Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

Capítulo 5

|FÁBIO|

-Hum... obrigado, eu acho. -coço a garganta sem jeito. -Isso foi um elogio, certo?

-Claro que sim. -a garota a minha frente ri e balança a cabeça em negação. -Mas não estou aqui para ficar tecendo elogios a estranhos que supostamente acabei de conhecer. Eu preciso de uma escada, você tem uma para me emprestar?

-Escada, hum... -vasculho minha mente tentando me lembrar se tenho tal objeto, mas como acabei de acordar de um cochilo pesado no sofá, o fluxo de pensamentos ainda é lento para que eu possa formular uma resposta coerente. -Acho que tenho sim. Pode entrar, vou pega-la para você.

-Tudo bem. -Maya, a nova vizinha, concorda me seguindo quando abro mais a porta para que entre e desapareço por alguns segundos em busca da escada que pediu.

Encontro a escada no quartinho que serve como dispensa e retorno com a mesma em mãos.

-Posso perguntar por que necessita disso a essa hora da noite? Já está um pouco tarde e amanhã é segunda-feira, se é questão de algum reparo pode contratar alguém pela manhã, não seria mais fácil? -comento enquanto carrego o utensílio em direção ao seu apartamento, mas paro ao perceber que talvez esteja sendo invasivo demais e me metendo aonde não fui chamado. -Olha me desculpe pela invasão, se não quiser responder não tem problema, eu...

-Não, que isso. Relaxa, Fábio. -ela responde com duas mãos em minhas costas empurrando-me para dentro de sua casa. -Veja, é por essa causa. -Maya aponta o dedo indicador para o alto ao parar a minha frente e então eu compreendo.

-Meu Deus, isso está parecendo um mausoléu. -digo reparando na parca claridade que deveria servir de iluminação para o ambiente. -Mas você não deveria trocar as lâmpadas se não pode enxergar direito, Maya. Deixe essa tarefa para amanhã e...

-Você não entende, eu preciso fazer isso hoje senão... -a garota teimosa como é, ignora completamente meus conselhos e sobe na escada que já está aberta em posição para o uso.

Então acontece tudo muito rápido, Maya não vê quando seu pé pisa em falso achando estar no próximo degrau e tudo o que consigo fazer é reagir com o reflexo de pega-la antes que desabe no chão. É muita sorte que eu esteja logo atrás da escada para poder ampara-la ou caso contrário Maya com certeza teria tido uma grave queda que provavelmente acarretaria na fratura de algum membro ou até mesmo do pescoço levando-a a morte. Aperto seu corpo em meus braços de encontro ao meu peito com força, sentindo cada terminação nervosa vibrar dentro de mim devido o baita susto.

-Bela pegada. -ela brinca como se nada demais tivesse acabado de acontecer e eu arregalo os olhos com o coração ainda batendo acelerado.

Fito o rosto despreocupado de Maya e não consigo compreender como essa garota diferente pode não estar abalada com sua quase morte de segundos atrás. Minhas mãos permanecem geladas como dois blocos de gelos enquanto tremem um pouco, e por algum motivo desconhecido não consigo soltar esse corpo leve e pequeno que tenho em minha posse, com medo de que algo pior aconteça em seguida.

-Longe de mim parecer uma pessoa ingrata e estar reclamando, até porque está muito bom aqui, mas se quiser já pode me colocar no chão, Fábio. -Maya diz dando dois tapinhas em meu peito e repousando uma de suas pequeninas mãos sobre a parte descoberta onde há alguns botões abertos.

Estremeço com o toque delicado e uma sensação nada bem-vinda de choque parece atingir meu sistema nervoso fazendo com que eu a solte imediatamente.

-Você deve ser muito doida, garota! -resmungo contrariado e desvio o olhar para qualquer outro ponto da sala de estar repleta de caixas de papelão, tudo para evitar que ela note meu rosto corado.

Você é um homem velho e idiota, Fábio. Não se deixe levar pelo momento, ela é só uma garota... Não olhe demais. Isso não é para o seu bico. Me recrimino mentalmente e respiro fundo antes me voltar para Maya.

-Eu mesmo farei isso para você, assim a gente evita outro susto como esse. -suspiro e caminho até o interruptor para apagar a lâmpada principal deixando apenas as demais acesas para auxiliar na troca.

-Primeira coisa, eu não sou doida. Mas posso ser se você quiser... -ela ri colocando-se no meu caminho quando faço menção de subir na escada. -E segunda, meu nome é Maya. M-A-Y- A. -ela soletra como seu eu fosse uma criança em processo de alfabetização. -E não garota.

-Tudo bem, Maya. -rebato dando ênfase em seu nome. -Agora por favor saia da minha frente e me deixe terminar isso.

-Não me lembro de pedi-lo para fazer qualquer coisa por mim a não ser me emprestar a escada. -ela diz cruzando os braços em uma postura desafiante e eu bufo exasperado.

-Então prefere arriscar sua vida ao invés de me deixar executar uma simples tarefa apenas por orgulho? -indago incrédulo ao que ela revira os olhos com impaciência.

-Não é questão de orgulho, é questão de independência. Já pensou se toda vez que eu precisasse de ajuda tivesse que pedir a você ou alguém? Não dá, amigo.

-E qual é o problema nisso? Todo mundo precisa de ajuda nessa vida. -repondo o óbvio.

-Não eu. Eu não sou todo mundo, querido Fábio. Entenda isso de uma vez por todas. -Maya insiste e enfim consegue fazer com que eu perca o restinho de paciência que tenho.

-Não adianta bater boca com você, então... dá licença. -e dizendo isso, ergo a mão com a intenção de afastá-la do caminho, mas a teimosa dá um passo para trás e eu acabo tocando na altura de suas costelas ao invés de seu braço como pretendia.

-Aiii! -ela geme de dor e esfrega o local com uma careta.

-Não é possível que eu tenha te machucado tanto assim com apenas um toque, Maya. Não seja dramática. -comento com um tom de crítica, entretanto preocupado por talvez realmente tê-la ferido mesmo que sem querer.

-Eu não estou fazendo drama, seu mané. É que eu tinha me machucado antes quando caí numa dessas caixas idiotas e ainda está um pouco dolorido. Veja! -Maya diz irritada ao levantar a barra da camisa um pouco acima da área das costelas exibindo uma região avermelhada quase se tornando roxa.

Olhos para baixo, Fábio! Ignore a pequena faixa do sutiã que está aparecendo sutilmente e concentre-se no principal. As costelas, Fábio! As costelas é que estão machucadas, e não mais acima, seu desavergonhado! Ela é só uma garota, lembre-se... Deve ter ao menos a idade do seu filho. Toma juízo, cara!

Minha mente recrimina na mesma hora e eu logo me desvio do obstáculo chamado Maya, para fazer rapidamente o que tinha me proposto, e em seguida sumir daqui antes que meus pensamentos me levem por caminhos os quais não deveriam.

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.