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05

Eu ainda estava tremendo quando entrei no meu quarto depois do meu primeiro encontro com Cassio. Ele tinha sido intenso e frio, para não mencionar dominante. Mandando que eu troque meu guardaroupa? Como ele ousa?

— Aí está você! Onde você esteve? — A mãe perguntou, conduzindo-me até o meu closet. — Precisamos prepará-la. Pelo amor de Deus, Giulia, o que você está vestindo?

Ela puxou minhas roupas até eu começar a me despir, ainda em transe. Mamãe me deu um olhar curioso. — Que há com você?

— Nada, — eu disse calmamente.

Mamãe virou-se para a seleção de vestidos que ela deve ter se espalhado no banco antes de eu chegar. — Não acredito que você não possui um único vestido decente.

Eu sempre evitei ir a eventos oficiais porque odiava a atitude insincera de bajulações e traições daqueles que os frequentavam. — O que há de errado com os vestidos que tenho?

Mamãe escolheu os três vestidos menos peculiares da minha coleção. Todos eles eram no meu estilo Audrey Hepburn retrô favorito. Mamãe pegou um vestido azul-celeste com pontos brancos. — Você não tem nada de uma cor só?

— Não, — eu disse. Ela nunca prestou atenção nas minhas roupas?

Eu pedi ao meu pai pela liberdade de vestir o que gostava.

Enquanto ele era conservador, tinha problemas em me dizer não.

Mamãe não teve escolha senão se curvar ao seu comando.

Mamãe suspirou e me entregou o vestido azul. — Isso combina com seus olhos. Vamos torcer para que Cassio não se deixe levar pelo estilo ridículo.

Coloquei o vestido sem dizer uma palavra, lembrando as palavras de Cassio sobre minhas roupas e minha franja.

— Coloque maquiagem, Giulia. Você precisa parecer mais velha.

Eu lhe lancei uma expressão exasperada, mas ela já estava saindo. — E use saltos!

Respirando fundo, pisquei para impedir que as lágrimas caíssem. Eu tive sorte até agora. Eu preferia fechar os olhos para as realidades da vida da máfia, mas sabia o que acontecia a portas fechadas. Nosso mundo era cruel. Papai tinha sido bom comigo, mas eu tinha visto quantos dos meus primos haviam sido abusados por seus pais, como meus tios tratavam suas esposas.

Meu último noivo tinha quase a minha idade, um garoto quieto, quase tímido, que meu pai havia escolhido para me proteger. Eu poderia ter mantido minha posição contra ele em um casamento. Essa seria uma tarefa difícil com Cassio. Não gostava de ceder a emoções negativas, mas meu medo era uma dor aguda no peito.

Pegando meus sapatos de salto azuis, fui até para a minha penteadeira. Meus olhos estavam vidrados quando verifiquei meu reflexo. Coloquei mais maquiagem do que o normal, mas ainda muito menos do que mamãe e Cássio provavelmente esperavam.

Enquanto descia para as apresentações oficiais, consegui me acalmar. Meus olhos ainda pareciam arder por quase chorar, mas meu sorriso não vacilou quando desci as escadas em direção a papai, Cássio e seu companheiro Faro.

Papai pegou minha mão, apertando-a enquanto me guiava em direção ao meu futuro marido. A expressão de Cássio era uma obraprima de polidez controlada enquanto ele me observava. Seus olhos eram de um azul escuro, como a profundidade do oceano, e davam a impressão de que podia engolir você tão facilmente quanto o mar infinito. Desaprovação brilhou em seu rosto quando ele notou meu vestido.

— Cassio, conheça minha filha, Giulia. — Um toque de aviso ecoou na voz de papai, que ricocheteou no comportamento estoico de Cássio.

— É um prazer conhecê-la, Giulia. — Sua boca se abriu em um sorriso quase inexistente quando ele pegou minha mão e a beijou. Eu tremi.

Olhos azuis escuros brilharam nos meus e endireitei minha coluna. — O prazer é todo meu, s-Cassio.

Papai olhou entre Cassio e eu, preocupado. Talvez ele finalmente tenha percebido que tinha me jogado a um lobo. Papai tentou intimidar meu futuro marido com um olhar sombrio, mas uma ovelha não se tornava um predador usando pele de lobo, e papai nunca fora mais que presa entre os monstros sedentos de sangue em nossos círculos.

Cássio se endireitou, ignorando o pai, e fez um gesto em direção ao companheiro. — Esse é o meu braço direito e Consigliere, Faro.

Estendi minha mão, mas Faro não a pegou e apenas educadamente inclinou a cabeça. Baixando meu braço, me aproximei de papai, que examinou meu rosto. Ele parecia dividido, e senti uma satisfação doentia por seu conflito óbvio.

— Vou mandar um novo guarda-roupa para Giulia. Por favor, diga à sua esposa para tirar as medidas da sua filha — disse Cassio. — Eu preciso de uma mulher ao meu lado, não de uma menina.

Isso foi demais para o papai. — Talvez isso tenha sido um erro, e eu deva cancelar nosso acordo.

Cassio se moveu na frente do meu pai, olhando para ele de um jeito que revirou meu estômago. — Apertamos as mãos sobre o noivado, Felix. Nós resolvemos o assunto com Luca. Tudo foi acordado. Dado que decidimos contra um noivado separado, isso faz de Giulia minha noiva, e estou lhe dizendo agora que ninguém, muito menos você, impedirá esse casamento.

Talvez Cassio não me quisesse, mas certamente não permitiria que ninguém me afastasse dele.

Prendi a respiração. Este era o lar de papai, e ele governava esta cidade. Ele só se curvava para Luca, certamente não para outro Underboss.

Pelo menos, era assim que deveria ter sido.

No entanto, papai pigarreou e baixou os olhos. — Não tenho intenção de cancelar nosso acordo. Eu estava apenas fazendo um ponto.

Que ponto?

A expressão de Cassio também questionava isso. Mamãe entrou nesse momento, completamente alheia ao que estava acontecendo. — O jantar está pronto!

O sorriso dela sumiu quando nos viu.

Cassio estendeu o braço para eu pegar. Olhei para papai, mas ele evitou meus olhos. A mensagem era clara: a partir de hoje, Cassio lideraria o caminho.

Coloquei minha mão no braço forte do meu noivo. Se papai não pudesse mais me proteger, isso significava que eu teria que me proteger. Cassio me levou para a sala de jantar, seguindo mamãe, que estava falando sobre possíveis esquemas de cores para o nosso casamento. Cassio provavelmente não se importou nem um pouco. Como homem, ele nem precisaria fingir, ao contrário de mim, a feliz futura noiva.

Quando chegamos à mesa de jantar, ele puxou a cadeira para mim.

— Obrigada. — Eu afundei, alisando meu vestido.

Cássio sentou na minha frente. Seus olhos se demoraram na minha franja antes de passarem para os meus brincos de flores, provavelmente decidindo que novo corte de cabelo ordenaria e quais joias compraria.

Queria me transformar na esposa que ele queria, me moldar como barro. Talvez ele achasse que a minha idade me fazia uma marionete que se curvaria ao seu mestre ao menor puxão de suas cordas.

Eu encontrei seu olhar. Aprendi a arte sutil de conseguir as coisas com um sorriso e bondade, a única maneira de uma mulher conseguir o que queria em nosso mundo. Funcionaria com Cassio? Papai sempre derretia quando eu batia meus cílios, mas tinha a sensação de que Cassio não seria facilmente influenciado.

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