Não estou nervoso.

Ele ainda parece zangado, durante todo o trajeto até a casa de Estela está em silêncio. Sinto seus olhos me observando de vez em quando.

Mantenho minha vista ocupada olhando pela janela. Estar no mesmo espaço que ele, assim tão pertinho me deixa desarmada. Tento não me abalar com isso, mas toda hora fico pensando na reação do meu corpo quando ele correspondeu meu beijo.

Imediatamente afasto esses pensamentos proibidos me lembrando de Estela. Viro a cabeça para ele:

—Você ligou para Estela avisando sobre o atraso?

Ele olha para mim.

—Avisei.

Minha língua desliza sob meus lábios, umedecendo-os e eu forço um sorriso. Leo parece notar meu gesto pois seus olhos fixam-se neles por um momento e então ele volta seu olhar para o trânsito.

—Ela deve estar confusa com a nossa demora.

—Paciência —ele diz secamente.

Eu solto o ar.

—Posso saber por que você está tão nervoso? Se continuar assim comigo, Estela vai achar que temos alguma coisa e aí que o caldo vai entornar!

—Não estou nervoso.

Eu rio.

—O que fizemos não foi tão grave assim! Qual o problema de eu ter te beijado? Você só ajudou uma amiga naquela hora. E pronto! Passou!

Ele olha para mim como se fosse me voar no pescoço mas não diz nada, seu olhar volta para o trânsito. E eu foco o lado de fora da janela.

—Você gosta dele —ele diz de repente.

Eu o encaro.

—Eu já disse que não gosto dele!

Ele me olha sério:

—Confesse.

Aceno um não com a cabeça.

—Não, não gosto. Mas se eu gostasse, é um problema meu. Eu...apenas quis passar a imagem que dei a volta por cima.

Ele me dá um sorriso amargo.

—Volta por cima? Você é bonita. Pode ter o homem que quiser, mas ainda está sozinha. Isso já não diz muita coisa?

Eu me arrepio inteirinha com as falas dele.

O homem que eu quiser...

Eu quero você Leo, esse é o problema e isso ficou mais evidente hoje.

Olho para ele e não lhe dou uma resposta. Leonardo me observa um tempo e volta sua atenção para o trânsito.

No mínimo agora está acreditando na versão que ainda estou apaixonada por Omar.

Viro meu rosto para a janela.

Sim, ainda estou sozinha. Eu não senti por um homem o que Leo me provocou.

Deus! Que beijo!

O beijo mudou todas as coisas aqui dentro, sem notar passo a mão no peito. Ainda posso sentir a sensação dos lábios dele nos meus correspondendo com ferocidade.

Seu cheiro divino no meu nariz. Seu calor envolvendo meu corpo.

Maldita hora que eu o beijei!

Deus. Agora vejo que foi uma péssima ideia sair com eles. Naquela hora que Leo me convidou, lá na sorveteria, me pareceu uma boa ideia. Mas agora, vejo que não foi.

Pare já com isso!

Ele é comprometido.