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Capítulo 3

- Você pensa rápido. – Uma voz masculina soa na escuridão da sala.

Preciso soltar um grito.

A única razão pela qual não estou gritando é porque ainda posso ouvir a voz da diretora lá fora enquanto ela grita para os alunos se apressarem, o que significa que ela ainda está por perto, o que significa arriscar que ela descubra que estou aqui e que sou uma garota . .

- Quem és tu? E onde está? - pergunto e minha voz sai trêmula.

Muita emoção pela manhã.

Não sou do tipo que realmente gosta de emoções e coisas arriscadas.

Eu só queria vestir meu uniforme e tomar meu café em paz.

É pedir demais um pouco de paz e sossego e um último ano normal do ensino médio?

- Eu deveria perguntar já que você está no meu quarto e ainda com minhas roupas – diz a voz.

Ele é um menino, isso está claro.

Mas está tão escuro que não sei se quem quer que seja pode ser um psicopata, mas isso não muda o fato de que estou usando as roupas deles. Procuro algo para me proteger.

Só tenho que ficar aqui até não ouvir mais a voz do diretor, que ainda ouço. No caso.

Em cima de uma mesinha que posso ver graças a um raio de luz, pego um objeto duro e reto, acho que é uma régua, e seguro-o como se fosse uma faca.

- Bem, roupas são apenas roupas. - digo com a voz trêmula.

Há um silêncio quase constrangedor, longo o suficiente para que eu comece a imaginar quem é a voz com quem estou falando.

Um menino, eu sei disso, acho que ele é baixo e tem cabelo liso, talvez tenha sardas como eu, mas pela voz parece ser, sei lá, dá a impressão de alguém... Forte? Brincalhão?

Ah, não adianta imaginar isso.

Você pode gritar com o diretor agora mesmo e a aparência dele não mudará nem um pouco quando eles me arrastarem até a sala do diretor e enviarem a ele um bilhete informando ao meu pai que fui expulso e depois me mandarem de volta por onde vim.

- Estou armado, só para você saber. - Levanto minha lâmina de plástico, que é conhecida como régua.

- Eu poderia traçar uma linha bem reta com esse objeto de sua defesa - diz a voz em tom brincalhão.

Estou prestes a dizer algo quando a voz do diretor fica mais audível. Permaneço em silêncio e ouço seu calcanhar quicando no chão e indo embora. Quando não ouço mais nada, me permito tirar o capuz do moletom da voz desconhecida.

"Obrigado pelo silêncio", murmuro na escuridão.

- Você é novo aqui? Acho que nunca te vi antes. - Fala a voz que agora acho que vem da cama.

Acho que quem quer que tenha sido está na cama.

- Pode me ver?

- Um pouco, ficaria melhor com luz natural.

- Mas... - Não consigo completar a frase porque parte da cortina se abre, me iluminando. Eu pisco com o brilho.

- Sim, você tem sardas – diz a voz, com uma leveza brincalhona.

Vejo brevemente o menino se movendo na cama. Acho que ele estava deitado quando entrei de repente.

- Por onde você ia entrar pela primeira porta que viu? - Posso sentir o tom dele ficando genuinamente curioso.

- Eu estava procurando o tabuleiro. Cheguei aqui ontem e não sabia onde conseguir meu uniforme para aula – digo deixando a regra de uma vez por todas.

Preciso tirar essa roupa, tem cheiro de perfume de homem... Espera, tem cheiro de campo aberto e de algo forte mas macio...

- O diretor entrega o uniforme na sala logo pela manhã.

- Você já passou pelo meu quarto?

-Ela deve estar indo para lá agora.

- Ah não. - Olho minhas roupas super folgadas e masculinas. Olho para a parte da cama onde está a criança e onde é a única parte onde a luz do sol que entra pela janela não chega. É quando vejo a outra cama no canto e lembro do diretor chamado Bennett. - Oh! Tem dois meninos aí?!

- Não, meu colega de quarto saiu ontem à noite com a namorada e ainda não voltou, provavelmente retornará na hora de entrar no quarto.

- Hum... Então seu nome é Ollie? - O diretor chamou um Ollie e um Bennett, se o Bennett não estiver, só o Ollie pode estar.

Fico surpreso quando o dono da voz com quem eu falava emerge da escuridão.

- Eu sou Oliver Laurent. As pessoas me chamam de Oliie, mas prefiro Oliver.

Não.

Não me tornei tão bom quanto o dono da voz poderia ser. Nada curto. Ou cabelos lisos. Ou sardas. Ele é alto e magro, mas não magro, tem cabelos castanhos lisos e ondulados que me lembram uma mistura perfeita de castanho acobreado e castanho dourado e é enrugado na frente, fazendo com que pareça um topete bagunçado, e em vez de sardas ele tem cabelos castanhos pele, macia e atraente, e olhos, oh Deus, olhos castanhos muito claros, olhos como amarelo queimado... Âmbar, a cor dos olhos dela.

"Oh, você não parece um psicopata", murmuro, distraidamente. Ele sorri amplamente e rapidamente se abaixa para pegar seus tênis.

- Obrigado, é o elogio mais maravilhoso que já recebi - ele brinca.

Desenhe a outra parte da cortina e ilumine todo o ambiente. Posso ver tudo agora.

"Bem, eu tenho que ir", eu digo, virando-me.

- Você vai tirar minha roupa? - Ele percebe no momento em que fecha a boca como a frase saiu errada. - Não, espere... Bem, você entende.

- Ah, claro – tento esconder a cor escarlate que mancha minhas bochechas, posso sentir – posso tirar…

- Não, seria estranho... uma menina saindo do meu quarto de bonecas a essa hora, você sabe, o...

- Oh. Ahhh, você tem namorada, certo?

- Não, não é isso... não exatamente... Eu e...

- Ok, ok, nada aconteceu. Vou com suas roupas e depois posso deixá-las aqui no seu quarto, vazias para ninguém ver. Ou você pode ir buscar o meu, é o último no corredor.

- Tudo bem. - Ele encolhe os ombros com um leve sorriso. Desse pouco tempo com ele percebo o quanto ele está feliz e sorridente, e como saiu dessa situação. constrangedor, mais leve.

Eu estava conversando com esse garoto o tempo todo? Você me viu de boneca? Ele provavelmente riu de mim no escuro.

- OK. Vamos manter este evento confidencial. - Coloquei meu capuz de volta.

- Sim por favor. Ah, pode pegar o governante para se defender – brinca.

- Haha – eu brinco, mas ainda pego a régua e saio da sala.

A estrada está vazia, mas ainda enfio a cabeça sob o capô e tento ajeitar minhas roupas grandes demais, estou de chinelos, o que dificulta um pouco me disfarçar.

- Tem um menino novo na escola? - ouço uma voz feminina ao longe.

Ah, não, não.

- Onde? - pergunta outra voz.

- Ali... espera, tênis?

Ando mais rápido, saindo da linha de visão das vozes femininas e correndo levemente em direção ao meu quarto. Fecho a porta atrás de mim e suspiro. Minha colega de quarto abre a boca e acho que ela vai gritar, mas antes de impedi-la, tiro o capuz, revelando meu cabelo e rosto ruivos. Ela apenas franze a testa.

- Quem és tu? - Ele pergunta me olhando da cabeça aos pés.

- Seu colega de quarto, falei com você hoje.

Ela reflete.

- Bem, não me lembro de você, mas por que você está vestido assim? - ela me inspeciona.

Aquele cara, Ollie ou Oliver, não queria que eu fosse embora para não causar uma má impressão na namorada dele. Ele obviamente não quer que eu espalhe o que aconteceu naquela sala.

-E ai, como vai? As meninas não podem usar roupas masculinas?

- Não é isso...

- Bom, o diretor deixou meu uniforme aqui? - Eu a interrompo para não precisar explicar nada.

- Aí está você, garota estranha, qual é o seu nome? - Vejo meu uniforme na minha cama, exatamente igual ao dela.

-Sharon.

-Sharon...?

- Não, não é a Sharon, é a Sharon - corrijo. -Sharon Albuquerque.

Ela faz uma careta.

- Não vou nem tentar pronunciar.

Eu reprimo uma risada.

Ele se levanta, toma um comprimido e bebe com um gole de água.

- Ugh, ressaca louca. A propósito, meu nome é Lia. Leia Martinho. Sem sotaques e sobrenome complicado.

- É daqui? França? - Perguntado.

- Sim, sou parisiense.

Espero que ele faça a pergunta, mas ele não faz.

- Sou brasileiro – digo de uma só vez.

Ela balança a cabeça e assente.

- Então saiu do sorteio, certo?

- Sim Sim.

Então ele sai do quarto e eu me visto, odiando a sensação do tecido pesado do uniforme contra minha pele.

Quando abro a porta, já tenho os livros sobre a mesa. Leah está me esperando do outro lado do corredor.

- Hora do café da manhã. Ah, e então a porra da aula. Perfeito. - Ele murmura ironicamente.

Ok, estou pronto para isso.

A cafetaria é enorme, o que não é surpreendente. Todos os alunos uniformizados preenchem o local.

As mesas estão espalhadas e parece que cada grupo tem a sua mesa, uma que só tem garotas lindas, outra que só tem caras musculosos, outra que só tem garotas de óculos e livros nas mãos, outras que têm caras rodeados de garotas. e assim por diante.

Sento-me com Leah e seu pequeno grupo e posso dizer que eles são uma mistura dos outros grupos.

- Meninas, esta é Sharon, nova aluna. Sharon, estas são as meninas. - Apresenta rapidamente. Eles me cumprimentam vagamente enquanto me sento.

- Essas meninas são ridículas. - Diz uma linda garota sentada à mesa. - Pequeno grupo de garotas bonitas. Que nojo.

- Você só diz isso porque te expulsaram de lá. –Responde outra voz feminina, uma garota de óculos e pele escura.

"Ei, cale a boca", a garota bonita sibila.

- Chega dessa conversa, certo? Acabou, você acabou de pegar um dos namorados deles e eles te expulsaram, não é grande coisa - Leah diz sarcasticamente.

Ei.

- Por que você sente falta dele? Você os odiava – diz a garota de óculos.

- Eu os odeio, mas eles sempre têm caras atraentes. O melhor até agora foi o roqueiro – diz a linda garotinha rindo.

Mordo meu croissant pela primeira vez.

MMM...

Mila e Breno adorariam isso.

Minha bandeja de café da manhã é incrivelmente colorida e cheia de coisas deliciosas e é diferente de tudo que eu já vi antes.

"Oh, cale a boca também", responde Leah. - Sharon, esta é Ashley, uma gostosa americana. - Aponta para a menina bonita, que lhe dá um tapa. - Vaca. Esta é Milena, a Wikipédia italiana ambulante. Ela também veio para o sorteio.

- Por que Wikipédia? - Falo pela primeira vez lá.

- Ele tem memória fotográfica, então tudo que ele vê fica gravado automaticamente na cabeça dele, ele consegue contar a história completa, detalhadamente, de cada país da Europa, agora fica gravada na mente dele na América Latina. - Ele conta para Léa.

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