Hotel do Kosta
Meu peito apertou de dor, provavelmente Samira ficou assustada com tudo aquilo. Eu já tinha visitado a Itália com meus pais, mas ela era pequena demais para se lembrar.
Ela conhecia apenas o Marrocos e a Tunísia, aquele era um mundo novo para ela e depois de tudo o que tínhamos acabado de passar não era uma experiencia fácil de se viver.
O homem parou o taxi próximo à estação de trem e me apontou a direção que eu deveria seguir.
Eu não tinha muita escolha então desci e fui seguindo as placas na direção que ele me explicou, o meu pé doía muito. Mas eu continuei mesmo com os olhares tortos que eu recebi durante o percurso.
Eu que sempre andei bem arrumada, estava maltrapilha, cabelos e roupas sujos, provavelmente não estava com a melhor fragrância após horas dentro de um navio pesqueiro. Eu continuei e finalmente vi a placa indicando que o hotel ficava a cinco minutos. Desci com dificuldade uma escada e desci para uma pequena rua e foi neste momento que vi uma mulher empurrando um homem que não a deixava.
—Você vai fazer fiado vagabunda, eu quero trepar com você!
Ela tentava empurrar o homem que a puxava pelos cabelos. Eu olhei para os lados e vi um pedaço de cadeira velha jogada em um amontoado de lixo, segurei com toda a minha forca e bati nas cotas do homem que caiu gritando de dor.
A mulher me olhou e sorriu me puxando pelo braço escada acima.
— Obrigada pela ajuda garota. Não viu que esta rua e um beco? Não tem saída, para onde está indo?
— Eu não vi, eu preciso chegar no hotel San Domenico.
Ela me olhou de cima abaixo, mas não comentou nada sobre minha péssima aparecia. Ela era uma mulher bonita e sorridente.
— Bom, aquela foi meu último cliente e nem queria me pagar, portanto vou te levar próxima ao hotel, não vou chegar até a porta pois não me deixam entrar lá. A propósito meu nome é Viviana e o seu? Você não é daqui, não é?
— Eu me chamo Zafira, eu realmente agradeço a ajuda e realmente não sou da Itália.
Ela sorriu e me fez sinal para acompanhá-la, assim que chegamos na esquina do hotel ela segurou meu braço.
— Obrigada e boa sorte para você no que está procurando.
— Obrigada. — Agradeci e segui para o luxuoso hotel.
Era enorme e parecia ser um cinco estrelas, eu comecei a me sentir envergonhada pela minha aparência, mas eu não tinha como me trocar e muito menos me lavar antes de pedir ajuda de Kosta.
Assim que tentei entrar fui barrada por um segurança.
— Estou aqui para falar com o Senhor Kosta....
— Ele não está aqui e duvido muito que vá recebê-la.
— Mas eu preciso vê-lo.
— Ele não volta hoje, somente amanhã. Por favor, saia.
Eu saí da porta do hotel após ser intimidada por aquele homem. Eu estava voltando para a esquina, eu precisava encontrar um lugar para sentar-me, foi quando vi Viviana.
— Eu estava te esperando, imaginei que não te deixariam entrar vestida assim. Escute você me salvou hoje, eu vou te ajudar vivo aqui perto. Podemos ir à minha casa, você toma um banho, se alimenta, se troca e volta aqui e tenta novamente.
Eu não tinha muitas escolhas para aquela situação toda ajuda era bem-vinda e então aceitei. Descemos algumas escadas e logo estávamos perto de um prédio velho. Eu segui Viviana, rezando para não ser uma situação de risco aquela em que eu estava me colocando.
Assim que abriu o seu apartamento ela entrou e me convidou a entrar. O lugar era pequeno, mas aconchegante apesar de ter moveis velhos era tudo limpo e arrumado.
Ela me entregou produtos de higiene e toalha limpas, me indicando onde era o banheiro.
— Tome banho tranquila, vou preparar algo para você comer e quando sair do banho te darei roupas.
— Obrigada.
Eu tomei um banho aproveitando cada gota de água que estava passando pelo meu corpo. Lavei meus longos cabelos e quando sai me sentia outra.
Tinha um cheiro bom vindo da pequena cozinha e eu segui para lá enrolada na toalha.
— Fiz um macarrão instantâneo, não sou muito boa na cozinha. Aqui separei estas roupas que você pode usar e estas são calcinhas novas, fique à vontade para se trocar.
Ela apontou o quarto. E foi o que fiz, agradeci e fui me vestir, suas roupas ficaram boas em mim, o problema era que eram sensuais demais para o que eu estava acostumada a usar. Mas era o que eu tinha para vestir e era tudo limpo.
Voltei para a cozinha e ela colocou água na minha frente. Bebi quase toda a garrafa só depois notei minha falta de modos.
— Me desculpe...
— Garota você parece ter passado por muito.
— Sim, eu estou preocupada, preciso falar com este homem do hotel e me disseram que ele volta apenas amanhã e eu estou preocupada com a minha irmã, ela deveria ter me esperado no porto, mas ela não estava lá quando cheguei e agora nem consigo falar com este homem.
Escute posso dar uma volta com você em alguns lugares da cidade onde refugiados se aglomeram, talvez ela tenha ido para um destes lugares. Mas antes preciso que se alimente e depois vamos para estes abrigos procurar.
No dia seguinte....
Eu tinha procurado até tarde da noite em vários abrigos de refugiado ninguém tinha visto Samira pela descrição que eu dava, ninguém sabia dela. O meu desespero estava aumentando se ela não estivesse com Kosta eu realmente não saberia o que fazer.
E foi por isto que acordei cedo e segui para a porta do hotel, não era o mesmo segurança e este sorriu para mim, apesar de bloquear a minha entrada.
— Onde pensa que vai?
— Preciso ver o Senhor Kosta...
— Ele ainda não chegou.
— Escute, você viu uma garota de nome Samira por aqui?
Ele negou com a cabeça.
— Peço que se retire daqui o Senhor Kosta, não recebe vocês aqui, já faz tempo...
O que ele queria dizer com isto?
— Eu vim de longe para ver o Senhor Kosta e não vou sair daqui sem falar com ele...
— Pois pode falar, estou bem aqui. — a voz potente atras de mim me fez girar.
E para o meu espanto diante a mim estava Marcello o homem que espancava o policial no bar do hotel em Marrakech.