04
— Foda-se, Faro. Largue isso — disse Cassio bruscamente, me fazendo estremecer. — Eu me sinto como um pedófilo do caralho olhando para essa criança.
Faro largou o porta retrato. — Ela era uma criança fofa. Poderia ser pior.
— Espero sinceramente que ela tenha se livrado desse aparelho e franja horrível.
Minha mão voou para minha franja. Uma mistura de raiva e mortificação tomou conta de mim.
— Combina com o visual de estudante, — disse Faro.
— Eu não quero foder uma maldita colegial.
Eu me encolhi e meu cotovelo colidiu com um livro. Caiu na prateleira. Ah não. O silêncio desceu sobre a sala.
Eu olhei em volta freneticamente por uma fuga. Abaixando minha cabeça, tentei entrar no corredor seguinte. Muito tarde. Uma sombra caiu sobre mim e eu colidi com um corpo duro. Eu tropecei de volta contra a prateleira. Meu cóccix bateu na madeira dura, fazendo-me gemer de dor.
Minha cabeça disparou, minhas bochechas em chamas. — Sinto muito, senhor, — eu soltei. Maldita seja minha educação adequada.
Cassio olhou para mim, com raiva. Então a realização se estabeleceu em seus traços.
No que dizia respeito às primeiras impressões, isso poderia ter sido mais suave.
Cassio
— Sinto muito, senhor.
Eu olhei para a garota diante de mim. Ela me olhava com enormes olhos azuis e lábios separados. Então percebi quem era a garota. Giulia Rizzo, minha futura esposa.
Eu a encarei. Ao meu lado, Faro estava segurando o riso, mas eu não estava nem perto de achar divertido. A mulher, a garota, que se tornaria minha esposa em menos de três meses havia acabado de me chamar de ‘senhor’.
Meus olhos percorreram seu corpo, observando seus pés descalços, pernas finas, vestido jeans feio e a atrocidade florida que ela usava como blusa. Finalmente, meus olhos pousaram em seu rosto. Ela ainda tinha franja, mas o resto do cabelo era longo e ondulado, descendo pelos ombros nus.
Ela levantou os olhos quando não fiz um movimento para deixá-la passar e endureceu, obviamente surpresa com a minha atenção inabalável.
Eu tive que admitir que a franja não parecia tão ruim. Ela era muito bonita. Uma garota adorável. Esse era o problema. Vestida como estava, ela parecia uma adolescente, não uma mulher, definitivamente não uma esposa e mãe.
Ela tocou sua franja com os dedos trêmulos, um rubor rastejando sobre as bochechas.
Ela deve ter ouvido tudo o que dissemos.
Suspirei. Esta foi uma má ideia. Eu sabia desde o início, mas as coisas haviam sido acordadas e agora não havia como voltar atrás. Ela se tornaria minha esposa e esperava que nunca mais me chamasse de senhor.
Ela deixou cair a mão e se endireitou. — Com licença, senhor, não pretendo ofendê-lo, mas você não deve ficar sozinho comigo sem supervisão, e muito menos ficar tão perto de mim.
Faro me deu um olhar que deixou claro que ele estava quase se mijando. Eu estreitei os olhos para Giulia, sem recuar, mas tive que admitir que gostei de como ela me enfrentou apesar do poder que eu tinha. — Você sabe quem eu sou?
— Sim, você é Underboss na Filadélfia, mas eu pertenço ao domínio de meu pai, não seu, e mesmo que o fizesse, a honra me proíbe de ficar sozinha com um homem com quem não sou casada.
— Isso é verdade, — eu disse calmamente. — Mas em menos de quatro meses você será minha esposa.
Ela levantou o queixo, tentando parecer mais alta. A atuação dela era impressionante, mas os dedos trêmulos e os olhos arregalados traíam seu medo.
— Como eu vejo... você estava nos espionando. Estávamos tendo uma conversa confidencial que você ouviu sem permissão — falei em voz baixa.
Ela desviou o olhar. — Eu estava na biblioteca quando você entrou e me assustou.
Faro começou a rir ao meu lado. Eu o silenciei com um olhar e soltei um suspiro. Eu não tinha paciência para drama. Por semanas, mal dormi a noite toda. As empregadas tiraram a maior parte do trabalho das minhas mãos, mas o choro de Simona me acordou de qualquer maneira. Eu precisava de uma mãe para meus filhos, não de outro filho para cuidar.
— Faro, você pode nos dar um minuto?
Giulia me olhou com incerteza, ainda apoiada naquela prateleira. Eu dei um passo para longe dela, dando-lhe o espaço apropriado. Faro saiu e fechou a porta.
— Isso é inapropriado, — disse ela em sua voz suave.
— Eu quero ter uma rápida conversa com você. Mais tarde, seus pais estarão por perto e não teremos tempo para conversar.
— Minha mãe monopolizará a conversa. Ela é cansativa assim. — Ela estava me provocando? A expressão dela era curiosa e cautelosa.
— Isso não foi feito para seus ouvidos. — Fiz um gesto em direção às poltronas. — Você pode conversar comigo?
Ela inclinou a cabeça como se tentasse me entender. — Claro.
Esperei que ela se sentasse antes de me sentar. Ela cruzou as pernas, depois alisou a franja novamente, mas corou quando me viu assistindo. O nariz dela se contraiu. — Eu apreciaria se o senhor não contasse à minha mãe sobre isso...
— Não me chame de senhor, — eu rosnei.
Ela estremeceu, atordoada. — Como devo chamá-lo?
— Que tal me chamar de Cassio? Serei seu marido em breve.
Ela soltou um suspiro trêmulo. — Novembro.
— Sim. Depois que você completar dezoito anos.
— Isso faz diferença? Como mais alguns meses me tornam uma esposa viável quando não sou agora?
— Você é muito jovem de qualquer maneira, mas me sentirei mais confortável em casar com você quando for maior de idade.
Ela apertou os lábios e balançou a cabeça.
— Tenho dois filhos pequenos que precisam de cuidados. Daniele tem dois, quase três agora, e Simona fará dez meses quando nos casarmos.
— Você pode me mostrar fotos? — ela perguntou, me surpreendendo.
Peguei meu telefone e mostrei a ela meu pano de fundo: uma foto tirada pouco antes da morte de Gaia, mas ela não estava nela. Daniele estava segurando sua irmã de quatro meses nos braços.
Eu assisti o rosto de Giulia. Sua expressão se suavizou e ela sorriu, um sorriso honesto e desprotegido. Não como os sorrisos que eu estava acostumado das mulheres em nossos círculos. Isso também mostrou como ela era jovem. Ainda não estava cansada e cautelosa.
— Eles são adoráveis. E como ele a está segurando. — Ela sorriu para mim e ficou séria. — Sinto muito pela sua perda. Eu...
— Eu não quero falar sobre minha falecida esposa, — eu cortei.
Ela assentiu rapidamente e mordeu o lábio. Porra, por que ela tinha que parecer fofa e inocente. Havia tantas adolescentes que engessavam o rosto com maquiagem suficiente para adicionar dez anos à sua verdadeira idade, não Giulia. Ela parecia ter dezessete anos e milagrosamente não pareceria mais velha em quatro meses quando completasse dezoito anos. Eu teria que pedir à mãe dela para colocar muita maquiagem em seu rosto para o dia do casamento.
Ela colocou o cabelo atrás da orelha, revelando um brinco de girassol.
— Você sempre se veste assim? — Fiz um gesto para o traje dela.
Ela olhou para seu corpo com uma pequena carranca. — Eu gosto de vestidos. — O rubor em suas bochechas escureceu quando ela olhou para mim.
— Eu também gosto de vestidos, — eu disse. — Vestidos elegantes, adequados para uma mulher. Espero que você se vista mais elegante no futuro. Você tem que transmitir uma certa imagem para o exterior. Se você me der suas medidas, mandarei alguém comprar um novo guarda-roupa para você.
Ela me encarou.
— Entendido? — Perguntei quando ela permaneceu em silêncio.
Ela piscou e assentiu.
— Bom, — eu disse. — Não haverá uma celebração oficial de noivado. Não tenho tempo para isso e não quero que sejamos vistos juntos em público antes que você atinja a maioridade.
— Vou conhecer seus filhos antes de nos casarmos? Ou ver sua mansão?
— Não. Não nos veremos até novembro, e você conhecerá Daniele e Simona no dia seguinte ao nosso casamento.
— Você não acha que seria bom se nos conhecêssemos antes de nos casarmos?
— Não vejo como isso importa, — disse bruscamente.
Ela desviou o olhar. — Há mais alguma coisa que você espera de mim, exceto por uma mudança no guarda-roupa?
Pensei em lhe pedir para tomar anticoncepcional porque não queria mais filhos, mas não conseguia falar sobre isso com uma garota da idade dela, o que era ridículo, considerando que teria que dormir com ela na noite de núpcias.
Eu levantei. — Não. Agora você provavelmente deve sair antes que seus pais percebam que estávamos sozinhos.
Ela levantou me olhando por um momento, colocando os cotovelos nas palmas das mãos. Ela se virou e saiu sem outra palavra.
Depois que ela saiu, Faro entrou novamente.
Ele ergueu as sobrancelhas. — O que você disse? A garota parecia que ia chorar.
Minhas sobrancelhas se uniram. — Nada.
— Eu duvido, mas se você diz.