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Prólogo

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|MAYA|

Quando vi pela primeira vez aquele par de olhos azuis de uma profundidade imensurável, aquela tonalidade de azul intenso do mar do Caribe gritou PERIGO em grandes letras garrafais pintadas de verde neon.

Mas como sou idiota e extremamente teimosa feito uma mula empacada, lá fui eu me meter aonde não devia e agora... agora estou aqui, escondida nas escadas de emergência do hospital onde trabalho, parada como uma estátua de gelo encarando os resultados da minha tola insistência dentro de um envelope branco que contém todo o meu futuro daqui para frente.

Eu não deveria ter medo de abrir logo e aceitar de vez a realidade, porém eu tenho, e muito. Mas isso é bem feito para mim, quem saiba assim, eu não seja burra e inconsequente novamente. A culpa é totalmente minha, não que eu tenha feito tudo sozinha, claro que não, até porque como dois mais dois são quatro para eu estar nessa situação teve que ter a participação de outra pessoa, entretanto, me refiro ao fato de ter entregado meu coração e meu corpo a alguém que não os queria e insistido para que fossem aceitos.

Esse foi o meu maior e primeiro pecado. Amar alguém que não me amava por igual.

Minha mãe sempre me deu um sábio conselho o qual fiz questão de jogar de lado e ignorar quando conheci Fábio... "Nunca ame mais alguém do que a si mesma. Se você não se amar primeiro, então ninguém o fará por você."

Ah se eu tivesse te escutado a tempo, mamãe!

Já o meu segundo pecado, que também pode ser considerado um deslize médico, foi no dia em que deixei que Fábio cuidasse de mim como se eu fosse uma inválida, tudo por causa de um resfriado idiota que peguei após ter tomado uma chuva torrencial quando voltava para casa depois de chegar no hospital.

Minha carência estúpida cegou-me momentaneamente em meio a sucessivos espirros, canecas de chocolate quente, cobertores fofinhos e comprimidos para dor de cabeça e antitérmicos, que essas malditas pilulazinhas inocentes, poderiam simplesmente cortar o efeito do anticoncepcional que eu tomava a vida inteira para regular meu ciclo menstrual.

Mas eu só me liguei no fato de que algo realmente estava fora de ordem em mim quando a tão esperada menstruação não caiu religiosamente como de costume na data específica. Nos primeiros dias acreditei que a desregulação havia se dado por causa do estresse do trabalho novo e também pelo abalo emocional devido o rompimento abrupto do meu relacionamento secreto com Fábio. Acreditei firmemente que um ataque de hormônios raivosos tinham tomado conta do meu corpo atrasando assim o fluxo mensal.

Porém essa possibilidade foi caindo por terra quando as semanas se passaram e o mês virou na folhinha do calendário e nada da danada da menstruação descer. Não era só um desequilíbrio emocional barra hormonal...

Então começaram as suspeitas.

Por mais que eu não exibisse os clássicos sintomas iniciais, o temor de que a simples possibilidade se concretizasse me aterrorizada. E se fosse verdade? O que eu faria agora que estava sozinha e com uma carreira em ascensão? Eu jamais me sujeitaria a uma convivência forçada com a pessoa que amo simplesmente por um deslize de um momento passageiro, mas que poderia nos unir em um laço eterno.

É claro que eu não esconderia algo dessa magnitude de Fábio se fosse realmente confirmado, todavia, levaria algum tempo para isso acontecer. E se ele não quiser arcar com as responsabilidades tudo bem, nenhum de nós pediu por isso, então eu darei conta do recado sozinha. Nunca precisei da ajuda de alguém antes para nada, não será agora que isso irá mudar.

Eu só preciso de força e coragem para rasgar o envelope tão pálido quanto meu rosto nessa hora, que está em minhas mãos e saber a verdade. A verdade que eu cautelosamente guardei comigo ao pedir extremo sigilo no laboratório quando fiz o exame de sangue.

Está na hora...

Acho que não necessito nem ler as linhas e números que estão detalhadamente expostos nas folhas do exame, afinal tenho noventa e cinco por cento de certeza do que está ali.

Baixo os olhos para as folhas e em uma rápida leitura chego a conclusão de que mesmo antecipando o que estaria escrito, percebo que ainda assim não estava preparada psicologicamente para o impacto que aquelas poucas palavras trariam consigo.

RESULTADO POSITIVO PARA GRAVIDEZ.

Não, não, não... repito mentalmente enquanto caio de joelhos no chão e me balanço para frente e para trás desolada com a situação.

Grávida.

A palavra não para de girar em minha cabeça e como um flashback, as cenas do momento em que cometi esse erro voltam com tudo em minhas memórias.

O que eu vou fazer? Me pergunto sentindo o rosto molhado pelas lágrimas que agora rolam livremente sem o meu impedimento.

-Maya? -ouço uma voz me chamando ao longe, mas ignoro.

A dor de um coração partido e o medo do futuro desconhecido não me deixam enxergar nada ao redor.

-Meu amor, o que houve com você? -sinto braços grandes me acolherem em um abraço e é aí que eu desabo mais no choro. -Fale comigo, Maya.

Reconheço de imediato o cheiro e calor que me consolam. Levanto o rosto para fitar o recém-chegado que havia descoberto meu esconderijo e me deparo com bonitos olhos azuis me encarando com certa preocupação e carinho.

O que eu faria da minha vida sem esse homem? João Pedro sempre esteve por perto nos momentos em que mais precisei e agora não estava sendo diferente.

-JP, eu estou muito ferrada. -escondo o rosto em seu peito e ele me ampara.

-Nós vamos dar um jeito nisso juntos, meu amor. Não importa o que seja. Eu estou aqui com você então nada mais importa. -João Pedro beija o topo da minha cabeça acariciando meus cabelos. -Resolveremos tudo, seremos eu e você contra o mundo, certo?

E mesmo sem muita convicção concordo com sua promessa acenando com a cabeça. Porque se tem uma coisa que JP é bom, é em cumprir com cada uma de suas promessas. E é nisso que eu me agarrarei daqui para frente.

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