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Capítulo 2

|MAYA|

Foi ruim. Bem ruim, mas pelo menos não foi tão catastroficamente ruim como eu pensava que seria terminar meu envolvimento com JP.

João Pedro ficou exatamente chateado com a decisão, entretanto felizmente acabou aceitando que era melhor assim e respeitou o fato de que aquele era o ponto final entre nós como "namorados", por mais que eu nunca tenha nomeado nossa relação com esses termos.

Vamos ficar bem um com o outro, a medida que o tempo passar as coisas voltarão ao normal como era antes, afinal de contas ainda somos grandes amigos de longa data e agora, colegas de trabalho no mesmo hospital.

Penso em como minha vida deu uma guinada de trezentos e sessenta graus nesses últimos meses e me sinto satisfeita por todas essas mudanças, principalmente a que estou fazendo literalmente nesse momento. Por mais que esteja nessa tarefa sozinha, estou conseguindo lidar com tudo com maestria. Não é que no fim eu não precisava de ninguém mesmo? Digo para mim mesma ao colocar a última caixa contendo meus pertences pessoais no porta-malas do carro da minha mãe que peguei emprestado para realizar a mudança para o apartamento.

É a última vez que dependerei de algo vindo dos meus pais. Entregarei o veículo o mais rápido possível e assim estarei livre de tudo o que ainda me prende aquela casa... a casa dos meus pais, porque agora eu tenho o meu próprio cantinho. O meu novo lar. Sorrio com a sensação de liberdade e independência enquanto dirijo pelas ruas de Belo Horizonte rumo a minha nova casa.

* * *

-Bem-vinda a vida, baby! -cantarolo quando piso para fora do carro ao descer na garagem do prédio e admiro tudo a minha volta com certo orgulho.

Eu estou no comando da minha nova vida. Sem pais, sem pressão, sem ligações com o escritório da família... só eu mesma, simplesmente Maya!

-Faço das suas as minhas palavras, seja muito bem-vinda. Moradora nova? -um rapaz loiro que eu ainda não tinha percebido diz descendo de uma moto na vaga ao lado, e se aproxima com a mão estendida em minha direção.

-Sim e você é? -respondo educada retribuindo o cumprimento do mesmo e apoio um braço na porta do carro para dar uma rápida checada no espécime a minha frente.

Ele é alto, loiro, tem uns olhos azuis muito bonitos e deve ter aproximadamente minha idade. O conjunto todo é bem bonito, mas não atraente o suficiente para que eu cogite fazer planos de me envolver futuramente.

-Lorenzo, ao seu dispor. Também moro aqui nesse prédio. -ele sorri novamente, mas percebo que é apenas uma mania sua e não que parece estar flertando comigo.

-Meu nome é Maya, Lorenzo. -me apresento também.

-Precisa de ajuda com isso aí? -ele aponta para as caixas de papelão que estão no banco de trás e eu sigo seu olhar no mesmo instante pensando seriamente em recusar a proposta, porém me recordo das que ainda estão no porta-malas e retrocedo.

-Claro, por que não? Se não for te atrapalhar caso esteja ocupado no momento. -aceito a ajuda.

-De modo algum. -Lorenzo se prontifica e logo estamos os dois entrando no elevador com o máximo de objetos que nossas mãos nos permitem carregar. -Em que andar você mora? -ele pergunta quando as portas metálicas se fecham e começamos a subir.

-Oitavo.

-Que sorte a sua então, estava indo justamente para lá agora. -ele diz e vejo que o número oito já tinha sido acionado no painel. -É aonde eu moro. -ele se explica em seguida e eu aceno positivamente com a cabeça.

-Então seremos vizinhos pelo visto. -comento, as portas logo se abrem e saímos no nosso andar.

-Sim, seremos. Ah, como eu sou idiota! -Lorenzo ri como se estivesse se lembrando de algo muito engraçado em sua cabeça. -É claro que seremos vizinhos, é o único apartamento que há além do meu neste andar. -ele aponta para minha porta como se fosse uma constatação óbvia.

Rio ao também perceber o mesmo e como Lorenzo demorara a se dar conta desse simples fato e mesmo assim se divertir com o próprio lapso sem ao menos parecer constrangido por estar na frente de outra pessoa desconhecida.

Se fosse meus pais em meu lugar neste instante o considerariam um rapaz tolo ou idiota, porém como não sou como eles, acho a situação um tanto divertida e me ajunto as risada com meu novo vizinho. Lorenzo parece ser uma boa pessoa, prestativo pois se ofereceu em me ajudar sem que eu ao menos tivesse pedido, e um cara muito alegre, o que me faz gostar ainda mais dele pois adoro pessoas com uma vibe positiva e de bem com a vida.

-Mais umas duas viagens de elevador e acho que terminaremos, japa. -Lorenzo se manifesta quando deixamos as caixas no chão do centro da sala e seguimos rumo ao elevador novamente.

-Eu sou coreana, bobão. -dou um tapa em sua barriga e ele gargalha afastando-se para o lado oposto ao que estou.

-E não é tudo a mesma coisa? -ele ri e eu reviro os olhos entediada.

Pelo visto Lorenzo é também um grande bobalhão, penso comigo mesma já na garagem.

-Não, não é. São nacionalidades e culturas diferentes, gênio. -respondo o óbvio o qual sempre tenho que repetir para as pessoas quando me fazem a mesma pergunta.

-Eu sei que não, estava apenas pegando no seu pé. -Lorenzo comenta com um sorrisinho de lado e deixamos mais uma leva de caixas na minha futura sala de estar.

-Agora só mais essa viagem e você poderá se ver livre dessa vida de escravo. -brinco batendo em seu ombro e descemos mais uma vez para buscar a última remessa.

-Não se preocupe com isso japa, sinto que em breve você irá retribuir o favor. -ele promete e pisca um dos olhos azuis de forma marota.

Balanço a cabeça em negação rindo do seu bom humor contagiante. É, pelo visto estou com sorte e já fiz um novo amigo na minha nova moradia.

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