Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

5- A Proposta

Faço carinho nos cabelos dela enquanto observo o seu rosto pálido, suas olheiras profundas e logo os meus olhos descem para o seu corpo, que dia após dia perde ainda mais suas curvas.

Dou um beijo em sua testa e nos despedimos, e ao fechar a porta atrás de mim, lágrimas rolam em meu rosto num misto de felicidade, alívio e um pingo de preocupação. Embora saiba que o que eu fiz foi errado e completamente arriscado, confesso não sentir nenhum resquício de arrependimento, pois sei que assim a minha mãe terá uma enorme chance de sobreviver à sua doença.

Com uma parte dos meus problemas resolvidos, cumpro a minha primeira obrigação na empresa e invento uma desculpa para sair. Encaro o meu carro por alguns minutos antes de dirigir até uma agência de carros, disposta a vendê-lo para recuperar o relógio, mas o valor absurdo que me oferecem por ele me faz desistir da ideia.

No caminho de volta à empresa, Noah me liga para, mais uma vez, fazer com que eu entre em desespero ao encontrá-lo.

— Srta Hampton — Noah me cumprimenta quando me sento à mesa e dou um sorriso sem graça — Onde está o meu relógio?

— Sr Ewing, eu preciso de mais um tempo, por favor. Estou tentando recuperar o dinheiro que recebi por ele para que eu o consiga de volta.

— Não, eu já te dei tempo demais, acredite.

— Eu não consigo 100 mil assim, do nada — Respondo num tom baixo e desvio o olhar, encarando os meus dedos — Estou te pedindo um prazo, em dois dias eu consigo.

— Dois dias? Não sou do tipo que tem tanta paciência quanto estou tendo. Me esqueci que você é burra, então vou te explicar o óbvio: em dois dias a loja poderá vender o meu relógio. Se não consegue o dinheiro por conta própria, peça para o seu pai, tenho certeza que 100 mil não é nada para ele.

— Não, isso não! — Exclamo num tom assustado e ele abre um sorriso sarcástico.

— Seu papai não tem noção do que a princesinha fez, não é? Imagino como ele ficará ao saber o que você se tornou, Ava, portanto não brinque comigo, ou não somente ele como todo mundo saberá sobre o seu hobby de sair por aí a procura de homens indefesos para roubá-los.

— Você está longe de ser indefeso, Noah.

— Sr Ewing, Ava. Embora já tenha te levado para a cama, você não tem intimidade para me chamar pelo nome — Noah diz rispidamente, me obrigando a revirar os olhos disfarçadamente — Eu não sou indefeso, mas e os outros? Ava…

— Para você é Srta Hampton.

— Ava — Ele ignora o meu comentário — Estou de ótimo humor hoje, então te farei uma proposta.

— Qual?

— Quero que seja minha esposa.

— O quê?! — O encaro confusa após quase cair da cadeira pelo susto da proposta — Não me diga que se apaixonou por mim por conta de uma noite que nem sequer me lembro direito.

— Não seja presunçosa, Ava, sequer me lembro como foi aquela noite. Tudo não passará de um relacionamento de fachada, um casamento contratual com cláusulas muito bem estabelecidas, para que você nem pense em me dar outro golpe.

— Isso é um absurdo, eu não posso aceitar isso.

— Como te disse, estou de bom humor — Noah responde após olhar uma mensagem no celular e então se levanta — Portanto, você terá até amanhã pela manhã para me devolver o relógio, ou aceitar a minha proposta, do contrário terei o imenso prazer de formalizar a queixa contra você e divulgar isso a imprensa. Com licença, Ava.

Noah me encara enquanto abre a carteira e joga algumas notas em cima da mesa antes de sair. Permaneço sentada por alguns minutos tentando digerir a proposta que ele me fez, e me vejo cada vez mais sendo posta contra a parede.

Mais uma vez, situações desesperadas pedem medidas desesperadas, e quando me dei conta, mesmo contra a minha vontade, estava indo até a casa do meu pai.

— Minha menina! — Dorothy, governanta da família há anos, me abraça e me beija carinhosamente — Há quanto tempo, meu amor! Como você está?

— Sinceramente, Dory? Não sei definir como estou. Fisicamente estou bem, mas psicologicamente estou destruída. Onde o meu pai está? Hoje ele não foi trabalhar, então não tive outra opção senão vir aqui.

— Está no escritório, Ava, com a… — Dorothy revira os olhos — Com a Srta exigente Smith.

— Que Deus me ajude, Dory.

Rimos juntas e ela me acompanhou até o escritório do meu pai, anunciando a minha chegada e saindo a seguir. O meu pai me encara assustado com a minha visita, pois não venho aqui desde que ele se separou da minha mãe, enquanto a nova namorada dele revira os olhos disfarçadamente.

— Ava? — Ele estende a mão para que eu me sente e sorri — Que surpresa te ver aqui, filha.

— O senhor não foi para a empresa hoje, então tive que vir até aqui, papai.

— Não irá cumprimentar a Amy?

— Eu preciso conversar com o senhor — Ignoro a pergunta dele e em provocação Amy se senta no colo dele — Em particular, papai.

— Eu e o seu pai não temos nada a esconder, Ava, não vejo necessidade da minha saída.

— Concordo, meu docinho de côco — Meu pai acaricia a coxa dela e olha para mim — Pode falar, Ava.

— Papai, por favor…

— Se preferir, pode deixar para falar quando eu voltar para a empresa, na próxima semana.

— Fale, minha nova filhinha.

— Amy, você tem quase a minha idade — Reviro os olhos e respiro fundo antes de falar — Eu preciso de 100 mil, papai.

— De novo essa história, Ava? Eu já te disse que não vou mais ajudar no tratamento da sua mãe, já fiz demais por ela e perdi muito tempo também.

— E então a abandonou quando ela mais precisou do senhor e do seu apoio, não é?

— Ava, seu pai precisa aproveitar a vida, não é, meu momoreco? — Amy beija o meu pai e sorri para mim.

— Exatamente, docinho. Ava, é somente isso? Estávamos organizando a nossa próxima viagem, Amy quer ir para as ilhas Maldivas e eu prometi levá-la, mas você está nos atrapalhando.

— Não é para o tratamento da minha mãe, papai — Suspiro e passo as mãos no rosto antes de voltar a encará-lo — Eu consegui o dinheiro da cirurgia dela ontem, mas acabei arrumando um enorme problema por conta disso, e agora estou sendo chantageada.

— O que você fez, Ava? — Ele me encara sério e tira Amy do colo para se levantar — Eu espero que você não tenha feito nada para sujar o nosso sobrenome, Ava!

— Eu peguei algo de alguém, papai, e agora a pessoa está se aproveitando disso para...

— Ava — Meu pai passa as mãos no rosto e me encara sério — Pegar você quer dizer roubar, não é? Não acredito que você…

— Ava, querida, eu não acredito que você esteja tão chateada com o seu pai ao ponto de roubar e manchar a imagem dele por aí — Amy se aproxima de mim e acaricia o meu braço — Você precisa entender que casamentos chegam ao fim, você não pode se vingar do seu pai por ter…

— Ter o quê, Amy? — Me levanto e a encaro — Ter sido um covarde ao abandonar a esposa doente e um casamento de 25 anos? Ou por ter se envolvido com uma qualquer? Porque é isso que você é! Uma mulherzinha qualquer, uma aproveitadora que…

— Não repita isso! — Meu pai grita após acertar um tapa no meu rosto. Sinto o meu rosto arder, e desisto de segurar as minhas lágrimas de decepção ao vê-lo abraçar a Amy, que finge um choro ofendido — Peça desculpas para a Amy, Ava!

— O quê?! Nunca!

— Tudo bem, minha vida, ela está chateada porque você me ama e preferiu ficar comigo.

— Eu exijo que ela faça isso, Amy.

— Não, eu não vou pedir desculpas por falar a verdade — Enxugo as minhas lágrimas e balanço a cabeça negativamente — A que ponto o senhor chegou, papai, eu realmente não o reconheço mais.

— Lamento que pense assim — Ele diz ainda abraçado com ela, e ela abre um sorriso disfarçado ao me encarar — Assim que o divórcio sair eu vou me casar com ela, portanto, espero que você se conforme com isso e aprenda a respeitá-la. Volto a repetir, enquanto você não souber respeitar a Amy você terá apenas o seu salário e a sua faculdade, e se dê por satisfeita.

— Isso tudo foi realmente um erro, eu não deveria ter vindo até aqui.

— Concordo, ultimamente a única coisa que você faz é me desafiar, Ava — Meu pai segura a Amy pela mão e se senta, colocando-a em seu colo novamente — Quanto ao seu problema, assuma as responsabilidades e resolva sozinha. Se venda se for preciso, eu não quero saber como irá resolver isso, mas esteja ciente, Ava, se você ousar manchar o nosso sobrenome, juro por Deus que me esqueço que sou o seu pai e eu acabo com você! Agora me dê licença, temos uma viagem para terminar de organizar

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.