Capítulo 1

|Alguns meses atrás|

|MAYA|

Eu sou simplesmente incrível, sorrio em frente ao espelho enquanto retoco o batom vermelho sangue sobre meus lábios. Sou uma mulher com trinta anos de idade muito bem sucedida e inteligente que acaba de entrar para o time de médicos do Novo Horizonte, o hospital mais conceituado da cidade de Belo Horizonte, que possui a mais alta tecnologia de ponta em cirurgia e tratamentos de casos raros.

Estou muito feliz por conseguir essa promoção pois finalmente poderei trabalhar em minha área de especialização que é a cardiologia, uma conquista que alcancei com muito esforço e trabalho árduo. Pensar nisso me faz lembrar que tenho que resolver certas pendências antes de começar definitivamente meu serviço na segunda-feira da semana seguinte.

Por mais que meu coração esteja um pouco chateado em ter que tomar certas atitudes, nada é mais importante do que assegurar meu sucesso e bom desempenho no novo local de trabalho devido minha capacidade. Não quero que nada seja um empecilho nesse emprego, meus colegas terão que me reconhecer, respeitar e me admirar pela excelente profissional que sou, e não por causa das pessoas com quem me relaciono dentro ou fora do hospital.

-Minha linda, seus pais já devem estar nos esperando no restaurante. -João Pedro diz levantando-se da cama e vem em minha direção envolvendo minha cintura com ambas as mãos em um abraço.

-Eles podem aguardar mais alguns minutinhos. -digo divertida colocando um brinco na orelha.

-Não acho que Daniel e Sara Kyung-Soon apreciariam o atraso da filha prodígio. -ele graceja afastando meus cabelos para o lado os colocando sobre um ombro, e com o nariz percorre a região sensível da nuca até a curva do meu pescoço.

Minha pele inteira se arrepia com o toque e eu acabo errando o furo da orelha ao tentar colocar o outro par do brinco.

-Então eu colocarei toda a culpa em você, já que não me deixa terminar de arrumar. -acuso escondendo um sorriso quando sinto seus lábios traçando o mesmo caminho de fogo que o nariz havia feito segundos antes.

-Se for para levar a culpa, é melhor que eu faça o serviço por completo para fazer valer a pena a bronca que levarei mais tarde. -ele diz deslizando a mão pela fenda na lateral do meu vestido longo que vai até o início da coxa.

-Uhum... -murmuro inebriada pelo toque e me viro em seus braços para receber sua boca em um beijo voraz. -Mas seria uma pena se você... bagunçasse toda essa roupa alinhada. Olha só para você, está todo arrumadinho nesse terno e gravata. -e para provoca-lo ainda mais, dou forte puxão em sua gravata trazendo-o mais para perto a ponto de nossos lábios se encontrarem novamente.

JP rosna em resposta antes de pressionar nossos corpos ao nível de quase nos tornarmos um só. Com passos errantes, porém decididos, ele vai nos guiando rumo a sua cama que está logo atrás de nós. Entrelaço minhas pernas em sua cintura quando caímos sobre o colchão macio e eu arranho suas costas sobre o tecido.

-Eu não me importo, minha linda. -é tudo o que ele diz com um semblante sério fitando-me diretamente nos olhos, e então é assim que nos atrasamos mais algumas horas para encontrarmos com meus pais no restaurante combinado.

***

-Maya Kyung-Soon, isso é horário de cumprir com um compromisso? -minha mãe é a primeira a se manifestar, o rosto neutro não revela nada para as pessoas nas mesas ao nosso redor, porém sei que por dentro ela está como um verdadeiro vulcão prestes a explodir de raiva.

-Sinto muito pelo atraso, mãe e pai. -peço desculpas sentando-me na cadeira que JP puxa para que eu me acomode de frente para ambos.

Ignoro o fato de ter sido chamada pelo nome completo, uma vez que não gosto do meu sobrenome complicado. Encaro meus pais com um sorrisinho polido no rosto, afinal de contas eu havia errado ao me atrasar sem necessidade, e além do mais, eles ainda continuam sendo meus progenitores a quem devo respeito e consideração.

-Sente muito... -meu pai resmunga com os olhos afunilados. -Ao menos tem uma desculpa plausível para isso, Maya? -ele pergunta com o rosto impassível tal qual o da minha mãe.

-Senhor Daniel... -JP intervém mas eu o impeço de prosseguir.

-Esquece esse assunto por favor, pai. Eu já me desculpei com vocês. Vamos aproveitar essa noite para comemorar duas conquistas importantes para mim, uma de trabalhar no lugar dos meus sonhos e a outra de conseguir meu próprio apartamento para morar.

-Tudo bem, você está certa, querida. São dois grandes passos que está tomando e estamos orgulhosos de você. Foi para isso que a criamos, para ser bem-sucedida e independente de nós quando crescesse. -minha mãe diz e troca um olhar estranho com meu pai antes de continuar. -E já que tocamos neste assunto, infelizmente nem eu e nem seu pai poderemos ajudá-la com a mudança amanhã, minha filha.

-Não? -questiono sem entender o motivo.

Seria isso uma punição pelo meu atraso?

-Não. Surgiu um compromisso de última hora no escritório que teremos que resolver o quanto antes. -meu pai explica como se fosse normal largar qualquer compromisso na vida para se enfurnar no escritório em um dia de domingo.

Bom, para Daniel e Sara, meus pais obcecados por trabalho, realmente sempre foi comum algo do tipo. Não me recordo de quantas vezes ambos já fizeram o mesmo quando eu ainda era pequena e também no decorrer de durante toda a minha vida.

-Sem problemas, eu dou conta sozinha. -respondo sem me abalar, por mais que esteja em parte decepcionada com eles.

Evito suspirar em seguida para não entregar meu estado de espírito. Eu só queria um pouco de apoio moral nessa nova fase, poxa.

-Posso ajuda-la, Maya. -JP se oferece e eu me sinto ainda mais horrível do que já estou pelo que terei que fazer com ele.

João Pedro é um cara tão bacana, uma pena que meu coração não sinta por ele o mesmo ele sente por mim. Para mim somos apenas amigos que se envolveram além do limite da amizade, contudo ele sempre esteve bem consciente disso. Nunca o enganei ou o iludi com falsas esperanças de algo a mais no futuro. Por isso tenho que tomar uma atitude logo, não posso mais procrastinar e com isso colocar minha carreira em risco.