Capítulo 4
|MAYA|
Por que será que toda vez que as pessoas compram ou alugam um imóvel as lâmpadas do local têm que ser umas porcarias? Sabe aquelas lâmpadas bem vagabundas que deixam a iluminação uma droga de tão ruim que são, mas que você só percebe de noite quando precisa das benditas, porém não se dera conta desse pequeno, mas importante detalhe porque visitou o lugar de dia com a claridade do sol contribuindo?
Pois bem, essa é a situação em que me encontro neste exato momento e me deixa um tanto irritada.
Não consigo sequer andar pela minha sala de estar sem tropeçar uma ou duas vezes nas caixas de papelão contendo meus pertences que estão espalhadas pelo caminho, devido a penumbra em que o ambiente se encontra. Provavelmente acabarei quebrando algo importante dentro de uma delas ou até mesmo algum dedo do pé até o final da noite se não resolver esse problema o mais breve possível.
Contudo, para piorar a situação, eu ao menos tenho uma escada ou bancos altos o suficientes para trocar o raio das lâmpadas que previnidamente comprei há alguns dias atrás para manter de reserva em caso de necessidade.
E não é que eu estava certa? Mas do que adianta ter lâmpadas se o primordial para troca-las eu não tinha?
Eu realmente preciso de uma escada urgentemente! Resmungo acariciando o local dorido, na direção das costelas após cair pela segunda vez sobre a mesma maldita caixa e com isso sendo golpeada na queda.
-Merda... -me levanto irritada. -Aonde eu vou arranjar uma escada em plena as onze horas de uma noite de domingo, pelo amor de Deus? -suspiro cansada pelo dia puxado que tive, e é quando finalmente tenho um estalo na consciência.
Lorenzo! Isso... Será que meu simpático e único vizinho teria uma escada para me emprestar?
-Dane-se a hora, Lorenzo é jovem e com certeza está acordado nesse momento, a menos que esteja fora curtindo alguma festinha em algum canto dessa cidade que não dorme. -digo para mim mesma torcendo para que o loiro esteja em casa e possa me ajudar com isso.
Caminho rumo ao apartamento da frente deixando a porta do meu aberta já que não tenho a intenção de demorar e toco a campainha duas vezes. Não recebo nenhuma resposta ou ouço barulhos vindos do outro lado, então insisto mais três a quatro vezes consecutivas.
-Por favor, esteja aí... -peço em uma súplica desanimando-me a cada segundo, todavia minhas esperanças se renovam quando enfim escuto passos se aproximando do lado de dentro e eu me empertigo animada.
Vai com calma, Maya! Você nem sabe se ele tem uma escada, oras! Por enquanto seus problemas ainda não estão resolvidos. Me repreendo internamente.
-Você esqueceu a chave...? -uma voz rouca e totalmente inesperada me surpreende ao abrir a porta dando de cara comigo e se calando de repente.
MEU.DEUS.DO.CÉU
Que visão do paraíso! Penso ao analisar o homem parado a minha frente com a cara amassada de sono. Quanta saúde, o elogio mentalmente ao reparar seu porte firme e definido através da camisa social que se adequa perfeitamente em seu corpo, e que tem quatro botões abertos exibindo um caminho muito tentador de pêlos dourados que infelizmente desaparece devido o restante do tecido que o cobre. Acho que nunca na vida odiei tanto um pedaço de pano como agora.
E veja esses braços... Que isso, meu pai do céu! Parecem dois troncos que poderiam facilmente me prender contra uma dessas paredes do corredor e eu não reclamaria nem um pouco. Na verdade me sentiria muito grata isso sim.
E a altura desse homem? Eu não sou uma mulher baixinha, ao contrário disso, mas adoraria saber como essa imponência toda ficaria ao cobrir a pequena diferença de estatura que temos ao se colocar sobre mim.
Apenas para sanar a curiosidade puramente científica que despertou em mim nesse instante, óbvio...
Mas o que realmente me impactou de cara e que está afetando drasticamente alguma parte essencial do meu cérebro, provavelmente corroendo algum neurônio importante que me faz pensar racionalmente, foi esse par de olhos azuis. Que droga de olhos eram aqueles? Me pergunto se alguém poderia possuir uma tonalidade de azul mais vívida e profunda do essa.
Acredito fielmente que não.
E que raios está acontecendo no meu estômago nesse instante quando essas duas safiras caem sobre mim fitando-me com desentendimento e confusão? Parece que algo está se revirando em minhas entranhas de uma maneira que jamais tinha acontecido antes. O que é isso? Me assusto com a nova sensação recém descoberta, porém me obrigo a deixar de lado e resolver os problemas mais urgentes do momento.
-Dessa vez não. -brinco desconsertada por não saber o que falar depois de tanto tempo em silêncio encarando-o como uma psicopata. -Olha, desculpa incomoda-lo mas eu pensei que um rapaz chamado Lorenzo morava nesse apartamento. Ele me disse que morava aqui, então... -dou de ombros e o homem a minha frente pisca os lindos olhos algumas vezes como se tivesse acordado finalmente prestando a atenção em mim.
-Ah, ele mora sim. Na verdade nós moramos. -ele diz passando uma mão sobre os cabelos deixando-os ainda mais bagunçados de um jeito muito sexy.
-E você é...? -pergunto direto, sem rodeios.
-Que cabeça a minha. -ele sorri levando um pouquinho da minha sanidade com o ato.
Tem como esse cara ficar pelo menos moderadamente feio? Se existe um jeito, por favor faça isso logo, homem!
-Desculpe a distração, é que eu ainda estou meio que dormindo. -ele brinca bem humorado. -Sou Fábio, pai do Lorenzo. E você deve ser Maya, a nova vizinha.
Pelo visto bom humor deve ser um traço genético nessa família. Tal pai... tal filho.
-Nossa, uau... -murmuro chocada sem conseguir me conter.
-O que foi? -Fábio questiona curioso me examinando em busca de uma resposta.
-Nada demais. É só que... você não parece ter idade para ser pai do Lorenzo. No máximo eu diria que é um irmão mais velho. -comento cruzando os braços sobre o peito e agora o encaro descaradamente.