Resumo
Liam Ricci é um homem arrogante e temperamental. Ele não quer se casar e abandonar a sua vida de conquistas amorosas. No entanto, seu pai exige que ele se case antes de se tornar presidente da empresa da família. Com o prazo para encontrar uma noiva esgotando, Liam está desesperado. Ele procura Cecília, uma ex-funcionária que ele demitiu injustamente, e faz uma proposta inusitada: um casamento de conveniência. O fato de Cecília ser apenas uma faxineira causa polêmica em sua família, exatamente o que Liam desejava, mas que causa muita dor para sua esposa por contrato.
Capítulo 1 - Demissão
Liam
Estou me sentindo como um leão enjaulado, andando de um lado a outro do meu escritório sem conseguir parar. E mais uma vez veio a necessidade de extravasar a raiva de alguma maneira, optei pela mais acessível no momento. Peguei uma garrafa do conhaque favorito do meu pai e joguei contra a parede.
— Droga, droga e droga! — Lancei um copo também contra a parede — Mil vezes droga!
O choque passou e em seu lugar só existe raiva. Muita raiva do meu pai, da minha mãe e, principalmente, do imbecil do meu tio. Tenho certeza de que foi ele que convenceu o meu pai a estabelecer aquelas condições para que eu possa assumir de uma vez por todas a minha fortuna. E continuo sem conseguir acreditar que o meu pai fez isso comigo! O que Frederico está fazendo comigo é chantagem, e das mais ordinárias.
Continuei andando pela sala, agora tomando cuidado para não pisar nos cacos de vidros, até que me senti um pouco mais controlado e liguei para a minha secretária.
— Providencie alguém da limpeza aqui na minha sala — Ordenei sem nem mesmo cumprimentar a mulher do outro lado da linha — Rápido!
Não estava com paciência para gente lenta. Por mais que a minha secretária costuma atender a todos os meus pedidos com grande eficiência, ela não prezava pela agilidade e isso me dava nos nervos.
Sentei em minha cadeira por trás da mesa imponente de diretor geral e desbloqueei o computador. Precisava me preparar para uma reunião com a equipe de gestão de crise. O meu pai não poderia ter escolhido um momento pior para soltar aquela bomba sobre o meu colo.
Alguém bateu à porta nesse instante e imaginei que fosse da limpeza.
— Entra logo! — gritei impaciente.
Não estava errado e logo percebi a entrada de uma garota usando um macacão branco horrível e uma touca na cabeça. Apesar de nunca prestar atenção nas pessoas que cuidam das tarefas básicas da minha empresa, notei que já faz alguns meses que sempre vem a mesma garota cuidar da limpeza da minha sala.
Ela apenas acenou antes de começar o seu trabalho e eu não me dignei a responder ao seu cumprimento. Estava ocupado demais com problemas bem mais importantes que uma funcionária do setor de limpeza.
Continuei analisando alguns relatórios importantes e buscando informações complementares na internet, assim como solicitei por e-mail um laudo do setor jurídico da empresa, tudo isso simultaneamente.
— Já pensou em buscar ajuda? — Uma voz doce e suave falou muito baixo.
Pensei ter ouvido coisas e olhei para a única pessoa na sala além de mim. Não é possível que aquela garota teve a audácia de sugerir que eu preciso de ajuda.
— O que disse? — perguntei, arqueando a sobrancelha.
Encarei a garota, mais uma vez a minha vista gritando socorro diante daquela roupa horrorosa. Ela me olhou parecendo desconfortável, diria até que arrependida por ter falado o que quer que seja, agora de pé juntando os cacos de vidros na pá. Espero que ela não tenha a coragem de repetir.
— O senhor já pensou em procurar ajuda?
Os meus ouvidos não me enganaram e a voz suave e delicada era mesmo daquela garota sem graça. Mas analisando melhor o seu rosto, notei que seus traços não são nada desagradáveis. Não que isso mude alguma coisa. Ela tinha acabado de jogar fora o emprego dela na Loser Inc.
Inclinei o meu corpo de maneira a me apoiar melhor no encosto alto da cadeira de executivo e com toda a tranquilidade que possuo, levei a minha mão ao queixo.
— Você está demitida.
A garota olhou para mim, surpresa estampada em seu rosto. Seus olhos expressavam uma mistura de tristeza e determinação, mas ela não recuou.
— Desculpe, senhor, mas eu só queria ajudar, oferecer uma palavra amiga. Todos passamos por momentos difíceis, e às vezes é preciso reconhecer quando precisamos de ajuda.
Senti um desconforto momentâneo diante da sinceridade em suas palavras. Aquela doçura e empatia que ela demonstrava eram estranhas para mim, acostumado a lidar com pessoas mais duras e assertivas. Por um momento, o pensamento de reavaliar minha decisão passou pela minha mente. Mas a arrogância rapidamente voltou à tona.
— Eu não preciso de palavras amigas de uma faxineira. Cuide dos seus afazeres e não se intrometa em assuntos que não lhe dizem respeito.
Ela abaixou a cabeça, resignada, mas antes de sair, disse:
— Espero que um dia encontre a paz que está buscando.
A porta se fechou atrás dela, e a sala ficou imersa em um silêncio pesado. Eu me esforcei para retomar meu foco nos relatórios, mas as palavras da garota ecoavam em minha mente. O que ela quis dizer com aquilo?
À medida que o dia passava, eu me pegava pensando na funcionária da limpeza. Ao chegar na casa dos meus pais à noite, encontrei meu pai e o meu tio reunidos na sala de estar da mansão e toda a minha tensão e raiva voltaram com força total.
— Espero que tenha pensado na minha sugestão, Liam — Frederico Ricci foi logo dizendo.
— É dessa forma que o senhor classifica o que está me obrigando a fazer? — Perguntei sem titubear — Uma “sugestão”?
— Só estou tentando colocar um pouco de juízo na sua cabeça, meu filho — Apesar das palavras, seu tom não tinha gentileza alguma — Não vou colocar a minha empresa nas mãos de um playboy irresponsável.
— Frederico! — Mamãe disse horrorizada, ao entrar na sala neste momento — Não pode falar dessa forma com o nosso filho.
— Eu já estou acostumado, mamãe — Falei com cinismo — Afinal, foi esse tratamento que recebi durante toda a minha vida, não é mesmo?
Eu amo a minha mãe e ela é o único motivo pelo qual eu ainda continuo visitando aquela casa. Não importa que o grande idiota seja também o meu pai. Eu não confio nele.
— E você, como sempre, está agindo com o costumeiro cinismo — Frederico apontou, levando o seu charuto à boca e tragando-o mais uma vez — Espero que uma esposa consiga amenizar esse temperamento rebelde.
— Por estranho que possa parecer, eu concordo com o Liam — O meu tio Julian também se inseriu na conversa — Não pode colocar uma condição como essa para que ele possa assumir a empresa.
— Ah, por favor, Julian! Não me faça rir — Eu soltei uma risada sarcástica — Você está torcendo para que o meu pai faça exatamente isso. Afinal, se eu não me casar dentro de um mês, a presidência da empresa irá para o Caíque, o seu filho amado.
— Por favor, queridos — Mamãe interferiu na situação mais uma vez — Não vamos entrar em outra discussão sem sentido. Não chegaremos a lugar algum com todas essas acusações.
Julian teve a decência de se manter em silêncio, mas não tenho certeza se foi devido ao que eu falei ou as palavras de mamãe. Julian é irmão do meu pai, mas ele também sabe que mesmo sendo um completo idiota, papai jamais perdoaria alguém que venha a bater de frente com a sua esposa. Isso não deixa de ser uma contradição, quando ele mesmo é um cretino com ela.
Enquanto a tensão continua a pairar no ar, eu olhei ao redor daquela luxuosa sala de estar, sentindo-me sufocado pela pressão e pelas expectativas que minha família depositava sobre mim. Eu não queria ser controlado ou manipulado pelo meu pai.
Aos olhos deles, eu era apenas um playboy mimado e irresponsável, incapaz de assumir a responsabilidade pelos negócios da família.
— Liam, eu entendo que você tenha suas próprias opiniões, mas é hora de amadurecer — meu pai retrucou, sua voz repleta de autoridade — Se você quer ser levado a sério, precisa demonstrar comprometimento e responsabilidade. O casamento é um passo importante nessa direção.
Eu cerrei os punhos, sentindo minha paciência se esgotar. A ideia de um casamento arranjado apenas para garantir meu suposto amadurecimento era insultante.
— Eu não vou aceitar isso, pai — declarei, com firmeza em minha voz — Eu não vou me submeter a um casamento apenas para agradá-lo. Eu tenho minhas próprias metas e minha própria vida para viver.
Minha mãe me olhava com tristeza, parecendo dividida entre seu amor por mim e a lealdade ao meu pai. Ela tentou intervir novamente, mas eu a cortei antes que pudesse falar.
— Melhor eu ir embora — Falei com determinação.
Eu deixei a sala de estar. Preciso de um momento de paz para organizar meus pensamentos e tomar uma decisão. Enquanto caminhava pelos corredores da mansão, minhas emoções se misturavam. Raiva, frustração, mas também uma chama de determinação. Eu não vou perder a empresa que é minha por direito e entregá-la de mãos beijadas ao meu primo Caíque, após anos me dedicando totalmente a Laser Inc.