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Capítulo 6

Aiden Scott Bourbon

Os dias passaram-se muito rápido. Recebi algumas cartas confirmando a presença de algumas moças de Valkandria e isso me deixou um pouco nervoso.

Eu não sabia exatamente o porquê, mas comecei a ficar nervoso. Acho que a vontade de não casar tornou-se uma realidade agressiva. Mas eu não podia me dar o luxo de contrariar meu pai. Ele merece ver seus objetivos se concretizando.

A carta de Brianna foi a única que eu li. As outras deixei com a minha mãe. Ela se divertia lendo as cartas das moças voluptuosas do nosso país.

Brianna não foi carinhosa, apenas confirmou a presença e disse estar curiosa para saber o que os anos fizeram comigo. Espero que ela goste da bondade dos anos para comigo.

A rainha se encarregou de cada detalhe desse baile. Eu apenas chamei alguns amigos e conhecidos para estarem no evento. Afinal, eu escolherei publicamente a moça que me agradar e ficarei noivo dela. Precisarei de uns amigos para beber comigo depois.

Meu pai está estável. Tivemos uma longa conversa sobre ele querer abandonar o que já vem fazendo julgando ser em vão. Ele prometeu cooperar.

Fico extremamente preocupado com o desânimo dele. Isso me soa tão ruim. Embora ele esteja cansado de tantos banhos de sol ou águas de coco, desistir é entregar-se à doença. Ele não é um homem que desiste facilmente. Só em mencionar desistência ele abria um sermão de horas.

Quanto mais se aproximava o dia do baile, minha insônia piorava. Os chás já não surtiam efeito. E eu não iria cometer o erro de frequentar um prostíbulo perto de noivar. O jeito era caminhar durante a noite.

Eu gosto muito da noite. Ela lembra algo muito importante. Ela me remete o equilíbrio. O que seria dos dias bons, que eu associo como o dia, sem os dias ruins, que são como a noite?

Sem as tempestades, as adversidades, os percalços, não saberíamos dar o devido valor às conquistas, as vitórias que alcançamos.

Caminhando tranquilamente observando que a noite está bem escura, vejo uma silhueta passando em direção ao estábulo. Eu gosto de caminhar por toda a região do nosso castelo, mas demoro um tempo a mais com os cavalos. Montaria é uma das minhas paixões.

Resolvo seguir a pessoa que vi e percebo que ela entrou no estábulo. A capa que está por cima e a pouca luz não me faz discernir se é homem ou mulher.

À passos cautelosos, me aproximo e vejo que esse ser está alisando o meu cavalo. Logo o meu cavalo, o qual eu não permito ninguém se aproximar a não ser eu e o cuidador dele.

-- Quem é você e o que faz aqui?

Assim que ouve a minha voz, vira-se levemente e eu acabo me assustando. É uma mulher com uma máscara. Ela abaixa o capuz e depois me reverencia. Percebo que treme. Raio relincha alto assustando-a.

-- Eu sou Ivy, Vossa Alteza, a serviçal temporária da cozinha. -- Sua voz trêmula dá a entender que irei mandar matá-la só por estar aqui. -- Perdoe-me por estar aqui.

-- Talvez não saiba, senhorita, mas eu não permito que outros além de mim e do cuidador entre em contato com meu cavalo. -- Caminho em direção ao cavalo e ela afasta-se. -- Como é temporária da cozinha há pouco tempo não deve saber disso. Perdoarei dessa vez.

-- Obrigada, Vossa Alteza.

-- Espera aí. -- Digo assim que percebo que ela iria embora. -- Por que usa essa máscara? Como posso saber se é você mesmo a serviçal temporária se está com isso no rosto?

-- Eu... Eu estou fugindo do meu pai, Alteza. E a senhora Lia teve a ideia de me dar uma máscara enquanto não saio de Valkandria. -- Assinto enquanto aliso os pêlos de Raio. -- Ele queria me vender. É um monstro. Estou trabalhando para ter dinheiro e ir embora. É isso.

Que sorte infeliz. Um pai querer vender a própria filha? Coitada dessa moça.

-- Pode voltar para seus aposentos. Porém, lhe deixo proibida de ter contato com meu cavalo. Apenas com ele.

Ela assente, reverencia e vai embora apressada com sua lamparina nas mãos. Acabo sorrindo quando vejo que ela tropeça e quase cai. Que desengonçada!

Olho para Raio, que está alheio a tudo. Muito me admira ele não ter estranhado ela. Será que ela veio aqui outras vezes? Preciso me manter atento.

Não é bom que o cavalo de um futuro rei seja dócil com outras pessoas além dele. Isso facilmente o faz se tornar inútil para mim. Um cavalo que é montado por qualquer um não é um cavalo bom para um nobre. O cavalo precisa ser leal apenas a um dono.

Volto para meu quarto, tomo um banho e deito. Preciso urgentemente de um chá mais forte ou de caminhadas mais longas ou no dia do baile eu irei parecer que briguei e tomei dois socos.

Assim que amanheceu, resolvi ir até a ala da cozinha para confirmar se de fato aquela moça é a serviçal temporária mesmo. Assim que apareço, Lia vem até mim.

-- Deseja algo, Alteza?

-- Quero ver a sua serviçal temporária. Agora.

Percebo que todos os funcionários ficaram em silêncio enquanto cumpriam suas obrigações. Lia assente e sai em rumo a algum lugar. Enquanto aguardo, percebo que essa cozinha precisa de reformas. Uma nova pintura e utensílios novos já adiantará.

Ouço o ruído de tamancos se aproximando e viro-me para ver quem eram. Lá estava ela ao lado de Lia.

-- Aqui está ela, Alteza. Se for algo que ela fez eu mesma a...

-- Não, Lia. Não se importe com isso. -- Observo que a garota não me olha nos olhos. Ela deve estar com medo ou envergonhada. -- Apenas gostaria de saber se era real o que soube. É um tanto estranho ouvir por aí que temos uma funcionária mascarada.

-- Ah, sim. Irei explicar-lhe o motivo, Alteza.

-- Não precisa. Apenas me informe quando coisas anormais assim estiverem acontecendo. Não quero ser surpreendido com burburinhos estranhos.

Saio daquele lugar o mais rápido que posso. Há quem goste, mas eu não consigo gostar de estar na cozinha. São muitos aromas impregnados em um só lugar. Me deixa um tanto enjoado. Cebolas, alhos, caldos, frutas, frangos, temperos...

Erick me chama de fresco quando digo isso, mas é a mais pura verdade. Sou totalmente inverso a muitos odores. Explicar o quanto isso me causa náuseas já me causa náuseas.

Encontro Linna sentada na nossa sala com um livro nas mãos. Quando me aproximo, ela fecha o livro e se põe de pé.

-- Preciso de um cavalo novo. -- Sua maneira de falar me faz ri. Ela diz de uma forma tão natural que parece que ela está pedindo pão. -- O que me diz, Scott?

-- Convença o rei e eu te ajudo a escolher um. Cadê Liz?

-- Deve estar na aula de costura. Blé! -- Ela coloca a língua pra fora e revira os olhos. -- Mamãe que não me obrigue a fazer mais essas aulas. Já me basta aula de piano, boas maneiras e línguas estrangeiras. Prefiro montaria, armas e história.

-- Você ainda vai contemplar a fúria de Francesca Schumann com essa sua historinha de abandonar as aulas que ela ordena que você frequente.

Ela me xinga e vai embora pisando duro. Linna odeia que alguém expresse opinião contrária a dela. Mas se vê tendo que obedecer nossa mãe sem questionar. Talvez ela tenha o mesmo pensamento de Erick em relação a ser da família real.

Sigo para o meu escritório e fico organizando a papelada para minha futura posse como rei. Preciso deixar essas coisas bem adiantadas. Inclusive, a papelada que reconhecerá oficialmente minha esposa como rainha.

Depois de algumas horas, a porta do ambiente é aberta. Nem preciso erguer o rosto para saber quem é. Sei exatamente quem tem essa mania de entrar nos ambientes sem anunciar-se antes.

-- O que veio fazer aqui, Drake?

-- Amo saber que já me conhece pelo cheiro ou pela forma de andar. Sinto que começas a me amar cada vez mais quando venho aqui. -- Sua risada esquisita me faz sorrir, soltar a pena e erguer o rosto. -- Recebi sua carta. Acabei encerrando minha temporada de caça no norte mais cedo e voltando para aqui. Não vai abraçar seu amigo?

-- Você está fedendo a álcool, Drake. Um belo banho e eu te abraço. -- Aponto para a cadeira sugerindo que assente-se. -- O que acha do baile? Meu pai quer me ver casar o mais depressa que puder. Ele ainda quer me ver sentir o peso, literalmente, da coroa.

Drake Cadman é um velho amigo. Nos conhecemos quando tive aulas de luta com o pai dele. Infelizmente o pai dele morreu em um confronto fora de Valkandria há mais ou menos três anos. Ele agora vive viajando por aí, sem destino certo.

Mais velho que eu um ano, Drake tem a vida que eu amaria ter. O pai o deixou com algumas propriedades e bastante gado. Ele apenas administra as coisas e viaja sempre que pode. Sua mãe fica aos cuidados da filha mais nova.

-- Isso seria inevitável, Mascote. -- Lá vem ele e esse apelido ridículo. -- Você é o primogênito, a coroa é sua. Casar é uma consequência. Você parece não estar muito empolgado. Vamos beber hoje? Sei que seu pai não vai se importar se você se ausentar para distrair-se.

-- Você já não está bêbado?

-- Sim, mas não custa nada ficar ainda mais. -- Ele levanta. -- Vamos! Tem uma bebida que eu trouxe, você vai amar...

Seguimos para a taberna mais famosa da região central de Valkandria. Poucas vezes eu a frequento para não dar o que falar. Prefiro beber sozinho na varanda dos meus aposentos.

Mas sempre que Drake surge ele me arrasta até aqui. A segunda maior paixão de Drake é bebida. A primeira é Liz, minha irmã. Ele sofre por não poder desposá-la. E isso se dá por duas coisas: Liz ainda não tem idade para se casar e se tivesse ela não casaria com ele.

Minha irmã quer um homem romântico, típico dos livros que ela ler. Liz tem aversão a vida que Drake tem. Ela me confidenciou uma vez que o acha bruto e que com certeza não conseguiria o amar. Ela sonha em casar com seu professor de piano.

-- Como Liz está? Digo, de saúde.

-- Liz ainda não tem nenhum pretendente, Drake. -- Dou um gole na bebida vermelha que ele me ofereceu. -- Você ainda não a esqueceu?

-- Complicado. -- Ele gira o copo agitando a bebida dentro do mesmo. -- Falta pouco para ela completar 18 anos. Logo estará comprometida com o professor de piano dela. Sei que assim que vê-la casada a esquecerei.

Ele ergue o copo, como se brindasse com o ar, e depois toma tudo em uma golada. Parece que a rejeição de Liz doeu mais do que a morte do pai dele. Drake é loucamente apaixonado na minha irmã. Isso se deu desde os 16 anos dela.

-- Você escolherá Brianna como sua esposa? -- Questiona atraindo minha atenção. -- Isso é meio óbvio para mim e todo povo de Valkandria.

-- É o que almejo, mas meu pai pediu para que eu conversasse com todas as moças. Não é justo escolher Brianna sem conversar com todas as outras. -- Encaro um quadro velho pendurado na parede mal pintada do lugar. -- Pelo que vi muitas moças estarão no baile. Espero que tudo isso passe logo.

Fiquei por horas conversando e bebendo com Drake. Por sorte, saímos com a carruagem. Se eu estivesse de cavalo não conseguiria chegar facilmente no Castelo. Drake voltou comigo, mas pegou seu cavalo e seguiu para sua propriedade.

É admirável a forma com que ele bebe que nem um camelo e não aparenta estar bêbado. Duas garrafas e eu já não sei se é dia ou noite. Preciso pedir que Drake vá com calma na bebida. Ele já está ficando adormecido para o álcool.

Assim que Drake sai do estábulo com seu cavalo, procuro um local para sentar. Meu corpo está muito pesado e uma ânsia de vômito terrível me deixa sem forças.

Ergo a cabeça quando ouço som de passos em minha direção. Uma figura surge na minha frente, mas eu não consigo discernir quem é. Apenas sussurro um pedido de ajuda. Eu não tenho forças para me levantar. Sinto o vômito subir à garganta e um jato forte sair da minha boca.

-- Espere aí. Vou buscar algo para ajudar.

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