Capítulo 4
Olho para a garotinha de grandes olhos castanhos, óculos e pele morena clara que sorri docemente.
"Uau", murmuro, comendo meu pão com geléia de frutas.
- E eu, bem, eu sou a... - Leah começa mas é interrompida.
- O dono da barraca – diz Ashley.
- Aquela que não liga para nada – diz Milena.
Eles continuam conversando, trocando farpas e chutes, mas de forma amigável, se isso não existia antes, existe.
Eu me pego olhando ao redor do refeitório.
Você não está caçando ninguém.
Não estou caçando ninguém.
- Você está procurando alguém? - Ashley me pergunta.
- Não, claro que não, não conheço ninguém aqui. - respondo, sem jeito.
- De onde você é? - pergunta Milena.
- Brasil.
- Oh. A história do seu país é muito... complicada – diz Milena, insegura.
- Ah, eu sei bem - respondo. - Há portugueses aqui? Temos um acerto de contas.
Milena ri abertamente.
Só ela entendeu minha tentativa de fazer uma piada que não era realmente minha.
Leah e Ashley se entreolham.
- Lamento te dizer mas aqui tem muitos portugueses - ela diz, ainda rindo, eu acabo rindo também, relaxada.
- A cor do seu cabelo é natural? - Ashley pergunta, olhando para meu cabelo com admiração.
- É se.
- Parece que você está pegando fogo. Ah, e isso é bom. - Ela adiciona. Pressiono meus lábios em um sorriso.
Estou comendo uma fatia de pão com manteiga, hummm, uma manteiga diferente da brasileira, mas nada mal, quando vejo um brilho marrom no canto da minha visão periférica. Olho para o lado e vejo Oliver entrando no refeitório, ele sorri para a senhora que serve o café da manhã e conversa com eles como se fossem amigos muito confortáveis.
- Para qual mesa você acha que ele irá? - Ashley pergunta, olhando para Oliver.
- Não sei, meu palpite é que irá para a Mesa dos Bombardeiros Arrogantes – diz Leah.
- Do que você esta falando? - acabei perguntando.
- Aquele garoto ali, o Ollie, todo dia ele senta em mesas diferentes, ele se dá bem com todo mundo, ele é aquele cara legal, gentil, engraçado e lindo que todo mundo gosta, inclusive os professores. - diz Milena.
- E você também gosta? - pergunto com curiosidade genuína.
- Gostamos dele, mas não assim, às vezes ele senta com a gente, somos meio amigos. - Ashley diz e os dois acenam com a cabeça. - Ele não faz meu tipo, gosto de bad boys.
- E eu sempre gosto dos caras errados e eles quebram minha cara, gays, drogados, casados, mas quem casa aos vinte? - Leah suspira e bate a cabeça na mesa.
Olho para a calma Milena.
- Ah, estou esperando o cara certo, só estou saindo para casar e nunca fiquei com ninguém. - Ele diz sem nenhum pingo de vergonha.
Eu sorrio para ele, mas uma vez com espanto.
- Espere... Bennett não está aqui. Eles o suspenderam porque ele errou muito? - Ashley pergunta e Leah e até Milena começam a dar teorias sobre o paradeiro dele.
Não posso dizer que esse Bennett saiu com a namorada e não voltou, porque seria estranho para mim já saber das coisas e isso denunciaria Oliver.
Observo-os conversando e não posso deixar de me perguntar em que mesa estamos.
Eles sabem tudo sobre a escola, até mesmo o diretor, cujo casamento está em ruínas.
Oh, meu bom.
Somos a mesa dos fofoqueiros, de María Fifi, daquelas que sabem tudo. Eu nunca tinha sido considerado um fofoqueiro antes.
Oh, meu bom.
- Esta é a mesa de fofoca? - pergunto em voz alta e me arrependo instantaneamente.
Mas eles simplesmente respondem:
- Não, fofoca não, nós não espalhamos fofoca, apenas sabemos de tudo - Leah diz e elas riem.
- Olha, isso é português. - Milena aponta para uma linda garota passando por nós. Eu sorrio balançando a cabeça.
Está a levar a sério os negócios portugueses?
Ela acena para nossa mesa e sorri para mim, e eu retribuo o gesto.
Todos terminamos o café da manhã e minhas pernas ficam presas quando tento me levantar, tenho uma vontade repentina de olhar para trás para ver quem exatamente está olhando para mim. E espero com todas as minhas forças que Oliver Laurent não esteja lá.
Dou de ombros e coloco a bandeja no balcão.
Eles me encaram descaradamente durante todo o caminho para fora do refeitório e quando olho para trás depois de sair, Oliver olha para mim como ele espera que eu faça. Ele acena com a mão.
Eu franzo minha testa.
Por que você faz isso com a mão? Passando pelos ombros e braços?
Ahhh
Sua roupa.
Acho que este é o momento perfeito para lhe entregar suas roupas, para que eu possa agir como se só então tivesse começado minha jornada pela França.
Faço-lhe um gesto estranho de polegar para cima.
Tenho que inventar alguma desculpa esfarrapada para poder me separar das meninas e ir para o meu quarto. Pego as roupas e coloco dentro da mochila junto com os cadernos. Os corredores estão vazios e por algum milagre consigo chegar ao quarto de Oliver sem nenhuma surpresa ruim. Bem, até você abrir a porta.
Vejo um menino e uma menina entrando pela janela.
Eles congelam quando me veem.
E eu também.
Então ficamos ali olhando um para o outro, até eu quebrar o feitiço.
- Bem, a aula está prestes a começar. - Digo porque os dois estão uniformizados, a menina de pele escura tem as bochechas vermelhas e o menino apenas encolhe os ombros.
Acho que esse é o Bennett de quem Oliver e as meninas estavam conversando.
Qual é, pensei que os alunos levassem as regras a sério e até agora não vi ninguém comprá-las.
Deixo as roupas em cima da cama e saio sem maiores incidentes.
As aulas acontecem sem mais ondas repentinas de excitação e adrenalina injetadas em meu corpo e, à medida que o dia avança, quase esqueço que não estou em uma carteira no canto de uma sala de aula no Brasil, é claro, quase. Os uniformes, o sotaque dos professores ao pronunciar meu nome, a escola ridiculamente linda com seu modelo quase rústico e uma espécie de cópia paralela de Hogwarts.
Estou extremamente grato por saber que os professores ensinam em inglês, pois há muitos estudantes de outros países que não falam francês fluentemente, mas precisam saber inglês.
Na verdade falo francês fluentemente, sempre fui o tipo de pessoa que gosta de aprender coisas novas (não muito radical!) mas tipo, outro idioma, algum instrumento, esportes, enfim, não me dei muito bem com Esportes.
Mudamos de sala de aula e de professor a cada turma, e devo ressaltar que fazemos uma pausa para o almoço e depois voltamos para a sala de aula.
Acabei ficando na aula da Ashley e da Milena. Vi Oliver em alguns intervalos, descobri que em algumas aulas estamos na mesma turma, era estranho, teve momentos que meus olhos vagaram para ele e eu nem percebi, quase entrei em pânico quando ele me pegou. olhando para ele e tive que fazer alguns sinais com as mãos para os malucos tentando fazê-lo entender que eu devolvi as roupas dele.
Agora, depois de me desconectar do meu pai e dos meus amigos, estou tomando sopa de cebola, que é sopa, no meu quarto e Leah está comigo dormindo. Olho pela janela porque penso que estou em Paris e estou no meu quarto tomando sopa e lendo um livro de aventuras escocês com meias grossas de lã e um chapéu de crochê que um vizinho me deu.
Ok, isso é um pouco deprimente.
Amanhã é sábado.
O que significa que não haverá aulas, apenas para quem gosta de teatro, dança e esse tipo de coisa.
Vou aproveitar amanhã para passear por Paris.
Sim, é isso que vou fazer.
- São...
Verso e poesia
Outono e vento
Praia e carioca
São...
Tiro meu celular da mesa e vejo seu nome brilhando na tela:
Gustavo♡
Que?
Como é que eu nunca tirei aquele coraçãozinho brega do nome dele se nós terminamos anos atrás? Bem, alguns meses. Mas mesmo assim. Como assim?
Eu coro mesmo sabendo que ninguém pode ver. Não acredito que ainda tenho o nome do meu ex salvo com um coraçãozinho no final.
Ah, Sharon.
E por que você está me ligando???
Deixei bem claro que não havia chance de retornarmos.
Eu estava indo muito bem sem pensar nele, só pensei nele uma vez e foi quando vi o moletom do Oliver e me lembrei dele. O que é ainda mais extravagante.
Parece música sertaneja brasileira.
Respiro fundo e pressiono o botão verde na tela.
- Ei! - Não, Sharon, muita emoção.
- Ah, olá, como você está?
- Bem, muito bem, é uma escola adorável.
- Isso é bom. Como vai?
- Estou bem, obrigado, e você?
- Bem também.
- Isso é bom - murmuro.
Nós realmente namoramos? Não me lembro de estarmos tão secos.
- Como está PARIS?
- Ainda não vi bem, mas Gustavo! Dê uma vista de olhos à Torre Eiffel e brilhe! É simplesmente lindo e escolar! É tão... adorável. O bom também é a variedade de pessoas de lugares diferentes e são tão diferentes, tem uma menina que tem um metro e oitenta de altura e sua melhor amiga tem um metro e meio de altura. A comida é bem diferente e saborosa, Gusta. Er, você está ouvindo?
- Sim Sim.
Espero que ele diga mais alguma coisa, mas nada sai.
Ah ok.
Ficamos em silêncio por dois minutos inteiros, mas parece uma eternidade e é... estranho porque tenho flashbacks de nossos momentos juntos e me pergunto como nosso relacionamento doce e estável se transformou em algo tão seco.
Gustavo foi meu primeiro namorado e o primeiro menino que beijei, eu tinha anos quando começamos, era ingênua e sonhadora e pensei que era isso, íamos namorar, casar, ter gêmeos e viver felizes para sempre. em uma casa aconchegante.
Juro que pensei isso.
Agora aqui estamos, sem saber o que dizer um ao outro.
Eu limpo minha garganta.
- Bem, hoje foi um dia cansativo...
- Ah, sim, sim, claro, desculpe. Posso te ligar outro dia? Preciso pensar um pouco em nós, ok?
- DE ACORDO.
O problema é que não há mais o que pensar sobre nós, passamos um tempo juntos e foi bom, mas sinceramente não vejo futuro para nós. Pelo menos não assim.
Mas eu não digo nada disso, e deveria.
Desligo a ligação.
Isso foi muito estranho.
Agora aqui estou eu, colocando Olivia Rodrigo enquanto pego meus fones de ouvido e seguro na ponta do cobertor porque vou soltar algumas lágrimas.