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Capítulo 7 - Apavorada

Cecília

Era final da tarde e eu estava caminhando para o ponto de ônibus com Manuela quando um homem estranho me abordou no meio da rua, segurando meu braço com força e me encarando com um olhar cheio de ira.

— Você sabe onde está o Bobby? — Ele perguntou, seu olhar segurando o meu de maneira perigosa.

Senti todo o meu corpo trêmulo, o pavor me deixando completamente sem palavras. Eu não consegui emitir nem mesmo um único som.

— Responde, garota! — O homem mau encarado gritou dessa vez, chegando a cuspir em meu rosto.

— Eu… eu não… — Gaguejei, simplesmente aterrorizada.

— Não brinca comigo, garota! — Voltou e me pressionar.

— Ela não sabe nada sobre o Bobby, Marcão — Manuela veio em minha defesa, sua voz trêmula, mas ao menos ela estava falando — Ela não tem contato algum com o Bobby!

— Não se mete, Manu — O homem gritou para a minha colega — Eu tô falando com ela. O Bobby disse que ela é a gatinha dele..

Bem, agora eu estou simplesmente em desespero com essa informação.

— Eu não tenho nada com o Bobby, moço — O pavor me fez falar agora — Eu juro.

Minha voz saiu trêmula e desesperada, mas eu precisava deixar claro para aquele homem que não tinha nada a ver com o Bobby. Minhas mãos suavam frio enquanto tentava me desvencilhar do aperto firme em meu braço. Olhei para Manuela, buscando apoio e ajuda, mas ela também parecia assustada demais para reagir.

O homem, que agora sei chamar Marcão, me encarou com um misto de raiva e desconfiança. Seus olhos, repletos de um ódio latente, pareciam perfurar minha alma. Por um momento, pensei que aquela situação poderia terminar muito mal para mim.

— Você jura? — Marcão disse com sarcasmo, soltando meu braço, mas mantendo sua presença ameaçadora — Porque se você estiver mentindo, acredite, vou descobrir. E aí não vai ter para onde correr.

O medo tomou conta de mim. Minha mente se esforçava para encontrar alguma solução, algum caminho para escapar daquela situação angustiante. Eu não tinha nada a ver com o Bobby. Mas como provar isso a Marcão?

— Por favor, acredite em mim, eu realmente não tenho nada com o Bobby. Ele me convidou para sair, mas eu nunca aceitei! — minha voz saiu mais firme agora, tentando transmitir convicção mesmo em meio ao temor.

Marcão me observou por alguns instantes, como se estivesse avaliando minha sinceridade. Eu torcia para que ele percebesse a verdade contida em minhas palavras. Aos poucos, notei um leve amolecimento em sua expressão. Ele pareceu refletir por um momento antes de finalmente se afastar.

— Tá bom, garota. Eu tô de olho em você. Se descobrir que você está mentindo, não vai gostar das consequências — ele ameaçou antes de se virar e partir, deixando-me com um misto de alívio e apreensão.

Manuela correu até mim e me abraçou, trêmula. Eu sentia seu corpo agitado contra o meu, ambas compartilhando o medo do que poderia ter acontecido. Agradeci silenciosamente por ela ter me defendido e falado por mim naquele momento de terror.

— Você e o Bobby…?

— Não! — Protestei com veemência — Ele cismou comigo, me convidou para ir ao cinema, mas eu nunca aceitei as suas investidas.

Manuela assentiu, ainda parecendo muito nervosa. Com o coração ainda acelerado, olhei ao redor, buscando algum sinal de segurança. A rua parecia mais perigosa e hostil do que nunca.

— Melhor a gente ir para o ponto de ônibus logo, antes que ele volte atrás — Manu sussurrou e eu pude sentir a urgência em suas palavras.

Caminhamos então apressadamente em direção ao ponto de ônibus, enquanto minha mente trabalhava incansavelmente em busca de uma forma de sair daquele lugar. Algo me dizia que a partir daquele momento, por uma loucura criada apenas na cabeça do Bobby, a minha vida corria perigo.

********

Trabalhei aquela noite com uma sensação ruim em meu peito, a todo momento temendo que aparecesse algum maluco para me atacar. Sem falar nos próprios clientes, pois sempre apareciam alguns mais animados e inconvenientes. Eles pareciam estar sempre há apenas um passo de me agarrar, como havia acontecido na noite anterior com o amigo de Liam Ricci.

Droga, eu estava tentando a todo custo não pensar naquele babaca grosseiro, mas os meus pensamentos tem vida própria e sempre estão me trazendo a lembrança dele, o que é um saco. Só espero que aquela noite acabe logo. Não sei se vou conseguir continuar por muito mais tempo com toda aquela tensão.

Depois do que aconteceu no clube Sussex na noite anterior, eu pensei mil vezes em não voltar aquele lugar nunca mais. Estava farta de aceitar insultos e lidar com o assédio de homens embriagados. No entanto, ao observar o terrível quarto onde estava morando, revi minha decisão e decidi continuar. Agora, havia um novo incentivo para me esforçar: eu precisava sair da pensão e encontrar outro lugar o mais rápido possível

Estava trabalhando, completamente imersa na minha tarefa, quando vi Liam Ricci entrar no clube. Imediatamente, uma sensação de tensão me dominou. Eu não queria de jeito nenhum ter que interagir com ele novamente, especialmente após tudo o que aconteceu na noite anterior.

Decidi agir rapidamente e me aproximei da minha amiga Manu. Num sussurro, avisei que precisava ir ao banheiro e, assim, escapei a tempo de evitar ser vista por Liam.

No banheiro, aproveitei para prolongar ao máximo a minha estadia, torcendo para que, quando eu voltasse ao salão, Liam não estivesse mais entre os clientes. Na pior das hipóteses, eu esperava que ele estivesse em uma parte do salão onde eu não precisasse atendê-lo.

Contudo, ao retornar ao salão, meu coração afundou ao perceber que ele estava sentado na mesma mesa que ocupou na noite anterior. Isso implicava que eu teria que atendê-lo mais uma vez, mas um certo alívio me invadiu ao notar que Liam já tinha um drinque diante dele, indicando que ele já havia sido atendido. Continuei meu trajeto pelo salão, tentando evitar qualquer contato direto com ele.

No entanto, minha tentativa de manter distância foi abruptamente interrompida quando notei que Liam estava me chamando. Um misto de irritação e curiosidade me invadiu enquanto me dirigia à mesa do meu arrogante ex-chefe, mantendo meu tom profissional.

— Em que posso ajudá-lo, senhor? — perguntei, enquanto Liam me fitava com um olhar carregado de superioridade, o que só aumentava minha irritação.

Contudo, eu não podia demonstrar minhas emoções, então aguardei com uma falsa tranquilidade.

— Gostaria de ter uma conversa com você, Cecília.

Sua declaração inesperada provocou minha curiosidade sobre o que o todo-poderoso Liam Ricci poderia querer discutir comigo. Antes que pudéssemos aprofundar o assunto, fui chamada por alguns clientes na mesa ao lado.

— Desculpe, senhor, mas não posso conversar durante o meu horário de trabalho. Existe algo específico que deseja pedir? — Respondi com extrema cortesia.

A minha atitude o deixou visivelmente irritado.

—É importante, Cecília — Liam insistiu — Preciso apenas de alguns minutos.

Apesar de minha considerável curiosidade, não pude aceitar a oferta.

— Lamento, senhor, mas estou ocupada agora. Quem sabe depois do meu expediente? — eu sugeri com um toque de ironia.

Liam apenas assentiu com uma carranca de desagrado, algo compreensível, tendo em vista o fato dele ser um homem que sempre tem seus desejos atendidos.

— Estarei aqui, então. Até o final do seu turno.

Aquilo me pegou de surpresa e me deixou incrédula, mas eu não podia me deter. Tinha clientes chamando, e era meu trabalho atendê-los. Liam continuou bebericando seu drinque e até pediu mais um, enquanto eu me esforçava para concentrar em meu trabalho, embora sentisse seu olhar sobre mim a noite toda.

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