraçar um pouco mais forte tenho certeza de que acabarei te quebrando.

Sorrio revirando os olhos e sinto o seu abraço acolhedor. Retribuo com o mesmo carinho e lhe dou um beijo em sua bochecha.

— A mamãe não exagere… — Caminhamos em direção à cozinha. — Cheguei para a senhora poder me entupir de comida, então pare com esse drama.

Sorrio e sinto quando ela me acerta com um tapa na bunda e rimos juntas.

— Você é minha única filha, quer que eu seja dramática com quem? Ainda mais que você nem quer casar, ou pelo menos me dar alguns netinhos. — Aperto a sua mão com carinho e a faço olhar para mim.

Vejo seus olhos ficando cheios de expectativa. Sei que meus pais têm suas esperanças para mim e mesmo que o assunto casamento esteja cada dia mais importante para eles. Sinto não haver um homem que me faça suspirar ou que seja capaz de me dar segurança para me entregar a ele.

— Mamãe, por favor, não comece com isso outra vez ou acabarei indo embora.

Falo séria, sei que isso é a única forma que tenho para minha mãe não insistir nesse assunto. É por causa dessa insistência que estou vindo com menos frequência em casa, eles não aceitam ou não querem me dizer os seus verdadeiros motivos para me forçar a um casamento com alguém que mal conheço.

— Tudo bem… — disse erguendo as mãos. — Vamos para a cozinha, preparei um lanche para tomarmos com chá e poder conversar sobre um assunto importante… — respiro fundo e aperto o espaço entre os olhos. — Juro que não é sobre casamento.

Quando meus pais não estão engajados a falar de casamento, eles são as pessoas mais legais do mundo. Minha mãe como qualquer mulher na sua idade gosta de uma boa fofoca e começa a me atualizar sobre os grandes acontecimentos da sociedade grega.

Assim que passo pelas portas da cozinha vejo Nona, a governanta que cuida das refeições da casa. Ela trabalha para os meus pais há tantos anos que todas as minhas lembranças de quando era criança, me recordo de sempre a ter aqui em casa.

— Menina… — reconheço o seu olhar analisador. — Você está muito magra, volte para essa casa para que eu possa te alimentar direito.

— Já a chamei Nona. Mas, essa menina é teimosa e acha que tudo o que fazemos é tentar arranjar um casamento para ela o tempo todo.

Faço uma cara feia para as duas que se olham e sorriem. Caminho até uma das banquetas e me sento para poder olhar a discussão que elas estavam protagonizando.

— Está tudo bem, nós queremos te casar. — Minha mãe assume e senta ao meu lado. — Mas entendemos que você quer se apaixonar.

— Me diga mamãe o que você quer me contar? — mudo de assunto ou vou ouvir as duas até estarem com uma folha de papel na minha frente e criando uma lista de convidados.

Vejo minha mãe se empolgar com a notícia, sorrio ao ver que ela estava quase saltitante ao meu lado, acho lindo ver minha mãe empolgada dessa forma.

— Então fomos escolhidos para organizar e divulgar o leilão que ocorrerá daqui a alguns meses e que ocorrerá no seu museu. — Ela explode de alegria na minha frente.

— Que ótimo. Fiquei sabendo hoje sobre o leilão, o senhor Pappas me escolheu para poder escolher uma peça do museu que será leiloada. — Não estava muito feliz em perder uma peça, mas… — Estou empolgada com isso mamãe, acho que eles podem ver o quanto sou boa no que faço e retribuir.

Todos em casa sabem o quanto estou me esforçando para conseguir melhorar e ser promovida no museu. Minha maior satisfação pessoal será poder comandar aquilo pelo qual estudei tanto e fiz o meu melhor.

— Aguardaremos o seu pai chegar e celebraremos a sua pequena vitória. Sei que você está à espera desta oportunidade há muito tempo. — Deitei a cabeça em seu ombro suspirando e pedindo a todos os deuses que ouvissem minha mãe.

— Ouço a voz da minha princesa? — Meu pai surge pela entrada da cozinha.

Seu sorriso é encantador e percebo a minha mãe suspirando com a sua chegada em casa.

Levanto e vou até ele e o abraço com carinho. Faz algumas semanas que não nos víamos, mesmo com eles pegando no meu pé. Eu os amo e sinto falta deles ao meu lado.

— Oi, papai, como o senhor está? — Ele se aproxima da minha mãe e lhe dá um beijo casto, o vejo sentar-se ao seu lado.

— Estou com saudade de ver você sempre em casa. Tente vir mais vezes para ver os seus velhos pais.

O olhar amoroso do meu pai me desmonta, eu não sei negar nada a ele.

— Está bom pai, tentarei vir mais vezes aqui, com tanto que não me pressionem ao casamento.

— Não faremos isso, agora me diga qual o motivo da comemoração? — Ele perguntou.

— A administração me escolheu como responsável pela escolha da peça que será leiloada, e mamãe acabou de me avisar que é a nossa empresa que irá realizar o marketing e a publicidade do leilão.

— Sim, estou também muito feliz que conseguimos a licitação por alguns anos do marketing das obras do governo. Isso foi ótimo para os nossos negócios e ainda mais agora que estou ampliando os meus contratos com a família Spanos. — Sorrio feliz por meu pai. — Mas ainda tenho algum tempo para pensar direito sobre a ideia.

Me surpreendo em saber que eles estreitarão ainda mais a relação que Marius e meu pai têm. Sei que a amizade deles é de bem antes do meu nascimento. Talvez seja por isso que sempre ouço a conversa de que seria bom eu conhecer o filho deles.

A empresa de marketing da nossa família é a junção da empresa que meu pai já tinha antes de casar com a minha mãe, com a empresa do meu avô materno, que foi para as mãos do meu pai quando ele se casou. Meus pais trabalharam muito para a empresa chegar ao nível internacional que ela é hoje.

Sei que meu pai sempre esperou que eu assumisse a cadeira de CEO, mas quando me formei em Arqueologia tenho certeza de que os seus planos meio que não deram certo. Mas, mesmo assim consigo administrar nossa empresa. Durante a minha adolescência eu ia para a empresa e aprendi tudo para levar ela adiante.

Com tudo, meu coração não estava nela, meu amor é para as antiguidades e para a história.

Tivemos uma noite agradável, nos divertimos muito. Meus pais tentaram me convencer a dormir ali com ele, com carinho recusei porque sabia que uma noite é a brecha que a minha mãe precisa para me ter de volta em casa.

Me despedi deles e voltei para o meu apartamento e minha solidão.

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