4- Uma Ótima Ideia
"Por Noah"
Por mais que o meu descontentamento esteja à flor da pele e a minha vontade seja a de expôr a princesinha da família Hampton, sem pensar nas consequências que isso teria para a imagem deles, a curiosidade em saber o porquê de Ava ter me roubado me impediu disso, e por esse motivo resolvi dar um tempo para ela recuperar o meu relógio.
— Noah, — Taylor comenta ao entrarmos no meu carro — eu não acredito que ela tenha vendido um relógio de mais de 5 milhões por esse preço. Por que será que ela fez isso?
— Não faço ideia, talvez seja problemas com drogas, quem sabe? O que me interessa nesse momento é o meu relógio, Taylor.
— Será que isso tudo é apenas pelo relógio, Noah? — Ele pergunta e me encara brevemente antes de voltar a sua atenção para a estrada — Porque o Noah que eu conheço não daria um prazo a ela, e, no mínimo, faria com que ela procurasse pelo relógio até no inferno.
— Ela roubou algo meu, eu não vou tolerar isso, preciso fazê-la se arrepender por mexer comigo, mas também não posso arriscar dela sumir e eu nunca mais ver o meu relógio, Taylor, você sabe o quanto ele significa para mim.
— Eu sei muito bem, Noah, e por falar nisso, amanhã teremos uma reunião com o conselho, você sabe o que isso significa, não é?
— Óbvio que eu sei, Taylor — Reviro os olhos e bufo quando ele estaciona o carro na minha casa — Com certeza o meu pai fará alguma crítica a mim. Tente descobrir em qual loja ela foi e coloque alguém para seguir os passos da senhorita Hampton, preciso ter certeza que de um jeito ou de outro conseguirei recuperar o meu relógio. Agora vamos, eu preciso de uma bebida para me esquecer disso tudo.
Após passar o restante da noite bebendo para tentar me esquecer dessa péssima experiência com Ava, e de ter uma péssima noite de sono, termino de me arrumar e logo vou para a empresa. Entro na minha sala e tento me concentrar no trabalho, mas não demora para chegar a hora da reunião com o conselho administrativo.
— Por enquanto é somente isso — O meu pai concluiu a reunião, um pouco mais de uma hora depois de seu início — Sr Ewing, preciso falar com o senhor antes que eu vá embora.
— Pensei que havíamos terminado por aqui, senhor.
— Noah — Ele levanta da cadeira que está sentado e fica de frente para mim, assim que ficamos a sós na sala — Você está fazendo um excelente trabalho, eu sabia que havia feito uma boa escolha ao te colocar no meu lugar quando você voltou a morar aqui, filho.
— Quando fui obrigado a voltar, não é? Sinto que após essa sua frase virá um "mas…".
— Sim, Noah, sempre tem o "mas".
— Fale de uma vez, o que ainda falta? O senhor me pediu números e eu te apresentei quase o dobro do exigido, lhe mostro dia após dia que sou tão bom quanto o senhor, e ainda assim nunca é o suficiente.
— Muito pelo contrário, não há o que reclamar quanto ao seu profissionalismo, você me surpreendeu nesses últimos meses, mas não se esqueça que o CEO é a imagem da empresa, a personificação do que se pode esperar dela. Estou ansioso para nomeá-lo formalmente como tal, Noah.
— Mas…?
— Mas ninguém dará credibilidade a um homem que trabalha de forma excepcional, mas que todo fim de semana age de maneira irresponsável. Você sabe o quanto os investidores e os seniores zelam pelos valores familiares, eu sou o exemplo disso.
— O que eu faço ou deixo de fazer fora da empresa só diz respeito a mim.
— Não, Noah, você está muito enganado quanto a isso. O seu nome permanece contigo mesmo fora da empresa, e qualquer escândalo relacionado a ele não afetará somente a você! Tudo se resolveria facilmente se você reatasse e se casasse com a Srta Frazier, e você sabe muito bem que é isso que eu quero.
— Que me case? Isso é totalmente fora de cogitação — Solto uma risada em deboche e balanço negativamente a cabeça — E muito menos vou reatar com a Amber só para satisfazer o seu…
— Cala a porra da boca, Noah! — Ele me interrompe ao bater com força as mãos em cima da mesa e me encara — Não percebe que ninguém irá confiar e muito menos negociar com um homem que troca de mulher como se trocasse de roupa? Então, se você quer realmente permanecer ocupando o lugar que você ocupa hoje, te aconselho a mudar a partir daí. Mostre que você também é capaz de ser responsável na sua vida pessoal — Ele se recompõe e arruma a sua gravata — Você sabe exatamente o que tem que fazer para impressionar tanto a mim quanto aos outros.
— É somente isso? — Pergunto ao me levantar e ele diz que sim com a cabeça — Com licença.
Vou até a minha sala e peço para a minha secretária chamar o Taylor, e enquanto espero a chegada dele, Ava surge em meus pensamentos e eu tenho uma ótima ideia para resolver o meu problema com o meu pai.
— Conseguiu descobrir onde está o meu relógio? — Pergunto assim que Taylor entra na minha sala.
— Sim, está na Things & Trinkets.
— Ava já foi até lá?
— Não, — Ele responde e mexe no celular por alguns segundos antes de voltar a falar — o homem que coloquei para segui-la me disse que ela saiu bem cedo, foi até o hospital geral, depois para a empresa e há dez minutos foi até uma agência de carros.
— Ela vai tentar vender o Porsche, claro! — Me levanto e passo uma das mãos nos cabelos — Eu preciso que vá imediatamente na Things & Trinkets e compre o meu relógio, não importa o quanto me custe, e traga ele até mim.
— Que história é essa, Noah?
— Faça o que estou mandando, Taylor, quando tudo estiver resolvido terei que te explicar o que pretendo fazer. A única coisa que posso te falar até agora é que Ava não pode de maneira alguma recuperá-lo.
— Você está bem estranho, mas farei o que está pedindo.
"Por Ava"
Após ter tido uma péssima noite de sono, tentando encontrar uma maneira de recuperar o dinheiro que consegui ao vender o relógio, decido aproveitar o tempo livre antes do trabalho para visitar a minha mãe.
Dirijo por alguns minutos e logo chego até o hospital onde ela está, indo rapidamente até a administração para confirmar a transferência feita no dia anterior. Após me certificar que tudo correu perfeitamente bem, vou até o quarto da minha mãe para contar a novidade para tentar animá-la um pouco, e passar um certo conforto.
— Filha! — Embora esteja fraca, minha mãe diz num tom animado e sorri — Que felicidade te ver aqui tão cedo.
— Bom dia, mamãe, não dormi muito bem e decidi passar aqui antes de ir trabalhar. Como está?
— Estou tentando, Ava — Ela abre um sorriso fraco e acaricia a minha mão — Eu prometi que não te deixaria sozinha, e irei cumprir, se Deus quiser.
— E ele quer, mamãe! Eu consegui o dinheiro para a sua cirurgia, acabei de conversar com um dos médicos e ele me deu grandes esperanças — Seco as lágrimas que descem pelo canto dos olhos dela e sorrio — Vamos conseguir, mamãe, preciso que aguente um pouco mais e logo iremos para casa.
— Você não tem ideia do quanto estou feliz, filha. Mas como conseguiu o valor? O seu pai…
— Não, eu preferi não pedir a ele novamente — Desvio o olhar e encaro os meus dedos — Os pais da Emma me fizeram um empréstimo.
— Desculpa te dar dando trabalho, Ava, eu prometo que…
— Mamãe, — A interrompo quando noto sua voz embargada — Nada de promessas agora, por enquanto vamos nos concentrar na sua operação, tudo bem? Eu preciso ir, não posso me atrasar para ir trabalhar. Prometo vir te visitar ao decorrer da semana, mamãe. Eu te amo.
— Eu também te amo, filha. Se cuida.